segunda-feira, 16 de setembro de 2024

USE COMO EPÍGRAFE ESTA FÁBULA DE ANTÔNIO CALLADO

 


"Quando a raposa roubou a flauta do jabuti e correu pelo mato às gargalhadas, de flauta na boca, o jabuti não tentou correr atrás da ladra. Era impossível. Não a pegaria jamais. Foi, ao contrário, catar mel de pau para untar o rabo, sabendo que a raposa adora mel. O jabuti se enterrou no chão deixando de fora só o cu untado de mel. A raposa meteu o dedo, provou, gostou, enfiou a língua, o jabuti apertou. Para livrar a língua do cu do jabuti, a raposa entregou a flauta roubada. 
Moral da fábula: um bom esfíncter vale às vezes por um arsenal inteiro"

(Apud Antônio Callado, in QUARUP).

sexta-feira, 13 de setembro de 2024

BIBLIOTECA: O LIVRO MAIS ANTIGO DO MUNDO

 DIAMOND SUTRA = O LIVRO MAIS ANTIGO


Frontispício do Sūtra do Diamante escrito em chinês, gravado e dourado em jade nefrita. 
China, 1732. Biblioteca Chester Beatty

O primeiro livro de que se tem notícia é “Diamond Sutra”, uma coletânea de textos budistas que os chineses teriam produzido em 868 d.C. A técnica ainda era rudimentar: consistia em entalhar letras em bloquinhos de madeira e depois decalcá-las sobre o papel. O Sutra do Diamante (sânscrito: Vajracchedika Prajnaparamita Sutra), é um pequeno e bem conhecido Mahāyāna sūtra, ou “Perfeição de Sabedoria”, enfatiza a prática do não-apego, do Prajnaparamita.

Uma cópia do Sutra do Diamante, encontrado entre os manuscritos de Dunhuang, no início do século 20, é, nas palavras da Biblioteca Britânica, “o mais antigo livro impresso”. O título conhecido em sânscrito para o Sutra é o Vajracchedika Prajnaparamita Sutra. Em Inglês, formas abreviadas como Diamond Sutra e Sūtra Vajra são comuns. O Sutra do Diamante também tem sido muito apreciado em vários países asiáticos, onde o budismo Mahayana tem sido tradicionalmente praticado. Traduções deste título para as línguas de alguns destes países incluem:

Sânscrito: 

वज्रच्छेदिकाप्रज्ञापारमितासूत्र

Chinês: 

金剛般若波羅蜜多經

Japanese

: : 金刚般若波罗蜜多経

Coreano: 
금강반야바라밀경

Vietnamita: 
Kim Cuong bat-nhem-ba-la-mat-kinh Dja

Tibetano: 
‘phags pa shes rab kyi pha rol tu phyin pa rdo rje gcod pa zhes bya ba theg pa chen po’i mdo

A história do texto não é totalmente conhecida, mas os estudiosos japoneses consideram geralmente o Sutra do Diamante ser de uma data muito antiga na literatura Prajnaparamita. Alguns estudiosos ocidentais acreditam também que aAṣṭasāhasrikā Prajnaparamita Sutra foi adaptada a partir do início Vajracchedika Prajnaparamita Sutra.

A primeira tradução do Sutra do Diamante em chinês foi feita em 401 d.C. pelo venerado e prolífico tradutor Kumarajiva. A tradução Kumarajiva tem sido altamente considerada ao longo dos séculos, e é esta versão que aparece no 868 CE Dunhuang.

A Tradução no estilo de Kumarajiva é distinta, possuindo uma suavidade que flui, que reflete a sua priorização em transmitir o significado em oposição a tradução literal precisa.

O Sutra do Diamante, como muitos sutras budistas, começa com a famosa frase “Assim eu ouvi” (sânsc. evam maya śrutam). Várias metáforas vivas são encontradas no antigo livro, como exemplo:

Todos os fenômenos condicionados

São como sonhos, ilusões, bolhas ou sombras;

Como gotas de orvalho, ou relâmpagos;

Destarte deveriam ser contempladas.

Como o Sutra do Diamante pode ser lido em 40-50 minutos, muitas vezes é memorizado e cantado em monastérios budistas. Este sutra manteve significativa popularidade na tradição budista Mahayana há mais de um milênio. Existe um bloco de madeira impresso (cópia) na Biblioteca Britânica que, embora não seja o exemplo mais antigo de impressão em bloco, é o exemplo mais antigo que tem uma data real.

A cópia existente tem cerca de 16 metros de comprimento, adquirida em 1907 pelo arqueólogo Sir Marc Aurel Stein através de um monge que a estava guardando nas cavernas conhecidas como Grutas no noroeste da China. Isto aconteceu aproximadamente 587 anos antes da Bíblia de Gutenberg.



Fontes:





terça-feira, 10 de setembro de 2024

USE COMO EPÍGRAFE ESTA FRASE DE FRANCIS BACON

 


    “Poesis doctrinae tanquam somnium – a poesia é como um sonho de amor filosófico” 

Francis Bacon, apud Johan Huizinga, in Homo Ludens.

sábado, 7 de setembro de 2024

MÚSICA: OS "VIRUNDUNS"

 



VIRUNDUM É COISA SÉRIA, EMBORA SEJA IMPOSSÍVEL FICAR SÉRIO DIANTE DELE





Sim, na terra em que brotou o clássico indiscutível "trocando de biquíni sem parar" (por "tocando B.B. King sem parar", verso da canção "Noite do Prazer", da banda Brylho), a produção de virunduns é tão vasta quanto variada.

Há quem aprecie a precisão onomástica de "Meu filho Válter Gomes dos Santos/ que é o nome mais bonito" ("Pais e filhos", Legião Urbana) e quem prefira o clima lisérgico de "Ao sair do avião/ Judy pisou num ímã" ("Açaí", Djavan).

Todos têm em comum a incapacidade de reprimir sorrisos quando expostos a versos crus como "Quem sabe a índia assou uma garotinha" ("Malandragem", Frejat e Cazuza, na voz de Cássia Eller) ou "Aí um analista me comeu" ("Divina comédia humana", Belchior).

Consta que o nome "virundum", baseado em "Ouviram do Ipiranga", foi cunhado por Paulo Francis nos tempos do "Pasquim" para nomear o mal-entendido provocado por uma semelhança sonora fortuita. O batismo em inglês veio antes.

Data de 1954 o artigo em que a jornalista americana Sylvia Wright lançou o neologismo "mondegreen", com base num poema popular do século 17 em que o verso "laid him on the green" (deitou-o na grama) é entendido como "Lady Mondegreen". A confusão é intraduzível, claro. Virunduns sempre são.

O importante é registrar que Wright foi, até segunda ordem, a primeira voz a se levantar em defesa dos mondegreens, sustentando que eles se impõem por serem esteticamente superiores aos versos originais.

Não sei se vou tão longe, por mais que "Scooby-Doo dos sete mares" ("O descobridor dos sete mares", Tim Maia) seja tentador. Quando digo que os virunduns merecem ser levados a sério como fenômeno cultural, penso num argumento semelhante ao que Paulo Rónai usou para defender os trocadilhos em seu livro "Como Aprendi o Português" (Edições de Janeiro).

Inconformado com a fama de "mais baixa forma de humor" que cerca o trocadilho, frequentemente visto por aí em companhia do adjetivo "infame", o erudito húngaro lembrou que ele foi cultivado por grandes escritores, como Shakespeare, e até por Jesus Cristo: "E também eu te digo que tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha igreja".

Não fica nisso. Rónai afirma que "o elemento essencial" do trocadilho é a impossibilidade – ou pelo menos a dificuldade – de traduzi-lo para outros idiomas, o que o torna "ligado à substância íntima de cada língua", como a melhor poesia. O virundum é igual.

Pela amostragem que recolhi, fica uma dúvida sobre quem seria o rei dos virunduns na música brasileira. O candidato mais óbvio é Djavan, que além de receber o maior número de citações é dono de um estilo em que a livre associação e os jogos sonoros fazem com que o próprio original já pareça um mal-entendido.

É preciso respeitar quem abre a porta para virunduns como "Mais fácil apedrejar pôneis em Bali" ("Se...") e "Amarelo deserto e os três tenores" ("Oceano"), além daquele que citei ali em cima.

Mas Djavan tem um grande rival em Belchior, dono de um feito raro — dois belíssimos virunduns na mesma canção. Em "Como nossos pais", encontramos "Mas é você que é mal passado e que não vê" e "Tá em casa, guardado por Deus, cortando fio dental". Duelo de titãs.

Fonte:

Autor: Sérgio Rodrigues

Escritor e jornalista, autor de “A Vida Futura” e “Viva a Língua Brasileira”.

FSP 24.05.2023

quinta-feira, 5 de setembro de 2024

USE COMO EPÍGRAFE ESTA FRASE DE ANAXIMANDRO

 


   “O mesmo princípio (ou seja, o infinito) que está na origem das coisas deve necessariamente ser aquele que as faz perecer. Pois elas precisam expiar e compensar reciprocamente a injustiça que fazem umas às outras, de acordo com a decisão do tempo” 

Anaximandro (a.C. 610 — 546 a.C), apud Johan Huizinga, in Homo Ludens.

quarta-feira, 4 de setembro de 2024

CIDADES: SÃO PAULO NUMA FOTO INCRÍVEL DE 1934

 SÃO PAULO: IMAGEM IMPRESSIONANTE


Esta impressionante imagem foi registrada entre 1934~1936 pelo fotógrafo alemão Erwin Scheu. Após consultar um mapa da época, descobri o único ponto em que seria possível a cena: sobre o ‘Viaduto de Santa Ifigênia’. Em 1º plano, o casario entre as ruas Anhangabaú (vista abaixo) e do Seminário que seria todo demolido para a abertura da atual Avenida Prestes Maia na execução do sistema ‘Y’ do Plano das Avenidas na gestão do prefeito citado acima. À extrema direita [onde vemos um caminhão] a esquina das ruas do Seminário e Brigadeiro Tobias, a antiga Rua Alegre. Clique na foto para ampliar.


Reconheça os pontos assinalados:

(1)Palácio dos Correios.

(2)Prédio Oscar Rodrigues — à direita do Hotel Britânia na São João.

(3)Igreja Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos no Largo do Paissandu.

(4)Prédio Samuel Rochwerger na Rua Capitão Salomão.

(5)Edifício Paissandú no largo homônimo, esquina da Rua Capitão Salomão.

(6)Hotel Victória na esquina da Rio Branco e Antônio de Godoy. Após sua demolição no início da década de 1950, o terreno foi ocupado pelo Edifício Wilton Paes de Almeida — inaugurado em 1968 e sinistrado em 2018.

(7)Torre da Igreja Evangélica Luterana na Rua Visconde do Rio Branco, atual avenida.

(8)Edifício Guajara onde estava o casarão do Brigadeiro Tobias na rua homônima, esquina da Rua do Seminário.


Fonte:

Hilton Takahashi /via facebook

segunda-feira, 2 de setembro de 2024

USE COMO EPÍGRAFE ESTA FRASE DE JONATHAN CRARY

 


     "O fato de passarmos dormindo um bom período da vida, libertos de um atoleiro de carências simuladas, subsiste como uma das grandes afrontas humanas à voracidade do capitalismo contemporâneo" 

- Jonathan Crary, in 24/7 Capitalismo tardio e os fins do sono; p.20

domingo, 1 de setembro de 2024

FRUTA: PARENTE DA JABUTICABA

 

PESQUISADORES DO JARDIM BOTÂNICO DESCOBREM ÁRVORE RARA NO RIO

NOVA ESPÉCIE É "PARENTE PRÓXIMA" DA JABUTICABEIRA

“Parente próxima” da jabuticabeira, Siphoneugena Carolynae tem 7 m de altura 
– Thiago Fernandes/Jardim Botânico


Uma espécie nova de árvore frutífera foi encontrada na área do Monumento Natural Municipal da Pedra de Itaocaia, no município de Maricá, região metropolitana do Rio de Janeiro. A descoberta da Siphoneugena carolynae, uma "parente próxima" das jabuticabeiras, foi feita pelos pesquisadores do Jardim Botânico do Rio de Janeiro (JBRJ) Thiago Fernandes e João Marcelo Braga.

O estudo indica que a árvore de 7 metros de altura é única no mundo. Segundo o pesquisador Thiago Fernandes, apenas um único indivíduo da espécie é conhecido, até o momento.

“É a 13ª espécie do gênero Siphoneugena conhecida até hoje. Coletamos com os frutos verdes ainda. Não conhecemos os frutos maduros, mas podemos prever que são semelhantes às jabuticabas (gênero Plinia), já que são parentes próximos”, contou em texto divulgado pelo JBRJ.

Thiago Fernandes acrescentou que, desde o século 19, a região tem provocado o interesse de naturalistas, inclusive de Charles Darwin. O naturalista, geólogo e biólogo britânico visitou aquela área em 1832 e se hospedou na histórica Fazenda Itaocaia, onde houve a descoberta da espécie.

Para o pesquisador, trata-se de um avanço para a ciência. “Essa nova descoberta é um passo adiante para o conhecimento pleno da flora da Mata Atlântica, que ainda abriga muitas espécies desconhecidas para a ciência. Além disso, demonstra a importância das áreas protegidas para a conservação dessa e de outras espécies raras e com distribuição restrita”, completou.


Frutos da Siphoneugena Carolynae foram colhidos ainda verdes 
- Thiago Fernandes/Jardim Botânico

As expedições de campo no Morro Itaocaia ocorreram entre 2018 e 2023 e, ao longo das fases do desenvolvimento reprodutivo, a espécie foi monitorada periodicamente.

Thiago Fernandes destacou que, desde a graduação, vem realizando estudos com o seu orientador e outros colaboradores e esta não foi a primeira descoberta rara.

“Já fizemos outras descobertas na localidade. Teve uma espécie frutífera que só era conhecida por uma única coleta feita no século 19, que já está no Jardim Botânico em cultivo, e outras duas espécies novas ocorrendo em Itaocaia e Niterói”, afirmou.

De acordo com o JBRJ, o nome científico dado à nova árvore foi proposto pelos pesquisadores em homenagem à pesquisadora da Universidade de Brasília Carolyn E. B. Proença, especialista sênior em Myrtaceae. A escolha foi para marcar a longa carreira de contribuições da pesquisadora para a taxonomia e biologia reprodutiva das espécies dessa família. Carolyn E. B. Proença também contribuiu com a discussão sobre a nova espécie.

“O resultado da pesquisa foi divulgado, em julho último, na revista científica Brittonia, publicação do Jardim Botânico de Nova York, uma das mais respeitadas do mundo”, informou o JBRJ.



Fonte:

Edição: Juliana Andrade