sábado, 28 de setembro de 2024

USE COMO EPÍGRAFE ESTE TEXTO DE CHANTAL MOUFFE

 


Tendo como finalidade ser aceite como legítimo, o conflito necessita adotar uma forma que não destrua a associação política. Isto significa que algum tipo de ligação deve existir entre as partes em conflito, de forma a que não tratem os seus oponentes como inimigos a erradicar, ao considerar as suas exigências ilegítimas, que é exatamente o que acontece na relação antagonista de amigo/inimigo. (…) Se queremos reconhecer, por um lado, a permanência da dimensão conflitual antagonista ao mesmo tempo que, por outro, permitimos a possibilidade de "domesticação", precisamos de perspectivar um terceiro tipo de relação. A este tipo de relação proponho chamar agonismo. Enquanto o antagonismo é uma relação nós/eles na qual as duas partes são inimigas que não partilham qualquer referencial comum, o agonismo é uma relação nós/eles entre partes em conflito que, apesar de admitirem que não existe qualquer solução racional para o seu conflito, reconhecem a legitimidade do seu oponente. São "adversários", não "inimigos". 

(Chantal Mouffe: Charleroi, 17 de junho de 1943; é uma cientista política pós-marxista belga. Desenvolve trabalhos na área da teoria política.)

quarta-feira, 25 de setembro de 2024

CIDADES: JK INAUGURA BRASÍLIA

 

INAUGURAÇÃO DE BRASÍLIA






Brasil ouviu JK

JK se dirige para o palanque do Palácio da Alvorada. A Novacap estimou em 250 mil as pessoas que estavam em Brasília quando ela se tornou a Capital do Brasil. 60 mil eram candangos, 1.000 jornalistas; mais de 1.000 funcionários do Executivo; 1.641 policiais; 23 médicos e 40 enfermeiros, que estiveram em plantão permanente. Alguns aviões da Esquadrilha da Fumaça tornaram a festa mais bonita.

Brasília: um ponta-pé no pessimismo

MUITA gente duvidou que Brasília virasse gente grande. Pessoas como aquêle visitante que murmurou:
- Duvido que fique pronta até o dia da festa!
Mas veio logo a resposta de um brasileiro de fé: Um candango respondeu de pronto:
- Duvide não, môço.
E, realmente, a foto (abaixo) desmente os argumentos pessimistas. Aí está uma boa amostra. Planejamento na base de um plano pilôto que Lúcio Costa traçou e Niemeyer fêz ir pra frente. A cidade do século. Sem cruzamentos.
Brasília, a mais cordial do mundo. Veículos e homens vivem na mais completa harmonia. Sonho de arrojados urbanistas, ela é o encontro com o futuro.



Brasília: volta ao mundo em 24 horas


EM Brasília, dinamismo nunca exclui o bom-gôsto e o arrôjo arquitetônicos. O ritmo de trabalho acelerado não prejudicou em nada a beleza das linhas de edifícios, jardins e praças. Em cada canto há um detalhe ousado para confirmar o grau de arrôjo e inteligência que já fizeram da arquitetura brasileira um tema constante no mundo atual. Os anexos do Congresso demonstram mais uma vez o poder de criação dos arquitetos nacionais. Agora mesmo, as edificações de Brasília estão na ordem do dia em tôda a imprensa mundial. Jornais e revistas, da Europa à Ásia, falam dessa cidade que nasce sob o signo da moderna arte do lápis e do concreto. Brasília está promovendo ainda mais nossa arquitetura.

Cabeça de JK faz o Brasil pensar certo

BRASÍLIA, ainda jovem, já tem a sua história que vem de 1789. Não é, portanto, uma cidade artificial. Sem raízes. Sem planos. Sem ideais. Nasceu de uma idéia que preocupou os Inconfidentes. Tiradentes já sonhara com a instalação de um govêrno independente no interior. Essa interiorização foi tema de muitos homens. José Bonifácio de Andrada foi um fervoroso adepto dessa idéia. Em 1853, o Marquês de Paranaguá. Em 1890, Lauro Müller. Em 34 e 1946, os constituintes. Em 46 nasce a Comissão de Planejamento. Mas, com JK, em 1957, a idéia encontra seu impulsionador dinâmico. E Brasília vira realidade e capital brasileira. O nome Brasília, sugerido, em Assembléia, por Francisco Pereira da Silva, é hoje coisa viva. E tôda a história de Brasília (com opiniões pró e contra) está agora recolhida ao belo museu desta jovem capital.

E o programa chega ao fim

Os festejos de Brasília - a maior promoção mundial do ano - custaram 150 milhões. A parte recreativa incluiu 38 toneladas de fogos de artifício, corrida de barcos e automóveis, concêrto sinfônico (Maestro Eleazar de Carvalho), show gigante seguido de 30 mil m2 de dança popular, parada militar com desfile de candangos e máquinas, baile de casaca com champanha e “n” caixas de uísque, torneio infantil, festival de encerramento, com quadros da história pátria, alegorias de mudanças da nossa Capital, intervalados de Tiradentes, José Bonifácio e outros detalhes risonhos e patéticos. Tudo isso compôs a sinfonia dos que festejam a passagem de novo ciclo da nossa história.



Fonte:

domingo, 22 de setembro de 2024

USE COMO EPÍGRAFE UMA DESTAS FRASES DE JOSÉ EDUARDO AGUALUSA:

 




“A soberba é o chapéu dos nus”.

“A vida é sucessão de eventos extraordinários. Nem sempre os vemos porque estamos distraídos”.

“Quem se dirige a Deus é devoto, quem afirma ouvir a voz de Deus é maluco”.

“Há momentos em que só a dor nos prende à vida.”

“Eu prefiro a unidade na diversidade. Muitas nações, uma só pátria. [...] A maior parte dos países do mundo são compostos por várias nações. O combate contra a diversidade é próprio de um pensamento totalitário”.

(José Eduardo Agualusa, in Barroco Tropical)

quinta-feira, 19 de setembro de 2024

FOTOGRAFIA: PRIMEIRA FOTO BEM SUCEDIDA DO ROSTO HUMANO

 




Essa foto, da senhora Dorothy Catherine Draper, é considerada a primeira foto bem sucedida do rosto humano. Foi realizada por JOHN WILLIAM DRAPER, em 1840.

segunda-feira, 16 de setembro de 2024

USE COMO EPÍGRAFE ESTA FÁBULA DE ANTÔNIO CALLADO

 


"Quando a raposa roubou a flauta do jabuti e correu pelo mato às gargalhadas, de flauta na boca, o jabuti não tentou correr atrás da ladra. Era impossível. Não a pegaria jamais. Foi, ao contrário, catar mel de pau para untar o rabo, sabendo que a raposa adora mel. O jabuti se enterrou no chão deixando de fora só o cu untado de mel. A raposa meteu o dedo, provou, gostou, enfiou a língua, o jabuti apertou. Para livrar a língua do cu do jabuti, a raposa entregou a flauta roubada. 
Moral da fábula: um bom esfíncter vale às vezes por um arsenal inteiro"

(Apud Antônio Callado, in QUARUP).

sexta-feira, 13 de setembro de 2024

BIBLIOTECA: O LIVRO MAIS ANTIGO DO MUNDO

 DIAMOND SUTRA = O LIVRO MAIS ANTIGO


Frontispício do Sūtra do Diamante escrito em chinês, gravado e dourado em jade nefrita. 
China, 1732. Biblioteca Chester Beatty

O primeiro livro de que se tem notícia é “Diamond Sutra”, uma coletânea de textos budistas que os chineses teriam produzido em 868 d.C. A técnica ainda era rudimentar: consistia em entalhar letras em bloquinhos de madeira e depois decalcá-las sobre o papel. O Sutra do Diamante (sânscrito: Vajracchedika Prajnaparamita Sutra), é um pequeno e bem conhecido Mahāyāna sūtra, ou “Perfeição de Sabedoria”, enfatiza a prática do não-apego, do Prajnaparamita.

Uma cópia do Sutra do Diamante, encontrado entre os manuscritos de Dunhuang, no início do século 20, é, nas palavras da Biblioteca Britânica, “o mais antigo livro impresso”. O título conhecido em sânscrito para o Sutra é o Vajracchedika Prajnaparamita Sutra. Em Inglês, formas abreviadas como Diamond Sutra e Sūtra Vajra são comuns. O Sutra do Diamante também tem sido muito apreciado em vários países asiáticos, onde o budismo Mahayana tem sido tradicionalmente praticado. Traduções deste título para as línguas de alguns destes países incluem:

Sânscrito: 

वज्रच्छेदिकाप्रज्ञापारमितासूत्र

Chinês: 

金剛般若波羅蜜多經

Japanese

: : 金刚般若波罗蜜多経

Coreano: 
금강반야바라밀경

Vietnamita: 
Kim Cuong bat-nhem-ba-la-mat-kinh Dja

Tibetano: 
‘phags pa shes rab kyi pha rol tu phyin pa rdo rje gcod pa zhes bya ba theg pa chen po’i mdo

A história do texto não é totalmente conhecida, mas os estudiosos japoneses consideram geralmente o Sutra do Diamante ser de uma data muito antiga na literatura Prajnaparamita. Alguns estudiosos ocidentais acreditam também que aAṣṭasāhasrikā Prajnaparamita Sutra foi adaptada a partir do início Vajracchedika Prajnaparamita Sutra.

A primeira tradução do Sutra do Diamante em chinês foi feita em 401 d.C. pelo venerado e prolífico tradutor Kumarajiva. A tradução Kumarajiva tem sido altamente considerada ao longo dos séculos, e é esta versão que aparece no 868 CE Dunhuang.

A Tradução no estilo de Kumarajiva é distinta, possuindo uma suavidade que flui, que reflete a sua priorização em transmitir o significado em oposição a tradução literal precisa.

O Sutra do Diamante, como muitos sutras budistas, começa com a famosa frase “Assim eu ouvi” (sânsc. evam maya śrutam). Várias metáforas vivas são encontradas no antigo livro, como exemplo:

Todos os fenômenos condicionados

São como sonhos, ilusões, bolhas ou sombras;

Como gotas de orvalho, ou relâmpagos;

Destarte deveriam ser contempladas.

Como o Sutra do Diamante pode ser lido em 40-50 minutos, muitas vezes é memorizado e cantado em monastérios budistas. Este sutra manteve significativa popularidade na tradição budista Mahayana há mais de um milênio. Existe um bloco de madeira impresso (cópia) na Biblioteca Britânica que, embora não seja o exemplo mais antigo de impressão em bloco, é o exemplo mais antigo que tem uma data real.

A cópia existente tem cerca de 16 metros de comprimento, adquirida em 1907 pelo arqueólogo Sir Marc Aurel Stein através de um monge que a estava guardando nas cavernas conhecidas como Grutas no noroeste da China. Isto aconteceu aproximadamente 587 anos antes da Bíblia de Gutenberg.



Fontes:





terça-feira, 10 de setembro de 2024

USE COMO EPÍGRAFE ESTA FRASE DE FRANCIS BACON

 


    “Poesis doctrinae tanquam somnium – a poesia é como um sonho de amor filosófico” 

Francis Bacon, apud Johan Huizinga, in Homo Ludens.

sábado, 7 de setembro de 2024

MÚSICA: OS "VIRUNDUNS"

 



VIRUNDUM É COISA SÉRIA, EMBORA SEJA IMPOSSÍVEL FICAR SÉRIO DIANTE DELE





Sim, na terra em que brotou o clássico indiscutível "trocando de biquíni sem parar" (por "tocando B.B. King sem parar", verso da canção "Noite do Prazer", da banda Brylho), a produção de virunduns é tão vasta quanto variada.

Há quem aprecie a precisão onomástica de "Meu filho Válter Gomes dos Santos/ que é o nome mais bonito" ("Pais e filhos", Legião Urbana) e quem prefira o clima lisérgico de "Ao sair do avião/ Judy pisou num ímã" ("Açaí", Djavan).

Todos têm em comum a incapacidade de reprimir sorrisos quando expostos a versos crus como "Quem sabe a índia assou uma garotinha" ("Malandragem", Frejat e Cazuza, na voz de Cássia Eller) ou "Aí um analista me comeu" ("Divina comédia humana", Belchior).

Consta que o nome "virundum", baseado em "Ouviram do Ipiranga", foi cunhado por Paulo Francis nos tempos do "Pasquim" para nomear o mal-entendido provocado por uma semelhança sonora fortuita. O batismo em inglês veio antes.

Data de 1954 o artigo em que a jornalista americana Sylvia Wright lançou o neologismo "mondegreen", com base num poema popular do século 17 em que o verso "laid him on the green" (deitou-o na grama) é entendido como "Lady Mondegreen". A confusão é intraduzível, claro. Virunduns sempre são.

O importante é registrar que Wright foi, até segunda ordem, a primeira voz a se levantar em defesa dos mondegreens, sustentando que eles se impõem por serem esteticamente superiores aos versos originais.

Não sei se vou tão longe, por mais que "Scooby-Doo dos sete mares" ("O descobridor dos sete mares", Tim Maia) seja tentador. Quando digo que os virunduns merecem ser levados a sério como fenômeno cultural, penso num argumento semelhante ao que Paulo Rónai usou para defender os trocadilhos em seu livro "Como Aprendi o Português" (Edições de Janeiro).

Inconformado com a fama de "mais baixa forma de humor" que cerca o trocadilho, frequentemente visto por aí em companhia do adjetivo "infame", o erudito húngaro lembrou que ele foi cultivado por grandes escritores, como Shakespeare, e até por Jesus Cristo: "E também eu te digo que tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha igreja".

Não fica nisso. Rónai afirma que "o elemento essencial" do trocadilho é a impossibilidade – ou pelo menos a dificuldade – de traduzi-lo para outros idiomas, o que o torna "ligado à substância íntima de cada língua", como a melhor poesia. O virundum é igual.

Pela amostragem que recolhi, fica uma dúvida sobre quem seria o rei dos virunduns na música brasileira. O candidato mais óbvio é Djavan, que além de receber o maior número de citações é dono de um estilo em que a livre associação e os jogos sonoros fazem com que o próprio original já pareça um mal-entendido.

É preciso respeitar quem abre a porta para virunduns como "Mais fácil apedrejar pôneis em Bali" ("Se...") e "Amarelo deserto e os três tenores" ("Oceano"), além daquele que citei ali em cima.

Mas Djavan tem um grande rival em Belchior, dono de um feito raro — dois belíssimos virunduns na mesma canção. Em "Como nossos pais", encontramos "Mas é você que é mal passado e que não vê" e "Tá em casa, guardado por Deus, cortando fio dental". Duelo de titãs.

Fonte:

Autor: Sérgio Rodrigues

Escritor e jornalista, autor de “A Vida Futura” e “Viva a Língua Brasileira”.

FSP 24.05.2023

quinta-feira, 5 de setembro de 2024

USE COMO EPÍGRAFE ESTA FRASE DE ANAXIMANDRO

 


   “O mesmo princípio (ou seja, o infinito) que está na origem das coisas deve necessariamente ser aquele que as faz perecer. Pois elas precisam expiar e compensar reciprocamente a injustiça que fazem umas às outras, de acordo com a decisão do tempo” 

Anaximandro (a.C. 610 — 546 a.C), apud Johan Huizinga, in Homo Ludens.

quarta-feira, 4 de setembro de 2024

CIDADES: SÃO PAULO NUMA FOTO INCRÍVEL DE 1934

 SÃO PAULO: IMAGEM IMPRESSIONANTE


Esta impressionante imagem foi registrada entre 1934~1936 pelo fotógrafo alemão Erwin Scheu. Após consultar um mapa da época, descobri o único ponto em que seria possível a cena: sobre o ‘Viaduto de Santa Ifigênia’. Em 1º plano, o casario entre as ruas Anhangabaú (vista abaixo) e do Seminário que seria todo demolido para a abertura da atual Avenida Prestes Maia na execução do sistema ‘Y’ do Plano das Avenidas na gestão do prefeito citado acima. À extrema direita [onde vemos um caminhão] a esquina das ruas do Seminário e Brigadeiro Tobias, a antiga Rua Alegre. Clique na foto para ampliar.


Reconheça os pontos assinalados:

(1)Palácio dos Correios.

(2)Prédio Oscar Rodrigues — à direita do Hotel Britânia na São João.

(3)Igreja Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos no Largo do Paissandu.

(4)Prédio Samuel Rochwerger na Rua Capitão Salomão.

(5)Edifício Paissandú no largo homônimo, esquina da Rua Capitão Salomão.

(6)Hotel Victória na esquina da Rio Branco e Antônio de Godoy. Após sua demolição no início da década de 1950, o terreno foi ocupado pelo Edifício Wilton Paes de Almeida — inaugurado em 1968 e sinistrado em 2018.

(7)Torre da Igreja Evangélica Luterana na Rua Visconde do Rio Branco, atual avenida.

(8)Edifício Guajara onde estava o casarão do Brigadeiro Tobias na rua homônima, esquina da Rua do Seminário.


Fonte:

Hilton Takahashi /via facebook

segunda-feira, 2 de setembro de 2024

USE COMO EPÍGRAFE UMA DESTAS FRASES DE JONATHAN CRARY

 


     "O fato de passarmos dormindo um bom período da vida, libertos de um atoleiro de carências simuladas, subsiste como uma das grandes afrontas humanas à voracidade do capitalismo contemporâneo" .

  
“Hoje são raros os momentos significativos da existência humana (com exceção do sono) que não tenham sido permeados ou apropriados pelo tempo de trabalho, pelo consumo ou pelo marketing”. 

“... a inovação no capitalismo consiste na simulação contínua do novo, enquanto na prática as relações de poder e de controle permanecem as mesmas”. 

 “A morte, em seus muitos disfarces, é um dos subprodutos do neoliberalismo: quando as pessoas já não têm mais nada a perder, sejam recursos ou força de trabalho, elas se tornam simplesmente descartáveis”. 

 “Na medida em que a oportunidade de transações eletrônicas de todo tipo se torna onipresente, desaparecem os vestígios do que costumava ser a vida cotidiana livre de intrusões corporativas”. 


“No capitalismo 24/7, qualquer forma de sociabilidade que ultrapasse o mero interesse individual está condenada ao desparecimento – e as relações interpessoais que constituem a base do espaço público se tornam irrelevantes para nosso isolamento digital fantasmagórico”. 

- Jonathan Crary, in 24/7 Capitalismo tardio e os fins do sono.

domingo, 1 de setembro de 2024

FRUTA: PARENTE DA JABUTICABA

 

PESQUISADORES DO JARDIM BOTÂNICO DESCOBREM ÁRVORE RARA NO RIO

NOVA ESPÉCIE É "PARENTE PRÓXIMA" DA JABUTICABEIRA

“Parente próxima” da jabuticabeira, Siphoneugena Carolynae tem 7 m de altura 
– Thiago Fernandes/Jardim Botânico


Uma espécie nova de árvore frutífera foi encontrada na área do Monumento Natural Municipal da Pedra de Itaocaia, no município de Maricá, região metropolitana do Rio de Janeiro. A descoberta da Siphoneugena carolynae, uma "parente próxima" das jabuticabeiras, foi feita pelos pesquisadores do Jardim Botânico do Rio de Janeiro (JBRJ) Thiago Fernandes e João Marcelo Braga.

O estudo indica que a árvore de 7 metros de altura é única no mundo. Segundo o pesquisador Thiago Fernandes, apenas um único indivíduo da espécie é conhecido, até o momento.

“É a 13ª espécie do gênero Siphoneugena conhecida até hoje. Coletamos com os frutos verdes ainda. Não conhecemos os frutos maduros, mas podemos prever que são semelhantes às jabuticabas (gênero Plinia), já que são parentes próximos”, contou em texto divulgado pelo JBRJ.

Thiago Fernandes acrescentou que, desde o século 19, a região tem provocado o interesse de naturalistas, inclusive de Charles Darwin. O naturalista, geólogo e biólogo britânico visitou aquela área em 1832 e se hospedou na histórica Fazenda Itaocaia, onde houve a descoberta da espécie.

Para o pesquisador, trata-se de um avanço para a ciência. “Essa nova descoberta é um passo adiante para o conhecimento pleno da flora da Mata Atlântica, que ainda abriga muitas espécies desconhecidas para a ciência. Além disso, demonstra a importância das áreas protegidas para a conservação dessa e de outras espécies raras e com distribuição restrita”, completou.


Frutos da Siphoneugena Carolynae foram colhidos ainda verdes 
- Thiago Fernandes/Jardim Botânico

As expedições de campo no Morro Itaocaia ocorreram entre 2018 e 2023 e, ao longo das fases do desenvolvimento reprodutivo, a espécie foi monitorada periodicamente.

Thiago Fernandes destacou que, desde a graduação, vem realizando estudos com o seu orientador e outros colaboradores e esta não foi a primeira descoberta rara.

“Já fizemos outras descobertas na localidade. Teve uma espécie frutífera que só era conhecida por uma única coleta feita no século 19, que já está no Jardim Botânico em cultivo, e outras duas espécies novas ocorrendo em Itaocaia e Niterói”, afirmou.

De acordo com o JBRJ, o nome científico dado à nova árvore foi proposto pelos pesquisadores em homenagem à pesquisadora da Universidade de Brasília Carolyn E. B. Proença, especialista sênior em Myrtaceae. A escolha foi para marcar a longa carreira de contribuições da pesquisadora para a taxonomia e biologia reprodutiva das espécies dessa família. Carolyn E. B. Proença também contribuiu com a discussão sobre a nova espécie.

“O resultado da pesquisa foi divulgado, em julho último, na revista científica Brittonia, publicação do Jardim Botânico de Nova York, uma das mais respeitadas do mundo”, informou o JBRJ.



Fonte:

Edição: Juliana Andrade