domingo, 30 de junho de 2024

MEIO-AMBIENTE: BAOBÁ – MISTÉRIOS REVELADOS POR CIENTISTAS

 CIENTISTAS REVELAM MISTÉRIO POR TRÁS DOS ANTIQUÍSSIMOS BAOBÁS, AS ÁRVORES DA VIDA




A espécie é conhecida como "a árvore da vida" ou "a árvore de cabeça para baixo" por suas formas e longevidade, respectivamente

 

Cientistas afirmam ter resolvido o mistério em torno da origem dos antigos baobás.

 De acordo com análises de DNA, as árvores teriam surgido pela primeira vez em Madagascar, há 21 milhões de anos.

 Suas sementes foram posteriormente transportadas por correntes oceânicas para a Austrália e para a África continental, evoluindo para espécies distintas.

 Os pesquisadores estão pedindo maiores esforços de conservação para as árvores, que eles dizem que podem estar mais próximas da extinção do que se pensava anteriormente.

 Baobás são conhecidos como "a árvore da vida" ou "a árvore de cabeça para baixo" por suas formas e longevidade. As mudanças climáticas e o desmatamento generalizado estão colocando a existência delas em risco.

 A doutora Ilia Leitch, do Royal Botanic Gardens do Reino Unido, trabalhou no estudo ao lado do marido, o professor Andrew Leitch, da Queen Mary University of London.

 "Conseguimos identificar a origem dos baobás, que são uma espécie icônica e chave, que serve de apoio para uma grande diversidade de animais e plantas, além de humanos", disse ela à BBC.

 "E os dados nos permitiram fornecer novos entendimentos importantes que informarão a conservação para proteger o futuro delas."

 Os pesquisadores estudaram oito espécies de baobá, seis delas encontradas em Madagascar, uma espalhada por toda a África e outra no noroeste da Austrália.

 Eles estão pedindo um status de conservação mais alto para duas espécies de Madagascar ameaçadas de extinção, incluindo a maior e mais famosa delas, o baobá gigante.

 Os baobás são considerados umas das árvores mais notáveis do mundo, profundamente entrelaçadas com as culturas e tradições dos lugares onde existem.

 Eles também são conhecidos como "mãe da floresta" na língua de Madagascar, a "árvore de cabeça para baixo" e "árvore da vida".

 As árvores podem viver por milhares de anos, atingindo grandes dimensões e armazenando grandes quantidades de água em seus troncos para sobreviver durante secas.

 

Fruto de um baobá: os frutos dos baobás são grandes e considerados um superalimento

 Os frutos dos baobás são considerados um superalimento e o tronco pode ser usado para produzir fibras para fazer cordas ou roupas.

 Os baobás produzem grandes flores brancas que se abrem ao anoitecer, atraindo morcegos como polinizadores, que viajam grandes distâncias para se alimentar de seu néctar, além de serem importantes locais de nidificação para aves.

 A pesquisa, publicada pela revista Nature, envolveu a colaboração entre o Jardim Botânico de Wuhan (China), o Jardim Botânico Real (Kew, Reino Unido), a Universidade de Antananarivo (Madagascar) e a Universidade Queen Mary de Londres (Reino Unido).

 

 O BAOBÁ DO RECIFE

 


O famoso Baobá da Praça da República, em frente ao Palácio do Governo Estadual, é uma árvore originária da África, cuja exuberância e robustez de seu tronco é peculiar, tendo ainda um curioso nome científico: "Adansonia Digitada". Este magnífico exemplar foi tombado pelo Instituto Brasileiro de Desenvolvimento Florestal em 1986.


Helen Briggs

Correspondente de Meio Ambiente

21 maio 2024

 https://www.bbc.com/portuguese/articles/cq55r9398p9o

quinta-feira, 27 de junho de 2024

CIÊNCIA: PARIS E O CHARLATANISMO NO SÉCULO XVIII - MESMERISMO E HOMEOPATIA

 O SÉCULO DOS CHARLATÕES



Mesmerism



Paris é uma festa, diz o título em português do livro em que Ernest Hemingway (1899-1961) descreve suas experiências na capital francesa cem anos atrás, na década de 1920. O autor, ganhador do Nobel de Literatura de 1954, registra a presença na cidade de artistas e intelectuais da América e de diversas partes da Europa, lançados à deriva pela I Guerra Mundial: a Geração Perdida.

Esse magnetismo parisiense, que atraía para lá tanto gênios legítimos quanto os apenas excêntricos e ainda os impostores mais descarados, não surgiu com a Grande Guerra, no entanto.

Cerca de cento e cinquenta anos antes da “festa móvel” de Hemingway – em linhas gerais, nos cem anos compreendidos entre 1740 e 1840 – a Cidade Luz foi o paraíso dos charlatões e dos embusteiros audazes. Por lá passaram imortais, alquimistas, curandeiros – e muitos deles viveram muito bem, jantando nos salões da aristocracia, drenando a fortuna de nobres preocupados com o segredo da vida eterna e servindo de confidentes para altos funcionários do Estado, ou mesmo para o rei (enquanto havia rei: o Século dos Embusteiros abraça a Revolução Francesa).

A era foi inaugurada, em grande estilo, pelo Conde de Saint-Germain (c. 1690-1784). Essa figura misteriosa surge primeiro na Inglaterra, como músico e compositor. Horace Walpole (1717-1797), político e escritor inglês mais conhecido por ter lançado a moda do terror gótico com seu romance “O Castelo de Otranto”, menciona, em uma de suas cartas de 1745...

“Um homem estranho, que usa o nome de Conde de St. Germain. Ele tem estado por aqui nos últimos dois anos, e não diz quem é, ou de onde vem, mas afirma que não usa seu verdadeiro nome. Canta, toca o violino maravilhosamente, compõe, é louco e não muito sensato. Dizem que é italiano, espanhol, polonês; alguém que se casou com uma grande fortuna no México e fugiu para Constantinopla com as joias da esposa...”

Walpole acrescenta que esse “homem estranho”, preso por suspeita de espionagem, já havia sido solto, mas não tinha deixado Londres, “o que me convence de que não se trata de um cavalheiro”.

Trezentos anos

Encontramos Saint Germain em Paris, bem estabelecido e em bons termos com o rei Luís XV (1710-1774) e sua amante, Madame de Pompadour (1721-1764), em 1758. Algumas cartas da década anterior, porém, sugerem que ele já tinha acesso à corte de Versailles muito antes, em 1748 ou 1749. Uma hipótese sobre sua identidade é de que seria um nobre da Transilvânia, fugindo de perseguição movida pelo Império Austro-Húngaro. A ideia é defendida pelo compositor Johan Franco (1908-1988) em um influente artigo publicado em 1950. Contra isso, pesa a objeção de que se tornar famoso como mago, alquimista e imortal, ainda mais na alta sociedade parisiense, não parece um modo muito prático de permanecer incógnito.

Em suas volumosas memórias, o famoso sedutor Giacomo Casanova (1725-1798) refere-se a Saint-Germain como o “rei dos impostores e charlatões, que afirmava, de modo tranquilo e confiante, ter mais de trezentos anos de idade, conhecer os segredos da Medicina Universal, possuir o domínio da natureza, ser capaz de derreter diamantes, moldando, a partir de dez ou doze pequenas gemas, um único grande diamante da mais fina água”.

O próprio Casanova encaixa-se muito bem na paisagem da Paris dos Grandes Charlatões. Mais famoso por suas aventuras sexuais, o veneziano não hesitava em apelar para a magia quando o que estava em jogo era a simpatia (e o dinheiro) de uma dama da sociedade. Casanova insinuou-se como mago e alquimista para conquistar as graças da rica viúva Jeanne Camus de Pontcarré, marquesa d’Urfé (1705-1775).

O sedutor escreve que, depois de impressioná-la com um truque de cabala e numerologia, “deixei-a, levando comigo seu coração, sua alma, sua mente e o pouco de bom senso que ela ainda tinha”.

A marquesa acreditava que, por ser mulher, jamais conseguiria dominar todos os segredos das artes místicas, e por isso desejava produzir um filho homem em que sua alma pudesse reencarnar. Casanova concordou em ajudá-la, mas procrastinou a realização do “ritual” de fertilização por anos a fio – nesse meio tempo, extraindo dela favores, dinheiro e auxílio. A cerimônia foi finalmente realizada em 1763, e a marquesa rompeu relações com o veneziano pouco depois.

Magia magnética

Foi nesse clima cultural que o médico alemão Franz Anton Mesmer (1734-1815) estabeleceu-se em Paris, cerca de 15 anos depois das aventuras de Casanova com a marquesa e menos de uma década antes dos escândalos envolvendo outro grande charlatão místico, o Conde Cagliostro (1743-1795).

(Alessandro di Cagliostro, na verdade um falsário e impostor siciliano, cujo verdadeiro nome era Giuseppe Balsamo, criou para si uma persona que era uma versão hiperbólica, operística, do tipo estabelecido pelo Conde de Saint Germain. Suas aventuras não cabem todas neste espaço, mas voltaremos a falar dele em breve.)

Mesmer dizia ter descoberto uma nova foça da natureza, o “magnetismo animal”, que seria uma manifestação do mesmo fluido universal responsável por produzir a força da gravidade e o ferromagnetismo: um poder sutil com o qual ele se propunha a, ao manipular os fluxos do “fluido magnético” nos corpos de seus pacientes, curar doenças nervosas (isto é, mentais ou psicossomáticas) “diretamente” e males físicos “indiretamente” (a despeito desse “disclaimer” original de Mesmer, publicado em 1779, nos anos seguintes o magnetismo animal passou a ser promovido pelo lema “uma só doença, uma só cura”).

O poder magnético podia ser emitido pelos dedos do terapeuta, influenciando diretamente o paciente. Também seria possível saturar certas substâncias, como água, com ele. Entre os postulados do médico, encontram-se:

“A ação [do fluido] faz-se sentir à distância, sem o auxílio de corpos intermediários; é intensificada e refletida por espelhos, assim como a luz. É comunicada, intensificada e propagada pelo som. Esse poder magnético pode ser estocado, concentrado e transportado”.

É difícil, se não impossível, saber até que ponto Mesmer enganava-se a si mesmo tanto quanto enganava seus pacientes. Mas a decisão de se mudar para a Paris dos aventureiros e da nobreza ansiosa por mágica e fantasia veio depois de seu fracasso na tentativa de usar o magnetismo animal para curar a cegueira da pianista e compositora Marie-Thérèse Paradis (1759-1824), uma protegida da imperatriz da Áustria.

Mesmer apresentava-se mais como homem de ciência do que do oculto, mas vivia-se uma época de fronteiras fluidas. Saint Germain, por exemplo, aparentemente tinha um interesse sincero no que poderia ser chamado de química industrial, convencendo Luís XV e, depois, o príncipe dinamarquês Karl de Hesse-Kassel (1744-1836) a estabelecer laboratórios para a produção de tintas e tinturas.

As transformações de perspectiva trazidas pela nova filosofia do Iluminismo e pelos avanços científicos e tecnológicos da nascente Revolução Industrial tornavam muito fácil confundir realidade e ficção. Em seu clássico “Mesmerism and the End of the Enlightenment in France” (“Mesmerismo e o Fim do Iluminismo na França”), o historiador Robert Darnton nota que, em 30 de abril de 1784, o “Journal de Paris” noticiava “a perda de um elemento”: depois de milênios de predomínio da teoria de que tudo na natureza era feito de quatro elementos fundamentais – água, fogo, terra e ar – o químico Antoine Lavoisier (1743-1794) e o matemático Jean Baptiste Meusnier (1754-1793) haviam demonstrado que a água era “na verdade, ar” (isto é, composta de dois gases – que hoje chamamos de oxigênio e hidrogênio).

Se gases – fluidos invisíveis – eram capazes de produzir água, por que não curar doenças? Mesmer logo se tornou uma sensação em meio à aristocracia parisiense.

Para atender ao máximo possível de pacientes de uma vez, Mesmer criou salas onde havia grandes tanques de água “magnetizada”, e dos quais partiam hastes metálicas (essa é a imagem que ilustra este artigo). As salas eram decoradas com luzes, espelhos e as sessões, acompanhadas por música. Os pacientes mais próximos dos tanques seguravam diretamente as hastes com uma das mãos, e com a mão livre tocavam uma das mãos de outros, mais afastados, que por sua vez seguravam as mãos de outros e esses, de mais outros. Cordas presas aos tanques também percorriam a sala, e envolviam os corpos de pacientes. Desse modo, a “corrente magnética” atravessava dezenas de pessoas, numa atmosfera de alta carga emocional, causando convulsões, choro, gargalhadas, gritos – e, em alguns casos, supostamente, curas.

O teste

Mas toda festa uma hora acaba, e em 1784 o rei Luís XVI, talvez incomodado pelo caráter escandaloso e orgiástico das sessões mesméricas, encomendou um relatório sobre magnetismo animal, estabelecendo uma comissão formada, entre outros, por Lavoisier e Benjamin Franklin (1706-1790), então embaixador dos Estados Unidos na França e, na época, uma das maiores autoridades vivas em eletricidade.

O relatório que a comissão produziu é um marco na história do pensamento crítico e da evolução do método científico. Stephen Jay Gould (1941-2002) afirma, em seu ensaio clássico sobre o caso (“The Chain of Reason versus The Chain of Thumbs”, ou “A Cadeia de Raciocínio contra a Corrente de Polegares”), que Lavoisier provavelmente organizou os trabalhos e redigiu o relatório final, enquanto Franklin ficou encarregado de criar e conduzir experimentos.

Logo de saída, a comissão adotou a postura metodológica de determinar não se curas estavam acontecendo nas sessões de magnetismo, mas se o magnetismo existia. A razão era clara: curas podem ter várias causas, incluindo tratamentos paralelos e o próprio curso normal da natureza, mas se o magnetismo animal não existisse, ele certamente não poderia ser causa de nada. Ou, nas palavras da comissão: “o magnetismo animal pode existir e ser inútil, mas certamente não pode ser útil caso não exista”.

Os experimentos definitivos envolveram o que hoje chamaríamos de cegamento: às vezes os voluntários acreditavam estar sendo magnetizados, mas não estavam; às vezes acreditavam que não havia nada de magnético no ambiente, mas na verdade estavam bebendo água magnetizada, ou em contato com materiais magnetizados.

Com esse trabalho, ficou evidente que o que causava as crises, convulsões, choros e supostas “curas” não era o hipotético magnetismo animal, mas o estado de crença dos pacientes. A conclusão do relatório: “Imaginação sem magnetismo animal produz convulsões. Magnetismo animal sem imaginação não produz nada”.

Mesmer havia se recusado a participar dos testes, dizendo que a comissão deveria contentar-se em falar com seus pacientes satisfeitos, rejeitando a metodologia proposta. Essa recusa em submeter-se aos termos da investigação de Lavoisier antecipa a falácia das “diferentes epistemes”, tão comum na medicina alternativa dos dias de hoje.

A tarefa de representar a escola do magnetismo animal perante a ciência acabou delegada a seu principal discípulo, o médico Charles d’Eslon, ou Deslon (1750-1786).

O resultado frustrante dos testes da comissão levou a acusações várias, muito choro e ranger de dentes. Mas, com o apoio do rei, o relatório teve difusão ampla e marcou o início da decadência do mesmerismo enquanto prática chique, da moda.

Depois da festa

Mais ou menos na mesma época em que o relatório da comissão sobre magnetismo animal era elaborado, o Conde Cagliostro caía em desgraça na sociedade parisiense, não por causa de suas pretensões místico-esotéricas, mas por ter sido acusado de participação no Caso do Colar de Diamantes, uma tentativa de envolver a rainha Maria Antonieta (1755-1793) num esquema rocambolesco, que incluía um cardeal e duas prostitutas, para fraudar um rico joalheiro.

E assim podemos imaginar que o caso de amor de Paris com os Grandes Embusteiros da Idade da Luzes havia chegado de vez ao fim. Mas não. Um bom baile de gala tende a produzir um rastro de eventos menores – como os convidados de uma festa de casamento que, após o fechamento do salão, resolvem esticar a noite no boteco da esquina.

No caso de Paris, a esticada mais evidente foi a chegada à cidade do pai da homeopatia, Samuel Hahnemann (1755-1843), em 21 de junho de 1835 (Mesmer havia morrido na Suíça vinte anos antes). Hahnemann passaria lá seus últimos anos de vida, atendendo às aflições das damas da alta sociedade – o médico favorito dos ricos e famosos – e construiu uma grande fortuna basicamente receitando e vendendo placebos, prova de que a lição metodológica básica da comissão sobre magnetismo animal – de que é preciso separar efeitos reais de coincidências e de produtos da imaginação – não havia sido aprendida (como não foi até hoje, haja vista o número impressionante de pessoas que acredita que suas experiências pessoais com este ou aquele tratamento provam alguma coisa).

A inclusão de Mesmer e Hahnemann no rol de protagonistas do Século dos Charlatões pode soar controversa. Casanova e Cagliostro obviamente estavam lá para se aproveitar da credulidade alheia. Saint Germain talvez mentisse apenas para se proteger, mas certamente mentia, e tinha consciência disso. Já magnetismo animal e homeopatia parecem elaborações sinceras.

A questão é que, no frigir dos ovos, sinceridade conta muito pouco. As vítimas sofrem do mesmo jeito, e a exploração, intelectualmente desonesta, da fragilidade emocional e cognitiva de deslumbrados e desesperados é a mesma, os “sinceros” ficam ricos e famosos a despeito da dor de suas vítimas, mesmo que involuntárias. A verdade é que já passou da hora de parar de perdoar megalomania irresponsável e vaidade desabrida sob o pretexto de que é tudo feito “com boas intenções”.





Fonte:


Carlos Orsi é jornalista, editor-chefe da Revista Questão de Ciência, autor de "O Livro dos Milagres" (Editora da Unesp), "O Livro da Astrologia" (KDP) e coautor de "Ciência no Cotidiano" (Editora Contexto), ganhador do Prêmio Jabuti, e "Contra a Realidade" (Papirus 7 Mares)

segunda-feira, 24 de junho de 2024

LINGUAGEM: ORIGEM DO "SERÁ O BENEDITO?"




O BENDITO DO ‘SERÁ O BENEDITO’

Bendito seja quem não compartilha pseudoetimologias. O problema é que algumas já estão tão enraizadas na tradição popular que fica difícil até para os profissionais identificarem o que é lenda e o que é verdade. Eita, mas será o Benedito?

‘Será o Benedito?’ é uma expressão usada para exprimir contrariedade ou surpresa. É como dizer um ‘mas que diabos!’, ‘mas que coisa’ e outras locuções menos publicáveis. Conhecemos o significado, o problema é saber quem é esse tal Benedito. Por que ‘Benedito’ e não ‘Bartolomeu’, ‘Berenice’, sei lá?

Benedito é um nome que já foi muito mais popular no Brasil. Seu auge de batismos, segundo o IBGE, foi na década de 1950, quando registraram-se cerca de 54 mil Beneditos. Na década de 2000, só 2.500.

Antigamente, na maioria dos casos (assim como foi o de meu pai, o Dito), o nome de batismo era dado à criança em devoção a São Benedito, santo católico do século XVI.

São Benedito é italiano, mas sua origem é norte-africana. Ele tinha a pele escura e por isso era Chamado de ‘São Benedito, o Mouro’ e ‘São Benedito, o Negro’. No Brasil colonial, portanto, muitos escravos negros lhe veneravam e pediam proteção.

Um Benedito negro que ficou famoso foi Benedito Caravelas (1805–1885), conhecido como Benedito Meia-Légua. Ele foi um quilombola da região de São Mateus, no Espírito Santo, líder de várias insurgências contra a escravidão e os aristocratas. Meia-Légua conseguiu fugir de várias capturas e buscas, virando uma lenda e um herói da resistência negra no Brasil.

Até aí, tudo bem, confere. O duro é a internet atribuir a Benedito Meia-Légua mais do que se deve. Num fenômeno que não é recente, mas tomou grandes proporções nos últimos tempos, várias páginas de fora e dentro das redes sociais têm compartilhado uma história em que se atribui a origem da expressão ‘será o Benedito?’ a Benedito Meia-Légua.

Sem fontes nem evidência, um único texto, copiado e colado aos montes, sem escrutínio algum, alega que, no Brasil escravista, quando se ouviam notícias de revoltas de escravos, logo se questionava “mas será o Benedito”. Acompanhado ao texto, aparece uma foto em preto e branco de um homem negro de barba grisalha trajando capa e chapéu, que seria o tal Meia-Légua.

A foto original, no entanto, é de autoria do fotógrafo alemão Alberto Henschel, da década de 1860. Henschel foi um dos pioneiros da fotografia brasileira e fez uma série de fotos de habitantes negros de Recife, Pernambuco – bem longe do Espírito Santo. Para a atribuição da expressão, não existe nenhum documento antigo, apenas do século XX em diante.

Antes dessa história ganhar holofotes na internet, até então, a explicação mais famosa é a que o famoso fraseologista Deonísio da Silva apresenta em seu livro ‘De onde vêm as palavras’ (2014). Deonísio fala sobre a especulação que se fazia sobre a nomeação do intendente de Minas Gerais, em 1933, quando Getúlio Vargas governava o Brasil. Cogitavam Benedito Valadares, um político tido como inculto, porém intuitivo e modesto. Sua simplicidade fazia a população se questionar quem seria o novo governador mineiro: “Mas será o Benedito?”

Acontece que há registros da expressão antes da nomeação de Valadares (que virou nome de cidade mineira em 1938). O professor Jean Lauand, da Feusp, publicou um artigo, em 2020, apresentando a verdadeira origem de ‘mas será o Benedito?’.

Valadares se tornou governador em 1933, mas em 1931 já tocava nas rádios uma marchinha de Carnaval muito popular na época, ‘Será o Benedicto?’: “Benedicto, Benedicto/ [...] quando passares pela rua/ Gritando: pipoca e amendoim torrado/ Todas as meninas vão perguntar:/ Será o Benedicto?”. A pergunta do versinho final caiu na boca do povo e se popularizou e passou a ser usada como exclamação em situações de incerteza.

Como eu disse, Benedito era um nome muito comum até primeira metade do século passado, digno de aparecer nas canções populares. A expressão vem de uma marchinha antiga, pouquíssimo conhecida, e só... Associar a expressão, sem evidência alguma, a Benedito Meia-Légua ou a Benedito Valadares é associar a história de dois importantes Beneditos brasileiros a uma fantasia que corrói suas importâncias históricas.




Fontes:


Referência: ‘‘Será o Benedito?’, ‘Conto do Vigário’ etc. – Desmascarando falsas explicações sobre a origem de expressões populares’, de Jean Lauand, na revista ‘Convenit Internacional’ (set.–dez., 2020).

Foto: Alberto Henschel/Convênio Instituto Moreira Salles – Leibniz-Institut für Länderkunde (1869).

Sugestões: Felipe Monteiro e Nyll Louie-Alicê.

sexta-feira, 21 de junho de 2024

SOCIEDADE: O BEIJO - ESCULTURA EM HOMENAGEM A OLAVO BILAC - E O MORALISMO DA SOCIEDADE PAULISTANA

 



BEIJO ETERNO (FRAGMENTO DO MONUMENTO A OLAVO BILAC)





VESTIREMOS TODAS AS OUTRAS ESTÁTUAS NUAS DA CIDADE

Karen Steinman Martini




O Idílio, ou Beijo Eterno, é um fragmento escultórico, integrante do Monumento a Olavo Bilac. Composto pela figura de um casal nu se abraçando, composto por um homem branco e uma indígena, o fragmento é um dos monumentos que mais foi instalado e reinstalado por São Paulo, perambulando por um período de 31 anos e colocado em mais de 5 locais distintos.

Em 1915, Bilac discursou na Faculdade de Direito do Largo de São Francisco, em São Paulo, defendendo um programa de reforma das práticas políticas nacionais. O episódio inspirou a criação de associações patrióticas, entre elas, a Liga Nacionalista, fundada em 1916, e fez com que o poeta se tornasse uma figura importante para alunos da instituição. Essa relação entre Bilac, a criação da Liga e a Faculdade de Direito explica, em parte, a proeminência do Centro Acadêmico XI de Agosto, organização estudantil da Faculdade de Direito do Largo de São Francisco, no financiamento da obra.

Após um breve período no qual o monumento foi elogiado após sua instalação em 1922, iniciou-se uma campanha contra a obra e a favor de sua demolição. A campanha contra o monumento a Bilac, nessa fase, tinha mais a ver com motivações políticas e estéticas. Não existem registros de que, na década de 1920, alguém tenha se escandalizado com o fato de a dupla, que era apenas parte do conjunto maior do monumento, estar nua. Em fevereiro de 1935, o jornal a Gazeta anunciou a retirada do monumento da Avenida Paulista em virtude de obras urbanas: “O gesto do prefeito Fábio Prado somente merece aplausos (…)”. Na época, a previsão era de que ele fosse reinstalado no parque D. Pedro II. No entanto, ele foi fragmentado em diversos pedaços que foram levados para o Depósito Municipal da Várzea do Carmo.

MORALISMO E REJEIÇÃO


Segundo reportagem do jornal O Estado de S. Paulo na época, os fragmentos Beijo Eterno e Caçador de Esmeraldas foram instalados na entrada do colégio estadual Fernão Dias Paes, em Pinheiros. No entanto, pouco tempo depois, o Beijo Eterno voltaria para o depósito, após mobilização de pais de estudantes que consideraram a figura como “imoral”. Em 1953, quando Jânio Quadros, ex-aluno da Faculdade de Direito do Largo São Francisco, assumiu o cargo de prefeito de São Paulo, resolveu reinstalar alguns fragmentos do monumento e levou o Beijo Eterno para o Largo do Cambuci, um de seus redutos eleitorais. Neste local, mais uma vez, o monumento gerou uma mobilização de moradores do bairro que organizaram um abaixo-assinado para sua retirada, alegando que o fragmento atentava contra os bons costumes. Dez anos depois, em 1966, o então prefeito José Vicente Faria Lima decidiu instalar O Beijo Eterno na entrada do túnel da avenida 9 de Julho, chamado pelo jornal O Estado de São Paulo como “o lugar das estátuas malditas” por agregar um longo histórico de monumentos rejeitados pelo público. Novamente não foi diferente. O vereador Antonio Sampaio, membro da Arena, de porte de um abaixo-assinado organizado por senhoras residentes da avenida 9 de Julho, realizou um inflamado discurso na Câmara, clamando pela retirada da obra vista como “obra do demônio, um verdadeiro escândalo”.

A rejeição recorrente da obra, e as reações suscitadas nos diferentes locais nos quais foi instalada, nos leva a questionar o que compõe esses bons costumes postos em risco pelo monumento, sempre em relação ao seu “teor sexual”. O monumento, inclusive, se tornou um exemplo costumeiro do docente de Medicina Legal da Faculdade de Direito do Largo São Francisco como indicativo de impotência sexual, “já que o homem (francês) resistia às provocações da sensual mulher sem qualquer reação”. Para alguns pesquisadores, esta rejeição revela uma outra camada de preconceitos presentes na sociedade da época, pelo fato de a escultura ser lida popularmente como o retrato de um relacionamento entre uma indígena e um europeu. “Não se tem informação de que o artista queria retratar um beijo inter-racial entre uma índia e um branco, mas foi assim que a obra ficou conhecida. E isso foi tratado de maneira preconceituosa na imprensa. A Gazeta chamou a personagem de ‘bugre’, uma palavra pejorativa para se referir aos indígenas” relata a historiadora Helena Barbuy.


No entanto, pouco antes de a obra ser removida da entrada do túnel da avenida 9 de Julho, em 18 de outubro de 1966, para adentrar os depósitos mais uma vez, ela foi sequestrada por estudantes da Faculdade de Direito do Largo São Francisco e transportada para o ‘território livre’ da Faculdade. Em uma reportagem do jornal O Estado de S. Paulo, publicada no dia seguinte à ação, os alunos acrescentam uma ameaça: “se a estátua “Idílio” for retirada do Largo São Francisco, vestiremos todas as outras estátuas nuas da cidade e colocaremos aliança nas que representam pessoas abraçadas”. Para estes, o monumento remetia à própria história da instituição da qual faziam parte, com seu papel na implantação original do monumento, representando também uma atitude de resistência a um discurso moralista presente na sociedade da época, poucos anos após o golpe militar de 1964. Ali, no território livre da Faculdade de Direito a escultura estaria protegida, e é onde ela se encontra desde então. Segundo o jornal universitário a gazeta arcadas, a ação é “um marco histórico para os estudantes da Faculdade de Direito, para lembrarmo-nos do que somos, e do que devemos ser.”



REFERÊNCIAS




XI de Agosto quer a estátua. O Estado de São Paulo, 19 out de 1966.
​​Helena Barbuy. As Esculturas da Faculdade de Direito. Ateliê Editorial, 2017.










FONTE:

terça-feira, 18 de junho de 2024

GENEALOGIA: DEPOIS DE TATARANETO VEM O QUÊ?


DESCUBRA A ORDEM DOS GRAUS DE PARENTESCO

(John Singleton Copley - The Copley Family-1776-1777)
 

Depois de tataraneto vem o quê? Essa é uma pergunta comum para aqueles que estão interessados em descobrir mais sobre sua genealogia. O tataraneto é o quarto nível na árvore genealógica, mas muitas pessoas não sabem o que vem depois.

De acordo com vários dicionários, o próximo nível após o tataraneto é o tetravô ou o tataravô, que é o pai do trisavô ou da trisavó. Então, a sequência correta seria: avô, bisavô, trisavô, tataravô ou tetravô. É importante lembrar que cada família pode ter sua própria maneira de se referir aos seus antepassados, mas essa é a ordem geralmente aceita.

Embora muitas pessoas pensem que a genealogia termina após o tataraneto, ainda há muito mais a ser descoberto. A pesquisa genealógica pode continuar com os bisnetos, que são os filhos dos netos. É possível descobrir mais sobre a história da sua família e aprender sobre seus antepassados, incluindo suas origens e tradições.

Definição de Tataraneto

Tataraneto é um termo utilizado para se referir ao quarto grau de parentesco descendente de uma pessoa. Ou seja, é o filho do trineto ou da trineta, neto do bisneto ou da bisneta, e assim por diante. É importante destacar que o tataraneto é o último nível na genealogia familiar, mas isso não significa que a pesquisa genealógica termine aqui.

A palavra “tataraneto” tem origem ibérica e existe também em espanhol, onde é conhecida como “tataranieto”. De acordo com o Dicionário Infopédia da Língua Portuguesa, a palavra é formada a partir do prefixo “tata”, que significa “pai”, e do sufixo “neto”, que indica descendência.

É comum que as pessoas tenham curiosidade sobre a ordem dos graus de parentesco descendente. Em realidade, o tataraneto é o quarto dos netos, nesta ordem: neto, bisneto, trineto, tataraneto. No entanto, em vários dicionários, “tataravô” aparece como variante de “tetravô”, pai do trisavô ou da trisavó. O trisavô é que é o pai do bisavô ou da bisavó.

Em resumo, o tataraneto é um termo utilizado para se referir ao quarto grau de parentesco descendente de uma pessoa. É importante destacar que a pesquisa genealógica pode continuar além do tataraneto, e existem várias maneiras de continuar a descobrir informações sobre os ancestrais mais distantes.

Depois de Tataraneto

Na genealogia familiar, a busca pelos antepassados é uma atividade que pode ser muito interessante e enriquecedora. É comum surgirem dúvidas sobre os termos usados para descrever as relações familiares em diferentes gerações. Uma das perguntas mais frequentes é: depois de tataraneto, vem o quê?

A resposta é que depois de tataraneto, a próxima geração é a dos bisnetos. Os bisnetos são os filhos dos netos e estão na quarta geração da família. A sequência de parentesco completa é a seguinte:
(Danny Ratcliff - We Family Love)


· Avô/Avó

· Bisavô/Bisavó

· Trisavô/Trisavó

· Tataravô/Tataravó (ou tetravô/tetravó)

· Pentavô/Pentavó

· Hexavô/Hexavó

· Heptavô/Heptavó

· Octavô/Octavó

· Nonavô/Nonavó

· Decavô/Decavó

Vale lembrar que esses termos podem variar de acordo com a região e a cultura. Em algumas regiões, por exemplo, é comum usar o termo quinta-avó/quinto-avô no lugar de pentavô/pentavó.

É importante ressaltar que a genealogia familiar não se limita a traçar a árvore genealógica até os tataranetos. A pesquisa pode continuar para descobrir mais sobre os antepassados e sua história. Existem diversas ferramentas e recursos disponíveis para ajudar na busca por informações sobre a família, como arquivos públicos, registros religiosos e sites especializados em genealogia.

Em resumo, depois de tataraneto, vem a geração dos bisnetos. Conhecer a sequência completa de parentesco pode ser útil para entender as relações familiares e se aprofundar na história da família.

Estrutura Familiar Brasileira

A estrutura familiar brasileira é caracterizada por uma multiplicidade de vínculos e uma enorme cadeia interligada de direitos e deveres. Apesar disso, a lei pouco trata sobre essa estrutura familiar, o que pode gerar ambiguidade de compromissos.

Termos Comuns

Os termos mais comuns para designar os graus de parentesco na estrutura familiar brasileira são:

· Avô/Avó

· Pai/Mãe

· Filho/Filha

· Neto/Neta

· Bisneto/Bisneta

· Trineto/Trineta

· Tataraneto/Tataraneta

Termos Raros

Existem alguns termos raros que são utilizados para designar os graus de parentesco na estrutura familiar brasileira, como:

· Proavô/Proavó: pai/mãe do bisavô/bisavó

· Tetraneto/Tetraneta: filho/filha do trineto/trineta

· Pentaneto/Pentaneta: filho/filha do tataraneto/tataraneta

· Hexaneto/Hexaneta: filho/filha do pentaneto/pentaneta

É importante ressaltar que, apesar de pouco utilizados, esses termos raros podem ser necessários em pesquisas genealógicas ou em situações específicas.

Em resumo, a estrutura familiar brasileira é caracterizada por uma multiplicidade de vínculos e uma enorme cadeia interligada de direitos e deveres. Os termos mais comuns para designar os graus de parentesco são avô/avó, pai/mãe, filho/filha, neto/neta, bisneto/bisneta, trineto/trineta e tataraneto/tataraneta. Além disso, existem alguns termos raros, como proavô/proavó, tetraneto/tetraneta, pentaneto/pentaneta e hexaneto/hexaneta, que podem ser necessários em situações específicas.

Contexto Histórico

A pesquisa genealógica é uma prática antiga, que remonta a muitos séculos atrás. Desde os tempos antigos, as pessoas têm se interessado em saber mais sobre suas origens e raízes familiares. No passado, a genealogia era uma atividade exclusiva de reis, nobres e aristocratas, que usavam a pesquisa genealógica para rastrear suas linhagens e provar sua ascendência.

Com o tempo, a genealogia se tornou uma atividade mais acessível e popular. Hoje em dia, muitas pessoas em todo o mundo se dedicam à pesquisa genealógica, usando uma variedade de fontes, como registros civis, registros religiosos, cemitérios, bibliotecas e museus.

No Brasil, a pesquisa genealógica teve um grande impulso no século XX, com a criação do Arquivo Nacional, em 1838, e a publicação de vários livros e periódicos especializados em genealogia. Hoje em dia, muitos brasileiros se interessam pela pesquisa genealógica, buscando informações sobre seus antepassados e construindo suas árvores genealógicas.

A pesquisa genealógica é uma atividade fascinante e desafiadora, que pode levar a descobertas surpreendentes e emocionantes sobre nossas origens e raízes familiares. Com o avanço da tecnologia e a digitalização de muitos registros históricos, a pesquisa genealógica se tornou mais fácil e acessível do que nunca.

Implicações Socioculturais

(African Family Journey(abstract) Painting)

A sequência de parentesco que vem após o tataraneto é uma questão que pode parecer simples, mas que tem implicações socioculturais bastante interessantes. Em algumas culturas, a importância dos antepassados é muito valorizada, e a definição de parentesco pode ter um papel central na organização da sociedade.

Por exemplo, entre os índios iroqueses, que ocupavam parte do território norte-americano, a filosofia da Sétima Geração era muito importante. Essa filosofia dizia que todas as decisões deveriam ser tomadas pensando nas consequências que elas teriam até a sétima geração, ou seja, nas consequências que elas teriam para os antepassados e para os descendentes até sete gerações no futuro.

Dessa forma, a definição de parentesco era fundamental para a organização social dos iroqueses. Eles tinham uma série de termos diferentes para se referir aos parentes, dependendo do grau de parentesco. Esses termos eram muito precisos e permitiam que as pessoas soubessem exatamente qual era o seu lugar na sociedade.

No entanto, é importante notar que a definição de parentesco não é fixa e imutável. Ela pode variar de acordo com a cultura e com o contexto social. Por exemplo, em algumas culturas, os laços de parentesco são mais importantes do que em outras. Em algumas culturas, a família nuclear é mais valorizada do que a família extensa.

Em resumo, a definição de parentesco é um tema complexo e que tem implicações socioculturais importantes. A sequência de parentesco que vem após o tataraneto pode variar de acordo com a cultura e com o contexto social, e é importante entender essas variações para compreender melhor a organização da sociedade.

Conclusão

Em resumo, a sequência de parentesco após o tataraneto é composta por pentaneto, hexaneto, heptaneto, octaneto, enaneto, decaneto, unodecaneto, duodecaneto, e assim por diante. Esses termos indicam a quinta, sexta, sétima, oitava, nona, décima, décima primeira, décima segunda, e assim por diante geração descendente em linha reta.

É importante ressaltar que esses termos podem variar dependendo da região e da cultura. Alguns países e culturas podem ter suas próprias terminologias para descrever a sequência de parentesco. No entanto, a sequência mencionada acima é amplamente utilizada em todo o mundo.

Além disso, é interessante notar que o termo “tataraneto” tem origem no idioma espanhol, derivado de “tatara” que significa “quatro vezes”. Portanto, o tataraneto é o quarto neto em linha reta descendente.

Em conclusão, a sequência de parentesco após o tataraneto é composta por uma série de termos que indicam a geração descendente em linha reta. Embora esses termos possam variar de acordo com a região e a cultura, a sequência mencionada acima é amplamente utilizada em todo o mundo.




Fonte:




 

 

sábado, 15 de junho de 2024

HISTÓRIA: LONDRES - A ESTAÇÃO DE SÃO PANCRAS, A ESTAÇÃO DO POETA



A ESTAÇÃO DO POETA


Escultura por Martin Jennings - 2007 (imagem Wikimedia Commons)



Moacir Pimentel


A estátua de Sir John Betjeman na estação de São Pancras é uma das mais fotografadas de Londres. Além de escritor, jornalista e radialista ele foi um dos poetas laureados ingleses. Um poeta laureado é aquele assim definido, oficialmente, pelo governo, no caso, o britânico. Mas o termo vem de longe, das coroas de louro com as quais, na Grécia antiga, eram homenageados os heróis.

Desde então o termo “laureado” e as coroas têm sido oferecidos a poetas romanos, medievais, dos séculos XVII e XVIII, sendo notória, inclusive, uma noite no final do inverno de 1778, quando os espectadores entusiasmados com Irène, a tragédia de autoria de François-Marie Arouet, mais conhecido pelo pseudônimo de Voltaire, no sexto ato não se contiveram, subiram no palco e coroaram-no como o poeta da Comédie Française. A Grã Bretanha apenas seguiu uma velha tradição.

Durante os felizes dias que passou em Londres, a escritora Helene Hanff não pôde conhecer, no piso superior da Estação Internacional São Pancras a estátua de bronze de Sir John, olhando maravilhado ao seu redor e, principalmente, para as milhares novas vidraças e para o telhado que permitem que a luz natural inunde todo o enorme espaço. Projetada pelo escultor britânico Martin Jennings, a estátua de dois metros de altura comemora a campanha bem sucedida do poeta na década de 1960, para salvar a estação da demolição.

Infelizmente para a Helene, a estação só passou a hospedar o poeta ao ser reinaugurada, depois de muitos anos de reformas, em 2007, quando o primeiro trem de alta velocidade, o Euroestar - que leva pouco mais de duas horas para completar o trecho Londres/Paris, pouco menos de duas até Bruxelas e uma hora e trinta minutos até Lille e vice e versa! - deslizou pela estação e parou a poucos passos de uma outra escultura de um jovem casal abraçado.



Meeting Place - escultura por Paul Day - 2007 (imagem Wikimedia Commons)


Projetada pelo artista britânico Paul Day, a obra se chama Meeting Place – Ponto de Encontro - e foi concebida para evocar, do alto de seus três metros de altura, o romantismo das viagens ferroviárias. Só que, em vez, causou controvérsia quando da adição posterior, feita pelo artista, de um friso de bronze em baixo relevo ao redor do seu rodapé, descrevendo entre centenas de outras figuras, um passageiro caindo nos trilhos à frente de um trem que avança dirigido pelo “Grim Reaper”, o apelido da Velha Senhora naquelas paragens. Para mim , no entanto, o friso é o melhor da festa.

Essa estação ferroviária que foi inaugurada em 1876 para conectar Londres com algumas das principais cidades da Inglaterra é uma das maravilhas da engenharia e da arquitetura gótica vitorianas e sua história de decadência, restauração e renascimento é uma lição para todos nós porque é uma mentira cabeluda que se tenha que escolher entre o antigo e o novo. Grandes e velhos e belos edifícios como essa estação estão pedindo - pelamordedeus! - para serem aproveitados.

A Estação de São Pancras e o seu vizinho Midland Grand Hotel são hoje considerados verdadeiros monumentos, um revival do design vitoriano e uma homenagem aos seus criadores, o engenheiro William Henry Barlow e o arquiteto George Gilbert Scott. Toda a magnificência da São Pancras reflete o pensamento do seu tempo em relação ao design e a operação de uma estação ferroviária: a plataforma se apoia em oitocentas e cinquenta colunas de ferro fundido que juntamente com os arcos do telhado resultam em um espaço de trinta metros de altura, setenta de largura e duzentos de comprimento. O teto de ferro foi copiado em todo o mundo, inclusive na Grand Central Station de Nova York.



Fotografia: Maocir Pimentel


Quando foi inaugurada no século XIX São Pancras era uma das portas de entrada mais importantes de Londres. Mas os ataques aéreos nazistas atingiram duramente a estação e, após a guerra, ela passou a ter um futuro incerto à medida que o transporte rodoviário assumia o controle. Em 1948, vários projetos para amalgamar as estações do norte de Londres - Euston, São Pancras e King’s Cross - tornaram-se uma possibilidade real.

Em 1966, as propostas de demolição dessas estações foram colocadas sobre a mesa dos poderosos. No entanto, a voz do poeta laureado John Betjeman, um feroz defensor da arquitetura vitoriana, se levantou conclamando a nação a defender “esse conjunto de torres e pináculos vistos lá do monte Pentonville delineados contra um pôr-do-sol nebuloso e o grande arco do galpão do trem.”

Embora o poeta já estivesse resignado a perder a guerra ao descrever o edifício como “muito lindo e muito romântico para sobreviver”, eis que, de repente, apareceu a cavalaria na forma da Sociedade Vitoriana de Londres e, um ano depois, a estação foi elevada à categoria de patrimônio histórico, com a mesma classificação do Castelo de Windsor.

Preservada, para ela uma nova possibilidade de futuro surgiu quando o governo de plantão, em 1993, decidiu ampliá-la e modernizá-la para que passasse a receber os comboios de alta velocidade que cruzariam o Túnel do Canal da Mancha. São Pancras foi praticamente duplicada por seis novas plataformas para que pudesse dar conta dos trens internacionais, além dos domésticos e do metrô.




Fotografia: Moacir Pimentel


Hoje, sofrendo a concorrência das companhias aéreas de baixo custo, São Pancras não é apenas uma estação de trem, onde se começa ou termina uma viagem, mas um destino em si, uma atração turística. É engraçado como um lugar por onde passam mais de cinquenta milhões de criaturas a cada ano consiga manter a sua reputação de um dos pontos de encontro mais românticos do mundo, ideal para o pecado da gula. Pelo menos no restaurante que leva o nome do poeta.

Creio que os franceses que desembarcam dos trens Eurostars não têm do que reclamar quanto os menus, pois não encontrarão um Burger King ou McDonald's em nenhum lugar nesta catedral arquitetônica de aço e vidro. Muito ao contrário, tem bistrô, brasserie, champanheria, ostras, arenque defumado com molhos variados, cordeiro de Herefordshire, e, last but not least, cogumelos selvagens com torradas para os remediados terceiro mundistas que escolhem o que comer na coluna à direita (rsrs)

Lá se encontram uma filial da livraria Foyles - outro velho símbolo londrino persistente! - e um quiosque – não sei se temporário! - que nos pareceu um primo legítimo do emblemático Borough Market. Tudo isso no piso superior, diretamente sob o telhado e as colunas do Barlow, cada uma capaz de suportar cinquenta toneladas de peso, gloriosamente preservadas e para as quais, como o Sir John, a gente não se cansa de olhar.

Na verdade o piso inferior da estação foi concebido para armazenar toda a cerveja que se bebia na Londres vitoriana. Tanto que, nos seus escritos, o poeta afirma que o engenheiro Barlow dizia que tudo o que estava construindo na estação tinha sido planejado a partir das medidas de um barril de cerveja (rsrs)




Fotografia: Moacir Pimenel

No entanto, as palavras do poeta e dos ferozes defensores da estação ainda parecem apropriadas hoje e são compreendidas com mais intensidade do que nunca, pois São Pancras, mais uma vez, se tornou um emblema nacional vivo:

“A estação destila a essência do poder vitoriano pois é a mais magnífica construção comercial da época, refletindo mais completamente do que qualquer outra seus orgulho e poder econômico e sua tecnologia triunfante impregnados de romance “.

Mas, já que escrevia para crianças, a Helene conheceu outra estação ferroviária e mais um dos personagens preferidos do Reino Unido. Trata-se do Urso Paddington, o famoso personagem literário infantil, um imigrante de chapéu e sobretudo nos trinques vindo do Peru que, criado por Michael Bond em 1958, foi assim batizado porque na historinha ele é encontrado pela boa família Brown em um dos bancos da estação de Paddington com um bilhete pendurado no pescoço no qual se podia ler: “Por favor, tome conta deste ursinho. Obrigado!”

Como mostra o desempenho de venda do best-seller, nunca antes naquele país tantos cuidaram tanto de um “dimenor” abandonado (rsrs) O livro do Urso Paddington - que é viciado em sanduíches de marmelada! - vendeu muitos milhões de cópias, virou desenho animado e se transformou em um dos ícones da cultura inglesa, antes de ser eternizado sentado em cima da sua mala marrom, como uma estátua que hoje mora na estação que lhe deu o nome.

Quem mais virou bronze ou mármore literários? Lord George Gordon Byron no Hyde Park e Peter Pan nos Jardins Kensington e Shakespeare na praça Leicester e... calma, chegaremos lá em outras conversas.



Fonte: