quinta-feira, 29 de maio de 2025

CITAÇÕES: USE COMO EPÍGRAFE ESTA FRASE DE ZYGMUNT BAUMAN



“Aquele que busca a sobrevivência assassinando a humanidade de outros seres humanos sobrevive à morte de sua própria humanidade.” 

Zygmunt Bauman, in “Amor líquido – sobre a fragilidade dos laços humanos”, tradução de Carlos Alberto Medeiros,

segunda-feira, 26 de maio de 2025

CIÊNCIA: EINSTEIN E A EQUAÇÃO E=mc² - QUASE UMA TRAGÉDIA GREGA

 


Em uma revista de cinema, o entrevistador perguntou a Cameron Diaz se havia alguma coisa que ela gostaria muito de saber. “O que E=mc² realmente significa”, respondeu ela. O entrevistador riu, ela resmungou que estava falando sério e a entrevista terminou. Nós, leigos, fingimos que entendemos a equação e nem mesmo instruções em primeira mão ajudam, conta Chaim Weizmann, que fez uma longa travessia pelo Atlântico com Einstein em 1921: “Ele me explicava sua teoria todos os dias e logo tive a impressão de que ele a entendia”. Quem preparou o caminho para que Einstein chegasse ao mais brilhante insight (o segundo mais brilhante, por coincidência, é dele também) de muitos séculos, ou, talvez, descobriremos um dia, da história da humanidade?



David Bodanis, em E=mc² – Uma biografia da equação que mudou o mundo e o que ela significa, deixa de lado os foguetes, lanternas e diagramas incríveis e conta a história da equação desde seu nascimento, seus antepassados: homens e mulheres apaixonados por física, química e matemática. Guerras de egos, roubos de ideias e –uma constante– o total desprezo de acadêmicos consagrados pelas ideias originais de amadores. A história toda acaba por se tornar mais prazerosa do que tentar entender os meandros da genial mente de Albert, e o "como funciona" da famosa equação deixo para o dia em que eu verdadeiramente entendê-la.

Einstein em 1912

Einstein não era um aprendiz humilde e exemplar. Questionava a autoridade de professores, contava piadas nas aulas, isto, quando estava presente. Há aquela famosa profecia do seu professor de gramática grega do curso secundário: “O senhor nunca chegará a ser alguém na vida” (anos depois, a irmã de Albert, Maja, comenta ironicamente que ele realmente nunca foi “alguém” mesmo, pois nunca foi mestre em gramática grega). Quando a equação nasceu, Albert cumpria expediente no escritório de patentes em Berna, na Suíça, um emprego arranjado pelo amigo Marcel Grossman – as referências do gênio eram péssimas. As horas trabalhavam contra ele e, quando saía, a única biblioteca de ciências da cidade estava fechada, nem sequer podia se manter em dia com as últimas descobertas (o que foi sua grande sorte, assim como John Forbes Nash Jr., Nobel de Economia, que se manteve longe do pensamento acadêmico tanto quanto do “da moda”, sempre em busca da tal “ideia original”, fato que havia acontecido no passado com Michael Faraday). Em minutos livres, rabiscava nas folhas que guardava em seu departamento de física teórica as ideias que tinha –o “departamento de física teórica” era como ele chamava uma pequena gaveta de sua mesa, fechada a maior parte do tempo.


O Nascimento de E=mc²


Numa das longas caminhadas que Albert fazia com o amigo Michele Besso, nas quais normalmente tagarelavam sobre música e a rotina do escritório, na primavera de 1905, Besso percebeu que o amigo estava inquieto. Einstein sentia que muitas coisas em que pensara nos últimos meses estavam finalmente fazendo sentido. Estava muito perto de entender, a excitação mental era enorme naquela noite. No dia seguinte, compreendeu. E=mc² tinha chegado ao mundo.

Quem esteve por trás disso tudo antes da chegada de Einstein

Michael Faraday

Michael Faraday vivia na Londres de 1810 e trabalhava como encadernador para fugir da pobreza de filho de ferreiro que era. O emprego tinha uma vantagem, nas palavras dele: “Havia muitos livros lá, e eu os li”. Quando estava com vinte anos, um visitante da oficina ofereceu a ele ingressos para uma série de palestras na Instituição Real. Ouvindo Sir Humphry Davy falando sobre eletricidade e energias estranhas, imaginou uma vida melhor que aquela da oficina. Sem a mais remota possibilidade de entrar em Oxford ou Cambridge, pela pobreza extrema, pensou que poderia usar aquilo que sabia fazer muito bem: encadernar um livro. Redigiu por extenso as notas sobre a palestra de Davy, acrescentou desenhos de seu aparelho de demonstração, pegou seu couro, sovelas e ferramentas de entalhar e os encadernou em um livro extraordinário, que enviou a Sir Humphry Davy. Que, claro, quis conhecê-lo e contratou-o como assistente de laboratório.



Faraday fazia parte de uma seita cristã, os Sandemanistas, que acreditavam em uma relação circular divina. Assim: os seres humanos seriam sagrados e deviam obrigações uns para com os outros, eu ajudarei você e você ajudará o próximo e o próximo ajudará outro ainda, e assim por diante até que se complete o círculo. Seu conhecimento formal era limitado e enquanto os acadêmicos pensavam em linhas retas para explicar a relação entre magnetismo e eletricidade, ele via círculos rodopiando em torno dos imãs. Foi a descoberta do século, a base do motor elétrico. A unificação da Energia. Quando o fio foi arrastado circulando pelo imã, o cunhado de Faraday, George Barnard, contou que nunca pôde esquecer o olhar dele e suas palavras: “Você vê, você vê, você vê, George?”. Os diferentes tipos de energia estavam vinculados, eletricidade e magnetismo, pela mente de um filho de ferreiro de vinte e nove anos. Então, Sir Humphry Davy o acusou de roubar a ideia em denúncias públicas de plágio, que fizeram Faraday enclausurar-se e somente voltar a trabalhar publicamente depois da morte de Davy.

Antoine Laurent Lavoisier

Antoine Laurent Lavoisier era um contador. Trabalhava numa empresa de arrecadação de impostos. Durante uma ou duas horas pela manhã e apenas um dia inteiro por semana (que ele chamava de jour de bonheur, "dia de felicidade") ele trabalhava em sua ciência. Com a ajuda de sua noiva, ele desejava investigar como se comportava um pedaço de metal a queimar ou enferrujar. Queria descobrir se pesava mais ou menos do que antes. (David Bodanis pergunta antes de dizer o resultado o que você, leitor, acha? Um pedaço de ferro-velho pesará: mais; menos; o mesmo? Estamos tão preocupados com as coisas, aquele relacionamento amoroso fracassado, a velocidade de nossa internet, sapatos, o preço da gasolina ou o abdômen que esquecemos os joguinhos de ciência da infância, foi a minha conclusão ao perceber que eu não sabia). Mediram o ar perdido, o metal mutilado, e sempre, o mesmo resultado. Pesava mais. Descobriu que o oxigênio não havia sido queimado e desaparecido para sempre, havia aderido ao metal a mesma quantidade de peso que o ar havia perdido. Foi uma descoberta do mesmo nível da de Faraday, graças a seus dons contábeis, que logo também o matariam.

Jean-Paul Marat (1743-1793)

Jean-Paul Marat havia inventado um aparelho para exame por infravermelho, apresentou-o a Lavoisier, que o rejeitou e convenceu a Academia a fazer o mesmo. Achava que os padrões de calor não poderiam ser medidos da maneira como o médico estava proclamando que fazia. Marat amargou anos de miséria por culpa desta rejeição. Lavoisier continuava sua carreira, tanto na Academia quanto na arrecadação de impostos e teve a ideia de reconstruir um muro ao redor de Paris – havia existido um semelhante em tempos medievais – para que os cidadãos pagassem um pedágio, resultando numa maior arrecadação. O povo odiava o tal muro. Quando a Revolução Francesa começou, Marat fez questão de denunciar e lembrar e relembrar quem o construiu ao povo inflamado pela revolução, usando seu maravilhoso poder de oratória para isso. Vingou-se com todo o ódio que acumulou do homem que tinha a pele bonita dos saudáveis enquanto ele possuía a tez marcada pelas inúmeras doenças da pobreza. Lavoisier morreu na guilhotina em 1794.


Tragédia Grega

Marie Curie, c1920

Há tantas histórias mais: de Lise Meitner que teve o estudo da fissão nuclear roubada pelo ex-amante Otto Hahn; Ole Roemer, jovem astrônomo que não conseguiu convencer o orgulhoso mestre Cassini e a Academia de que a luz não era instantânea; Marie Curie que morre de câncer por tanto estudar a radiação; e, até mesmo Albert Einstein que teve a equação brilhante quase totalmente ignorada porque não se ajustava, na época, ao que os outros cientistas estavam fazendo.

Uma história de vaidades humanas e paixões que fez os maiores avanços científicos de nossa época. Úrsula Iguarán em Cem Anos de Solidão, repetia sempre que sentia a qualidade do tempo mudar, envelhecia e via os dias ficarem mais curtos e as crianças crescerem mais rápido. Eu envelheço e vejo que a qualidade das pessoas mudou. Como tinham paixão! Hoje, vê-se que os tais jovens brilhantes querem fazer faculdade e ser alguém. Ah, querem tanto ser alguém! Nossas capacidades contábeis ainda hão de nos matar como a Lavoisier – sem o glamour da guilhotina. Este livro deu-me mais perguntas do que respostas. Quando o terminei, Albert Einstein (que odiava o esnobismo de Princeton e os amigos ouviam-no sempre dizer: “esta vila de semideuses insignificantes em pernas de pau”) pairava acima da humanidade, com aquele olhar de indulgência com a desgraça e beleza da natureza humana que fez-me levantar os olhos do livro com um meio sorriso e pensar: “gênio, gênio...”.

Vila de semideuses insignificantes em pernas de pau.

Gênio, gênio...

Com a descoberta da lei do efeito fotoelétrico Einstein 
recebeu seu Prêmio Nobel, considerado tardio, em 1921



FONTE:

Autora: Andrea Trompczynski



Nota: as fotos não são do artigo original, mas do autor do blog.

sexta-feira, 23 de maio de 2025

CITAÇÕES USE COMO EPÍGRAFE ESTE TEXTO DE RITA ALMEIDA

 


       
“O sujeito excessivamente moralista e exageradamente preocupado com o erro ou o pecado alheio, ou que faz muita propaganda da própria lisura ou virtuosidade, geralmente é o mais propenso a cometer o pecado que ele regula.

Não se trata de generalização rasa, é pura matemática de gestão da economia libidinal. Simples de entender.

A moral é uma espécie de dique que barra a correnteza de um rio, sendo que o rio é o que carrega nossas pulsões mais primitivas: egoístas, sombrias, violentas e imorais. O processo civilizatório humano consiste no desafio de educar, ordenar e canalizar tal correnteza, para que ela não se torne algo desenfreado a destruir tudo e todos. A moral é um desses ordenadores, mas não o único, é algo semelhante a uma barragem, com suas comportas que se abrem e se fecham, a fim de manter nossas pulsões represadas num nível estável.

O desafio subjetivo que está posto para nós tem a ver com aprender a abrir e fechar nossos diques, de acordo com a necessidade e o contexto, respeitando certos limites compartilhados, mas também evitando represar demais, sob o risco da correnteza estourar em algum momento. Porque caso não encontremos canais regulares para deixar vazar nossas pulsões de maneira razoável ou transformá-las em energia para outras funções que façam laço social, mais dia menos dia isso irá transbordar em sintomas e/ou explodir de forma violenta, atingindo outras pessoas.

O uso excessivo de mecanismos moralistas - e não se trata de moralismo sexual, apenas, a moral excessiva pode servir para regular qualquer tipo de comportamento, desde nossos hábitos cotidianos até a linguagem - é o recurso daquele incapaz de coordenar e cuidar de sua correnteza pulsional. Como lhe faltam ferramentas éticas e simbólicas para dosar a própria moralidade a partir de um pacto compartilhado ou sublimar suas pulsões, ele investe numa couraça exageradamente rígida, apostando que vai segurar a correnteza pelo uso da força. Quanto mais rígida e forte a sua barragem, tanto mais a conter ou a esconder.

Outra questão é que o moralista também está sempre mais interessado em você no que nele mesmo. Ele quer salvar sua alma, te livrar do pecado e do erro, te dizer a forma correta de fazer as coisas, te fazer parar de fumar e melhorar seus hábitos alimentares. É que para conseguir manter os diques dele fechados, precisa garantir que os seus também estejam. Qualquer vislumbre da sua abertura é uma enorme ameaça ao seu esforço em manter as suas pulsões represadas.

Enfim, desconfie do excesso de moralismo, nas gentes, na política, na religião, nas instituições ou quaisquer militâncias e movimentos coletivos. É sintoma de que o que está para emergir ali, a qualquer momento, é exatamente o contrário do que está sendo pregado”. 

- Rita Almeida, Psicanalista

terça-feira, 20 de maio de 2025

COMPORTAMENTO: A MULHER NA CAMA NO TEMPO DAS AVÓS

 

(Edvard Munch - mother and daughter, 1897)

O verdadeiro problema das camas era serem inseparáveis da mais problemática das atividades humanas: o sexo. Dentro do casamento, o sexo era, naturalmente, por vezes necessário. Era permitido às nossas avós participar de intimidades sexuais dentro do casamento, desde que isso fosse feito "sem nenhuma partícula de desejo sexual" como ensinava um manual para jovens de "boa família".

Desejo sexual afetava o feto.



Acreditava-se que o humor da mãe (talvez a autora desejasse dizer "tesão") e seus pensamentos no momento da concepção e durante toda a gravidez afetavam o feto de maneira profunda e irremediável. Os casais eram aconselhados a só ter relações sexuais quando estivessem "em total sintonia" um com o outro, por medo de gerar uma criança defeituosa.

Lições para evitar a excitação.



Para evitar a excitação, de modo geral, as mulheres eram orientadas a respirar ar fresco em abundância, evitar passatempos estimulantes como ler e jogar cartas e, acima de tudo, nunca usar o cérebro mais que o estritamente necessário. Mas a mais obscurantista lição era a de que educar a mulher, inclusive para o sexo, não era simplesmente um desperdício de tempo e de dinheiro, mas algo perigoso e mau para sua constituição "delicada".

Mulher era serventia prática para o marido.

(Frida Kahlo e Diego Rivera)

As mulheres só poderiam receber alguma orientação - nunca educação - para que tivessem serventia prática para os cônjuges, e não mais que isso. Os embrionários movimentos feministas reivindicavam educação. Mas há algo pouco conhecido: o pleito pela educação feminina dizia que elas deveriam ter mais tempo que os moços para arrumar os cabelos. Também há hilariantes "ensinamentos" sobre o sexo. As mulheres não podiam reter o sêmen em seu corpo (não diz em qual parte do corpo, mas certamente era na vagina) pois enriqueceria e revigoraria o cérebro feminino. Mas para o homem, a retenção de sêmen pela mulher, o deixaria enfraquecido, física e mentalmente.

O espermatozoide fraquinho.

Mesmo dentro do casamento era preciso ser frugal com os espermatozoides, pois a atividade sexual frequente produzia um "esperma lânguido", resultando em filhos apáticos. Uma relação por mês era o recomendado como o máximo para garantir a segurança.

Os loucos e loucas que masturbavam.



A masturbação, ou "auto abuso”, como a chamavam, ficava fora de cogitação, especialmente para as mulheres. Suas consequências abrangiam praticamente todas as condições indesejáveis conhecidas pela ciência médica, incluindo a loucura. Para elas, havia um adendo à loucura, a morte prematura. Masturbou, morreu. O diagnóstico da mulher que masturbava era feito observando "infelicidade, mãos trêmulas, palidez e contorções".

Uma explosão!

O orgasmo feminino era praticamente desconhecido. Havia uma descrição de algo que podemos imaginar como orgasmo: "uma explosão, um golpe mortal paralisante". Mas tem outro terror. O vício da masturbação seria automaticamente transmitido para os filhos e filhas. E eles nasceriam com o cérebro "amolecido". Só com coragem heroica uma moça se masturbaria.

A maior vitória feminina não se deu em fábricas ou partidos, foi a conquista de seu próprio corpo. A liberdade de buscar o prazer.

(Brigitte Bardot)


Fonte:

Mário Sérgio Lorenzetto

06/03/2020



Nota: as fotos ilustrativas foram escolhas do blogger e não fazem parte do artigo.


sábado, 17 de maio de 2025

quarta-feira, 14 de maio de 2025

CIDADES: SÃO PAULO - A HISTÓRIA DO PALACETE E EDIFÍCIO CONDE DE PRATES

PALACETE E EDIFÍCIO CONDE DE PRATES



A paisagem urbana de São Paulo está sempre em constante mudança. Esta transformação contínua deixa marcas na cidade que dificilmente são superadas, especialmente pela perda de construções de grande valor arquitetônico.

A bela imagem abaixo, do centro velho de São Paulo, é um exemplo bem prático disso:



Se alguém observar esta foto na internet ou mesmo em um postal sem qualquer referência de onde esta rua está localizada, muito provavelmente a pessoa pode pensar que trata-se de uma foto de Paris, Viena ou qualquer cidade europeia. O espanto se dá quando constatamos que a imagem é da rua Líbero Badaró em 1920.

Dois destes prédios pertenceram ao Conde de Prates e foram construídos conjuntamente em 1911 o que deu a ambos, pelos paulistanos, o apelido de palacetes gêmeos. O projeto dos palacetes e a execução das obras ficaram a cargo dos engenheiros Samuel das Neves e seu filho Cristiano Stockler das Neves, este último o mesmo que projetou a Estação Sorocabana, atualmente Estação Júlio Prestes e Sala São Paulo.

Os palacetes em construção em 1911

Uma vez inaugurados, eles se transformaram em ponto de encontro e de trabalho da elite paulistana, como o próprio Conde Prates, Macedo Soares entre outros.

No prédio da esquerda (foto anterior) o local foi por muito tempo a Câmara Municipal de São Paulo e também a Prefeitura de São Paulo, que em 1951 mudou-se do edifício deixando a câmara ocupando o prédio inteiro. Nesta época o imóvel foi rebatizado como Palacete Anchieta.

Já o outro, mais próximo do Viaduto do Chá e da Praça do Patriarca, foi sede de um dos mais elegantes e famosos clubes da cidade, o Automóvel Club de São Paulo. Em 1921 o Palacete Prates recepcionou e hospedou o então presidente do Brasil, Epitácio Pessoa, que chegou em São Paulo com grande pompa e honrarias.

 Vista do Vale do Anhangabau e Palacete Prates nos anos 1920

Toda elegância e importância de ambos os edifícios não foram suficientes para que fossem preservados. O grande boom do mercado imobiliário e da construção civil que atingiu São Paulo na segunda metade da década de 40 e por toda a década de 50, trataria de abreviar a vida dos palacetes.

Exatos 40 anos depois de ser erguido, o Palacete Prates (o mais próximo ao Viaduto do Chá) seria vendido e demolido, sendo o primeiro a sucumbir. Com a demolição já preparada para começar no final de 1951, começava a ser veiculada nos jornais paulistas o anúncio do que seria erguido no local:



Sua demolição foi um demorada para os padrões atuais, e só foi concluída em meados de 1952. Sai de cena um marco do início do século 20 para dar lugar a então um dos mais modernos prédios da cidade, que seria batizado de Edifício Conde de Prates. A imagem abaixo, mostra a área do palacete em fase final de demolição.

Ao fundo, do outro lado do vale, o Theatro Municipal

Na época em que desapareceu o Palacete Prates até houve um certa debate acerca do fim do imóvel, mas ela foi muito branda e não foi suficiente para fazê-lo ser preservado. A discussão sobre o que era patrimônio histórico ou não em São Paulo ainda demoraria longos anos para ser posta em prática pra valer. Hoje em dia talvez fosse muito difícil demoli-lo.

O novíssimo Edifício Conde de Prates levaria cerca de quatro anos para ser construído. A conclusão das obras e inauguração do arranha-céu ocorreu em 1956.

Moderno e arrojado para o padrão daquela época sua abertura foi um grande evento na cidade, contando com festa de inauguração e benção feita por um padre. Na noite de 9 de julho, data de sua inauguração, o prédio permaneceu totalmente iluminado.


Recorte do jornal Folha da Manhã

O segundo palacete ainda sobreviveria alguns anos mais, sendo desapropriado e demolido em 1959. Mas não sem fazer a Câmara Municipal de São Paulo, que depois de ter deixado o prédio entre 1936 e 1947 voltou ao imóvel, passasse um vexame.




Os dois palacetes foram vendidos no mesmo ano, em 1951. Enquanto um deles foi rapidamente desocupado e demolido no mesmo ano o outro, que abrigava a câmara, foi palco de uma longa novela.

Adquiro pelo Banco Mercantil de São Paulo, o imóvel deveria ser desocupado pelo poder legislativo da cidade até o término do ano de 1952. Era tempo suficiente para procurar outro imóvel para se alojar.

Entretanto não parecia haver pressa nem mesmo preocupação por conta dos vereadores paulistanos e a novela foi se arrastando por anos, até 1958, quando o banco decidiu entrar na justiça pedindo o despejo da Câmara Municipal.

A ação foi julgada pela justiça e alvo de muitos recursos, até que em julho de 1959 saiu a vexatória sentença de despejo para a Câmara Municipal:



Para evitar este episódio vergonhoso para a história da mais antiga instituição política de São Paulo, a câmara mudou-se para outro lugar rapidamente, enquanto iniciava os estudos para a construção de uma sede própria. O Palácio Anchieta, no Viaduto Jacareí, só seria inaugurado 10 anos mais tarde, em 1969.

Uma vez desocupado pelos vereadores o palacete foi rapidamente demolido, dando lugar para o Edifício Mercantil Finasa que está ali até hoje.

Quem observa atualmente a rua Líbero Badaró a partir do Viaduto do Chá, vê uma paisagem completamente diferente daquela vista pelos paulistanos um século atrás:



Na foto acima estão, da esquerda para a direita, os edifícios Grande São Paulo, Mercantil Finasa e Conde de Prates. Entre estes dois últimos é possível observar o Edifício Sampaio Moreira, este que um dia foi o prédio mais alto de São Paulo. Quanta diferença!

Saiba mais:



Eduardo da Silva Prates, o Conde de Prates, nasceu em 1860 na capital paulista. Foi um dos grandes vultos paulistas do final do século 19 e início do século 20.

Empresário voltado aos ramos financeiro, imobiliário e ferroviário, Prates herdou em 1893 a Fazenda Santa Gertrudes, uma das mais importantes produtoras de café no estado. O empresário viu-se neste momento como também um importante cafeicultor.

Sua residência, conhecida como Palacete do Conde Prates, ficava na Alameda dos Bambus (atual avenida Rio Branco) esquina com a alameda Ribeiro da Silba. Sua residência era grandiosa e estendia-se até a rua Guaianases, onde hoje é uma concessionária da Volkswagen. O Conde Prates faleceu em 1928.



FONTE:

Autor: Douglas Nascimento

Jornalista, fotógrafo e pesquisador independente, é presidente do Instituto São Paulo Antiga e membro do Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo (IHGSP).

06/07/2015



domingo, 11 de maio de 2025

CITAÇÕES: USE COMO EPÍGRAFE ESTA FRASE DE UM LIVRO DE JANET SKESLIEN CHARLES

 


       "ATRUM POST BELLUM, EX LIBRIS FUX" 

(Depois da escuridão da guerra, a luz dos livros) 

- in "A biblioteca de Paris", de Janet Skeslien Charles; tradução de Ester Cortegano.

quinta-feira, 8 de maio de 2025

ARTES PLÁSTICAS: SANDRO BOTTICELLI - A HISTÓRIA DE NASTAGIO DEGLI ONESTI

 “A História de Nastagio degli Onesti”




Já por várias vezes me apeteceu publicar esta história que se baseiae num quadro do “Decameron” de Boccaccio, sobre um jovem que não é correspondido no seu amor pela sua amada. Para a convencer, urde um plano terrível que garanta o êxito da empresa que concebe. (Aconselha-se, a quem interessar, fazer uma pequena investigação para melhor compreensão do tema, que aqui tornaria o texto extenso).

Pretendo realçar do ponto de vista da pintura a delicadeza da paisagem irrealista, a sua serenidade. Repare-se nas árvores expostas quase como colunatas, com alguma geometrização. Eis o traço inconfundível do imortal Botticelli.




Sandro é o diminutivo de Alessandro, e Botticelli deriva da alcunha do seu irmão mais velho, Giovanni, conhecido como Il Botticello (o pequeno barril).

Auto-retrato | pormenor do quadro "Adoração dos Reis Magos"
Alessandro di Mariano Filipepi (1445 – 1510)

Entre 1467 e 1470, Botticelli foi aprendiz de Andréa del Verrocchio , na mesma época de Leonardo Da Vinci. Aos 25 anos abriu o seu próprio atelier e recebeu a encomenda de pintar “A Coragem”, para uma instituição judicial florentina.

Dedicou boa parte de sua carreira às grandes famílias dessa cidade-Estado da Toscana, especialmente os Medici, para os quais pintou retratos. Entre outras obras destacam-se “Retrato de Giuliano de Medici” (1475-1476) e “A adoração dos Magos” (1476-1477), obra que o colocou definitivamente sob a protecção dessa importante família, que protagonizava a história de Florença e da Itália na época.

Em 1481, Botticelli foi chamado a Roma pelo Papa Sisto 4º. para trabalhar, junto com Ghirlandaio, Luca Signorelli, Cosimo Rosselli e Perugino, na decoração da capela Sistina. São da sua autoria os frescos “As provações de Moisés, “O castigo dos Rebeldes” e a “Tentação de Cristo”.

As pinturas de Botticelli são marcadas por movimentos suaves e cores vivas. Pintou cenas mitológicas, como “A Primavera” (1477) e “O Nascimento da Vênus” (1483), uma das mais célebres obras do renascimento. Nesse mesmo ano, destaca-se a série de quatro quadros “Nastagio degli Onesti”, recriações das histórias do “Decameron”, de Boccaccio.

Botticelli reflectiu a tensão do período e a devoção religiosa em “Pietá” (década de 1490), “Crucificação Mística” (1497) e “Natividade Mística” (1501)


Fonte:

Autor: Guilherme Antunes

Licenciado em História de Arte | UNL

4 Dezembro, 2016




segunda-feira, 5 de maio de 2025

CITAÇÕES: USE COMO EPÍGRAFE ESTE TEXTO DE IAN BURUMA



“A história é, toda ela, matéria de interpretação. Com frequência as interpretações equivocadas do passado são mais perigosas do que seu desconhecimento”. 

Ian Buruma, in “Ano Zero”, tradução de Paulo Geiger,
in “Ano Zero”, tradução de Paulo Geiger

sexta-feira, 2 de maio de 2025

CULINÁRIA: CUY ASSADO CUSQUENHO



CUY ASSADO CUSQUENHO



O cuy assado é um dos pratos mais consumidos no Peru por visitantes e moradores devido ao seu grande aporte nutricional e sabor. Suas peculiares preparações tornam-no mais atraente e desejado por todos.


O que é o cuy?

O cuy é uma espécie de roedor da família Cavidae, originário das regiões andinas da América do Sul, como Peru, Bolívia, Equador e Colômbia, este animal também é conhecido como cobaya, cuye, guinea pig, porquinho da índia, e cientificamente como Cavia porcellus.

Este pequeno roedor pode pesar até 2,9 kg, seu corpo é largo, coberto de pelos eriçados, lisos, com remoinhos e de diferentes cores, sua cabeça é larga, com orelhas pequenas, suas patas são curtas, cujo número de dedos varia.

O cuy tem uma grande relevância na América Latina, sua criação é muito importante no Peru, principalmente para as famílias peruanas, já que este animal não necessita de muito espaço como outras espécies de gado.

Existem projetos desenvolvidos pelo Estado Peruano que incentivam a criação de cuys, esses projetos podem ter fins econômicos ou para alimentação, uma vez que ajudam a combater a anemia.

A origem do cuy remonta à época incaica para serem consumidos, utilizados em rituais e pratos de celebrações. Seu consumo estava ligado a festas importantes da Mãe Terra (Pachamama). Uma das crenças dizia que se um cuy tinha os olhos vermelhos era sinal de que a família inca ainda não havia terminado de pedir perdão por seus atos.

Atualmente, essas crenças ainda são mantidas com algumas variações, como é o caso de alguns xamãs (pessoa que supõe poderes sobrenaturais) que usam o cuy para "curar" ou "curar o susto".

Valor nutricional do Cuy Peruano

A carne de cuy é muito nutritiva, pois contém aminoácidos e ácidos graxos importantes na nutrição das pessoas. Segundo o Instituto Nacional de Saúde (INS) e o Centro Nacional de Alimentação do Ministério da Saúde (MINSA), a carne de cuy supera em valores nutricionais de outras carnes.

Os valores aproximados que a carne de cuy contém são: proteína 20%; gordura 1,6%; minerais 1,2%, entre os minerais destacam-se cálcio, fósforo, ferro e zinco.



A melhor receita de Cuy Assado



O Peru possui uma grande variedade de pratos típicos, e gastronomia em geral que delicia a nativos e visitantes, o cuy assado é um prato esquisito onde seu sabor e preparação o tornaram muito conhecido.

Existem diversos pratos e preparações, no entanto, um dos mais desejados é o Cuy Assado, as receitas variam de acordo com as regiões e produtos utilizados, aqui apresentamos uma receita fácil de seguir para poder degustar.


Ingredientes:

1 cuy cortado ao meio

dentes de alho moídos

suco de limão e laranja

óleo

cominho

pimenta

huacatay

gengibre moído a gosto

Preparação:

Para preparar o tempero, é necessário um batán (recipiente de pedra onde se moem os produtos), onde se moerão os dentes de alho, gengibre, sal, cominho e folhas de huacatay.

O cuy já depilado, sem vísceras e limpo, é recheado com o tempero preparado por dentro e por fora, depois se adiciona o suco de laranja e limão e finalmente se coloca uma boa quantidade de ramos de huacatay dentro do cuy.

Em uma bandeja se colocam os cuys bem temperados, uma dica é colocar uns palitos para evitar que o cuy grude na bandeja e na hora de servir saiam inteiros, cobre-se a bandeja com papel alumínio e introduz-se no forno previamente aquecido.

Assa-se o cuy por 1 hora e meia para depois virá-lo e retirar o papel alumínio, e colocá-lo no forno para dourar por 15 minutos. (É importante verificar a qualidade do forno e conferir o cozimento).

O cuy pode ser acompanhado de batatas cozidas, torta de batata e mais, macarrão assado e mais.


Onde comer o melhor cuy assado em Cusco?


O cuy é um prato representativo do Peru e suas regiões, por isso é possível encontrá-lo em diferentes restaurantes campestres ao longo da cidade de Cusco, um dos locais mais frequentados é Tipón, onde diferentes restaurantes preparam pratos cusquenhos em variedade.


Outros pratos preparados com Cuy


O Cuy é preparado de maneira diferente em todo o Peru, entre eles podemos distinguir, o Cuy Assado, o Cuy Chactado, Cuy ao Palo, Pepian de Cuy, Pachamanca, etc.

Cuy Chactado



O Cuy Chactado caracteriza-se por sua prepar ação com farinha sobre o cuy já temperado, depois é frito em óleo. Este prato é distintivo da região de Arequipa e é acompanhado com batatas fritas e salada.



Cuy ao Palo



O Cuy ao Palo é uma preparação tradicional dos moradores que não dispõem de um forno, esta preparação caracteriza-se por colocar o cuy em um pau e colocá-lo sobre o fogo até que esteja cozido, pode ser acompanhado de batatas douradas, molho ou tortilhas.


Pepian de cuy




O Pepian de Cuy, ao contrário dos pratos anteriores, é um guisado com milho e carne de cuy, batatas, temperado com cebolas, amendoim, acompanhado de arroz.


Fonte:


18 de abril de 2024