“A arte de ler é, de muitas maneiras, oposta à arte de escrever. Ler é uma arte que enriquece o texto concebido pelo autor, o aprofunda e o torna mais complexo, concentrando-o de modo a refletir a experiência pessoal do leitor e a expandi-la aos mais distantes confins do seu universo, e para além deles. Escrever, em vez disso, é a arte da resignação. O escritor deve aceitar o fato de que o texto final não será mais do que um reflexo borrado da obra que concebeu em sua mente, menos esclarecedor, menos sutil, menos pungente, menos exato. A imaginação do escritor é todo-poderosa, e capaz de sonhar as mais extraordinárias criações em toda a sua almejada perfeição. Depois vem o descenso para a língua, e na passagem do pensamento para a expressão, muito – muito mesmo – se perde. Para essa regra quase não há exceções. Escrever um livro é se resignar ao fracasso, por mais honroso que esse fracasso possa ser.”
Alberto Manguel in Uma história natural da curiosidade.
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