Bathory cresceu numa era em que a
maior parte da Hungria tinha sido conquistada pelas forças turcas do Império
Otomano, sendo o campo de batalha entre exércitos da Turquia e da Áustria
(Habsburgo). A área também ficou dividida por diferenças religiosas. A família
de Bathory se juntou à nova onda de protestantismo que fazia oposição ao
catolicismo romano tradicional. Foi criada na propriedade da família Bathory em
Ecsed, na Transilvânia. Quando criança, era sujeita a doenças repentinas,
acompanhadas de intenso rancor e comportamento incontrolável. Em 1571, seu
primo Stephen tornou-se príncipe da Transilvânia e, mais tarde na mesma década,
ascendeu ao trono da Polônia. Foi um dos regentes mais competentes de sua
época, embora seus planos para a unificação da Europa contra os turcos fossem
frustrados em virtude dos esforços necessários para combater Ivan, o Terrível,
que cobiçava o território de Stephen.
Em 1574, Elizabeth engravidou como
resultado de um breve affair com um camponês. Quando sua condição se
tornou visível, foi escondida até a chegada do bebê, porque estava noiva do
Conde Ferenc Nadasdy. O casamento ocorreu em maio de 1575. O Conde Nadasdy era
soldado e ficava fora de casa, freqüentemente, por longos períodos. Nesse meio
tempo, Elizabeth assumia os deveres de cuidar dos assuntos do Castelo Sarvar,
de propriedade da família Nadasdy. Foi aí que sua carreira maligna realmente
começou - com o disciplinamento de um grande contingente de empregados,
principalmente mulheres jovens.
Num período em que o comportamento
cruel e arbitrário dos que mantinham o poder para com os criados era coisa
comum, o nível de crueldade de Elizabeth era notório. Ela não apenas punia os
que infringiam seus regulamentos, como também encontrava desculpas para
infringir punições e se deleitava na tortura e na morte de suas vítimas muito
além do que seus contemporâneos poderiam aceitar. Enfiava pinos em vários
pontos sensíveis do corpo, como, por exemplo, embaixo das unhas. No inverno,
executava suas vítimas fazendo-as se despir e andar na neve, despejando água
gelada nelas até o ponto de congelamento corporal.
O marido de Elizabeth juntava-se a ela
nesse tipo de comportamento sádico e até ensinou-lhe algumas modalidades de
punição. Mostrou-lhe, por exemplo, uma variação desses exercícios de
congelamento para o verão: despia uma mulher e a cobria com mel, deixando-a à
mercê dos insetos. Ele morreu em 1604 e Elizabeth mudou-se para Viena após o
seu enterro. Passou também algum tempo em sua propriedade de Beckov e no solar
de Cachtice, ambos localizados onde é hoje a Eslováquia. Esses foram os
cenários de seus atos mais famosos e depravados.
Nos anos que se seguiram após a morte
do marido, a companheira de Elizabeth no crime foi uma mulher de nome Anna
Darvulia, de quem pouco se sabe. Quando a saúde de Darvulia piorou em 1609,
Elizabeth se voltou para Erzsi Majorova, viúva de uma fazendeiro local, seu
inquilino. Majorova parece ter sido responsável pelo declínio final de
Elizabeth, ao encorajá-la a incluir algumas mulheres de estirpe nobre entre
suas vítimas. Em virtude de estar tendo dificuldade para arregimentar mais
jovens como servas à medida que os rumores sobre suas atividades se espalhavam
pelas redondezas, Elizabeth seguiu os conselhos de Majorova. Em algum período
de 1609, ela matou uma jovem nobre e encobriu o fato dizendo que fora suicídio.
Já no início do verão de 1610,
investigações iniciais em torno dos crimes de Elizabeth tinham começado. A base
das investigações era confiscar o latifúndio de Elizabeth e deixar de pagar o
alto empréstimo que seu marido tinha feito ao Rei. Com isso em mente, Elizabeth
foi presa no dia 26 de dezembro de 1610. Foi julgada alguns dias depois. O
julgamento foi conduzido pelo Conde Thurzo, como agente da lei. Conforme
registro, o julgamento foi iniciado não apenas para se obter uma condenação,
mas também para confiscar suas terras. Uma semana após o primeiro julgamento,
foi realizada uma segunda sessão, em 7 de janeiro de 1611. Neste, uma agenda
encontrada nos aposentos de Elizabeth foi apresentada como prova. Continha os
nomes das 650 vítimas, todos registrados com a letra de Elizabeth. Seus
cúmplices foram condenados à morte, sendo a forma de execução determinada por
seus papéis nas torturas. Elizabeth foi condenada à prisão perpétua, e
solitária. Foi colocada num aposento do castelo de Cachtice, sem portas ou janelas,
apenas uma pequena abertura para a passagem de ar e de alimentos, lá
permanecendo pelos três anos seguintes até sua morte em 21 de agosto de 1614.
Foi sepultada nas terras de Bathory, em Ecsed.
Nenhuma acusação sobre essa atividade
foi feita no julgamento, como aliás nunca foram apresentadas provas, na
ocasião, de que ela estivesse engajada em tais práticas. Após sua morte, os
registros de seus julgamentos foram lacrados, porque a revelação de suas
atividades constituiriam um escândalo para a comunidade húngara reinante. O Rei
húngaro Mathias II proibiu que se mencionasse seu nome nos círculos sociais.
Não foi senão cem anos mais tarde que um padre jesuíta, Laszlo Turoczy,
localizou alguns documentos originais do julgamento e recolheu histórias que
circulavam entre os habitantes de Cachtice, onde ficava o castelo de Elizabeth.
Turoczy incluiu um relato de sua vida no livro que escreveu sobre a história da
Hungria. Seu livro sugeria. a princípio, a possibilidade de Elizabeth ter-se
banhado em sangue. Publicado durante o ano de 1720, o livro surgiu durante uma
onda de vampirismo na Europa oriental que excitava o interesse do continente.
Escritores posteriores retomariam a história, ornamentando alguns detalhes.
Duas histórias ilustram as lendas que se formaram em torno de Elizabeth, na
ausência dos registros jurídicos de sua vida e das tentativas de remover
qualquer menção a ela na história da Hungria:
Diz-se que certo dia a condessa,
envelhecendo, estava sendo penteada por uma jovem criada, quando a menina puxou
seus cabelos acidentalmente. Elizabeth virou-se para ela e a espancou. O sangue
espirrou e algumas gotas ficaram na mão de Elizabeth. Ao esfregar o sangue nas
mãos, estas pareciam tomar as formas joviais da moça. Foi a partir desse
incidente que Elizabeth desenvolveu sua reputação de desejar sangue de jovens
virgens.
Uma segunda história cobre o
comportamento de Elizabeth após a morte do marido, quando se dizia que ela se
envolvia com homens mais jovens. Numa ocasião, quando estava em companhia de um
desses homens, viu uma mulher de idade e perguntou a ele: "O que você
faria se tivesse de beijar aquela bruxa velha?". O homem respondeu com
palavras de desprezo. A velha, entretanto, ao ouvir o diálogo, acusou Elizabeth
de excessiva vaidade e acrescentou que tal aparência era inevitável, mesmo para
uma condessa. Diversos historiadores têm ligado a morte do marido de Elizabeth
e essa história à sua preocupação com o envelhecimento, daí o fato de ela se
banhar em sangue.
Fonte:
O
Livro dos Vampiros - J. Gordon Melton.
http://www.vampiria.com.br/bathory.htm
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