sexta-feira, 15 de agosto de 2025

LIVRO: POR QUE NÓS DORMIMOS (RESENHA)

POR QUE NÓS DORMIMOS

(Andre Favory: una mujer dormida junto a la ventana)

Quando pensamos em receitas para uma boa saúde e longevidade, geralmente incluímos boa dieta e prática de exercícios. Mas eis que Matthew Walker, pesquisador da Universidade da Califórnia, argumenta muito bem que esta duplinha deveria ser, na verdade, um trio: dieta, exercícios e sono. (Sempre esquecemos da importância do sono, não é mesmo?) Pois Matthew Walker argumenta de maneira clara e objetiva pelas páginas de seu livro “Why We Sleep” (“Por que nós dormimos” em português) por que nós dormimos e por que precisamos dormir bem. É, afinal, um livro inteiro sobre sono – e sonhos.

(Why we sleep - de Mathew Walker 
- Por que nós dormimos)

(Li o livro na versão em inglês, portanto citações serão no original com minha tradução.)


Missão: dormir

Logo na introdução, Walker estabelece uma regra bem particular para a leitura de seu livro.

“Should you feel drowsy and fall asleep while reading the book, unlike most authors, I will not be disheartened. Indeed (…) I am actively going to encourage that kind of behavior from you. (…) So please feel free to ebb and flow into and out of consciousness during this entire book. I will take absolutely no offense. On the contrary, I will be delighted.”

“Caso você se sinta embriagado e caia de sono enquanto lê este livro, ao contrário da maioria dos autores, não ficarei chateado. (…) Aliás, vou encorajá-lo a este tipo de comportamento. (…) Então, por favor, sinta-se à vontade para entrar e sair de sua consciência por todo o livro. Não ficarei em nada ofendido. Pelo contrário, ficarei encantado.”

Com este simpático aviso, Walker já expõe o objetivo maior do livro: fazê-lo dormir (bem). E, pelo menos para mim, seu objetivo foi alcançado. Porque ler a palavra “sono” tantas vezer no texto me deu muito sono. Como livro de cabeceira, antes de dormir, foi ideal. Afinal, não conseguia ler mais de um capítulo por noite porque o sono imperava.

Biologia do sono

(Foca monge havaiana dormindo)

Matthew Walker começa explicando evolutivamente por que nós dormimos. Explica a diferença do nosso sono para o sono dos demais animais, tanto em quantidade quanto em qualidade. Aliás, é interessantíssimo ler sobre como outros animais dormem, inclusive o que provavelmente sonham, baseado nos estudos da atividade cerebral.

O autor comenta também sobre o ciclo circadiano e suas peculiaridades, reguladas pelo hormônio melatonina. Discute a biologia do sono, desde a bioquímica até a atividade cerebral que caracteriza as diferentes fases de sono.

De bioquímica, aliás, aprendi que níveis altos de adenosina no cérebro são cruciais para iniciarem a sensação de sono. Interessantemente, a cafeína (meu vício) bloqueia o receptor de adenosina no cérebro, o que dificulta a sensação de sono. E o autor sugere parar de tomar café lá pelas 15h, para que tenhamos uma boa noite de sono.

Além disso, Matthew Walker descreve as diferenças e a importância do sono em cada uma das fases da nossa vida. Algumas questões são instigantes. Por exemplo, o autor advoca que tiramos muito do desenvolvimento normal da criatividade do adolescente ao fazê-los sair da cama cedo para a escola. Adolescentes têm seu ritmo circadiano levemente alterado para mais tarde, portanto seria mais sensato deixá-los dormir um pouco mais. Isto ajudaria no desenvolvimento adequado do cérebro deles, que ainda está em preparação para a maturidade da vida adulta.


Fases do sono

Por todo o livro fica claro que, enquanto dormimos, muita coisa acontece no cérebro e no nosso organismo. Não é um período de “descanso” apenas. É um período de reboot e consolidação da memória (e da saúde fisiológica em geral). Na primeira fase, o NREM, as informações capturadas e estocadas durante o dia são peneiradas e direcionadas. Saem da armazenagem temporária no hipocampo para a memória segura no córtex cerebral.

Já na segunda fase do sono, o REM, as memórias estabelecidas são integradas com a sua autobiografia. Ou seja, com tudo que você já viveu e guardou no cérebro desde o início de sua vida. Nós sonhamos durante o REM. E o sonho, portanto, é peça-chave deste processo de integração das memórias e emoções, além de combustível fundamental da criatividade.


Por que nós dormimos



À pergunta “por que nós dormimos”, a resposta que permeia todo o livro é “para termos saúde e vivermos mais”. Sempre com o respaldo da biologia e da neurociência, o autor realça a importância do sono ao falar sobre os distúrbios clássicos do sono, como a insônia e a narcolepsia, e sobre como o sono reforça todos os demais componentes do nosso organismo. Como dormir bem diminui as chances de desenvolvimento de câncer, diabetes, mal de Alzheimer, problemas cardiovasculares e muitas outras doenças, por fortalecer o sistema imune e endócrino.

Mas o que é dormir bem? De acordo com a cronobiologia e a neurociência do sono, é dormir pelo menos 8 horas por noite, com 5 ciclos distintos independentes de sono NREM e REM. Além disso, uma soneca depois do almoço de uns 90 minutos, tempo para um ciclo de NREM/REM, é altamente aconselhável, já que diminui em mais de 200% a chance de problemas cardiovasculares em adultos.


Soneca da tarde numa ilha tropical
A soneca da tarde não é preguiça: faz parte da nossa biologia.
E como a gente consegue dormir desta forma?



Receita para dormir bem

Walker estabelece 10 regrinhas simples e básicas para dormir bem. Não vou dar spoiler, mas já adianto que são regras bem simples. Ele é contra remédio pra dormir, a não ser quando avaliado por um médico que entenda de sono. Portanto suas dicas são sugestões de simples implementação, como tomar um banho quente antes de dormir, evitar celulares e afins no quarto, ou ter uma rotina de sono, dormindo e acordando no mesmo horário.

(E esqueça os drinks antes de dormir. O álcool é sedativo, não deixa que entremos de forma adequada em NREM devido ao tempo que leva para ser metabolizado. Aliás, Matthew Walker aconselha a beber durante o dia, não à noite.)

Sem sono

“The number of people who can survive on five hours of sleep or less without any impairment, expressed as a percent of the population, and rounded to a whole number, is zero.”

“O número de pessoas que podem sobreviver à 5 horas de sono ou menos sem nenhum prejuízo, expresso como uma porcentagem da população e arredondado, é zero.”

Mas o que mais me chamou a atenção neste livro foi a percepção do quanto a maioria das pessoas não dorme o suficiente, ou seja, são cronicamente sleep-deprived. Não por insônia, mas por pura falta de tempo.

Muita gente tem insônia e ele dedica um capítulo a esse mal do século. Mas Walker defende a ideia de que, enquanto na insônia a pessoa tem oportunidade de dormir e não tem sono, o sleep-deprivation é o estado de quando você tem sono, mas não tem oportunidade de dormir. Por exemplo, quando precisa trabalhar em diversos turnos. Ou viajar frequentemente, cruzando fusos. Ou ainda até por status, porque infelizmente a ideia de que você dorme muito ainda é associada à “preguiça” e não à saúde.

Esta percepção errônea nos prejudica não só individualmente, mas como sociedade em geral. Afinal, vivemos num ambiente em que as pessoas estão menos alertas e mais propensas a doenças graves. As razões para este estado generalizado de sleep-deprivation é que precisam ser atacadas por políticas de incentivo ao sono. Suas horas completas de sono devem ser não-negociáveis. Com dados e estudos científicos sólidos, Matthew Walker deixa claro o quanto não deixar alguém dormir suas 8 horas necessárias é um erro em todos os sentidos. Porque profissionais que dormem mais, estão melhor preparados para o trabalho, são mais inovadores/criativos e terminam por contribuir de maneira mais enriquecedora à sociedade como um todo.

Na dúvida, durma mais

Esta talvez seja a conclusão mais simples deste livro tão rico de pontos a serem discutidos mais e mais sobre a importância do sono.

“The shorter your sleep, the shorter your life.”

“Quanto menos você dorme, menos você vive.“

É incrível exatamente pela oposição clara à horrível frase que permeia muito do nosso comportamento: “dormir pra quê, vou dormir quando morrer“. Apesar das tecnicalidades de alguns parágrafos, Matthew Walker nos convence da importância do sono e nos convida a dormir mais para viver melhor. Como dorminhoca de primeira, curti o convite.

Tudo de sono sempre.



Fonte:

terça-feira, 12 de agosto de 2025

CITAÇÕES: USE COMO EPÍGRAFE ESTE TEXTO DE ADÉLIA PRADO

 


.     "Esconder-se no porão, de vez em quando, é necessidade vital. Precisamos de silêncio e solidão, e, não, apenas os poetas. Senão, corremos o perigo de nos esvairmos em som, fúria e esterilidade. O campo para que a palavra se instale para o autor e para o leitor é o campo do silêncio e da audição." 

- Adélia Prado, no jornal 'O Tempo', 16 de outubro de 2010.

sábado, 9 de agosto de 2025

CRIMES FAMOSOS: SÃO PAULO/SP - O CRIME DO RESTAURANTE CHINÊS

 


Na manhã do dia 2 de março de 1938, quarta feira de cinzas, o cozinheiro Pedro Adukas levantou a porta de aço do restaurante chinês, na rua Venceslau Brás, nº 13, no Centro da Capital, e encontrou quatro corpos estendidos pela casa. No salão estavam os cadáveres de dois colegas de serviço, os garçons José Kilikevicius e Severino Lindolpho Rocha, assassinados a porretadas. Alguns passos depois, encontrou o corpo de seu patrão Ho-Fong, também morto com um porrete. O cozinheiro chamou a polícia, e, antes dela chegar, ainda achou no andar superior do prédio o cadáver de Maria Akiau Fong, mulher de Ho. Ela fora esganada.

Pedro Adukas acabara de descobrir um dos mais sangrentos e famosos latrocínios da crônica policial de São Paulo: O Crime do Restaurante Chinês.

Um caibro quase circular, medindo 71,4 cm de comprimento e pesando 1,23 quilos, foi encontrado no quintal do restaurante, comprovadamente a arma utilizada.

As suspeitas iniciais recaíram sobre patrícios de Ho e Maria, funcionários e ex-funcionários. Um deles, Manoel Custódio Pinto, era garçom e o mais antigo empregado da casa. Foi ouvido várias vezes pelo delegado Pedro de Alcântara Carvalho de Oliveira, que presidiu o inquérito, e, no terceiro interrogatório, a 4 de março, mencionou o nome de Arias de Oliveira, que trabalhara durante 16 dias como ajudante de cozinha e deixara o emprego na Sexta Feira de Carnaval. Era um dos funcionários autorizados a dormir no serviço, gozando ainda da simpatia do ex-patrão. Manoel revelou aos policiais que ouvira Ho dizer, na terça feira, que Arias pedira para ser readmitido.

Arias e o Casal de vítimas

Arias que chegara a São Paulo em 1937, com 21 anos de idade, vindo de Franca, no interior do Estado, passou, então, a ser o pincipal suspeito, até porque fornecera dados errados no cartório, dizendo ser de Franca e nascido em 1 de janeiro de 1912 para fugir do Serviço Militar. Foi preso em 11 de março, e submetido a “perícia antropopsiquiátrica”, técnica utilizada pela primeira vez pela polícia paulistana para esclarecer um delito.

Para auxiliá-lo nesta tarefa, o delegado Pedro de Alcântara chamou Ricardo Gumbleton Daunt (1894-1977), chefe do Serviço de Identificação, Edmur de Aguiar Whitaker (1909-1965), médico psiquiatra, Oscar Ribeiro de Godoy, médico antropólogo, e Pedro Moncau, médico endocrinologista. Arias foi interrogado e submetido a testes por três vezes. Os resultados indicaram ser ele o assassino.

Arias continuou negando, até 19 de março quando resolveu confessar, dizendo que desde que viera de Franca, seis meses atrás, enfrentara sérias dificuldades, passou fome e nas vezes em que se alimentara, fora graças a ajuda de amigos. Brincou o Carnaval no tablado armado na Praça do Patriarca, e no último dia, dançou até as 24 hs, final do baile. Na volta cruzou a Praça da Sé, e na rua Venceslau Brás, avistou José e Severino na porta do pequeno restaurante Ôrion. Ficou ali até a chegada dos patrões e pediu para dormir.

Ho-Fong era conhecido por tratar seus funcionários com ofensas e humilhações, e havia despedido Arias na sexta-feira anterior aos crimes. Arias, sabendo que o chinês guardava dinheiro e joias em seu apartamento localizado em cima do restaurante, planejou o crime, e voltou na terça-feira ao local, pedindo para dormir (alegando não ter lugar para passar a noite), pois existia um pequeno quarto nos fundos, onde alguns funcionários moravam. Fong negou o pedido, mas um dos garçons deixou que Arias entrasse no quarto sem o conhecimento do proprietário. Neste quarto, moravam José Kilikevicius e Severino Rocha. Quando percebeu que os ex-colegas já estavam dormindo, Arias levantou-se e, no meio da noite e com um pedaço de madeira, matou os garçons com pauladas no crânio.

Ho-Fong acordou com o barulho vindo do quarto dos fundos e, ao descer as escadas, encontrou Arias no meio do caminho, dando início a uma luta corporal em que Arias sufocou o chinês e depois matou-o com da mesma forma que seus ex-colegas.

Em seguida, Arias entrou no quarto do casal e torturou a esposa de Fong para que ela revelasse o local onde estava guardado o dinheiro e as joias, mas como Maria se negasse a dizer onde estavam, estrangulou-a.

Sem obter sucesso no roubo, Arias fugiu do local e foi preso mais de um mês depois. Inicialmente alegou que não esteve no local, mas, após vários interrogatórios, alegou que só dormiu ali, fugindo para salvar sua vida.

Paulo Lauro, deputado ,1908-1983


A prisão preventiva de Arias foi decretada em 21 de maio. Levado a julgamento em 31 de março de 1939, foi absolvido porque o juri considerou que fora forçado a confessar um crime que não cometera. Inconformado, o promotor público Raphael de Oliveira Pirajá (1903-1975) apelou ao Tribunal e este por meio da Primeira Vara, em acordão de 3 de junho de 1940 anulou a decisão do juri. O segundo julgamento teve inicio em 9 de setembro de 1940 e, mais uma vez, o advogado Paulo Lauro conseguiu a absolvição do acusado. Seguiu-se novo recurso do Ministério Público, mas a Segunda Câmara Criminal, a 27 de agosto de 1942 decidiu pela confirmação do julgamento anterior.

O prefeito eleito de São Paulo, Celso Pitta, do PPB, foi o segundo negro a ocupar o cargo. O primeiro foi o advogado Paulo Lauro, que conseguiu livrar Arias de Oliveira da cadeia por duas vezes. Lauro, nascido em 19 de novembro de 1907, em Descalvado, SP, e falecido em agosto de 1983, na Capital, defendeu nos tribunais a tese de que seu cliente, negro como ele, fôra vítima de racismo e obrigado a confessar um crime que não cometera.

As técnicas usadas pela polícia para identificar o autor do Crime do Restaurante Chinês deram sustentação aos argumentos de defesa. Arias, um negro analfabeto, serviu de cobaia para o delegado Pedro de Alcântara Oliveira, da Central de Polícia, que o submeteu a uma perícia antropopsiquiátrica realizada por uma comissão que realizou três baterias de testes com o réu e o considerou culpado, tomando por base teorias em moda na época, muitas delas racistas, como a defendida pelo advogado italiano Cesare Lombroso, para quem traços fisionômicos indicam se o indivíduo tem ou não má índole. Também colheu as impressões de Arias, comparou-as aos sinais fotografados no rosto de Maria Akiau Fong e concluiu serem da mesma pessoa.

Arias não era um cliente fácil de ser defendido. Natural de Cravinhos, no Interior Paulista, onde nasceu em 10 de janeiro de 1917, ele já tinha cometido alguns delitos antes de se declarar culpado de quádruplo assassinato. Para não servir as Forças Armadas havia falsificado a identidade. Além disso trabalhou como salva vidas em São Vicente, onde acabou furtando colegas.

Adhemar de Barros e Paulo Lauro

Ao conseguir a dupla absolvição de um réu com essa ficha. Paulo Lauro ganhou notoriedade junto as elites. Anos depois, em 29 de agosto de 1947, tomou posse como prefeito de São Paulo, indicado pelo então governador Adhemar de Barros. Exerceu o cargo até 3 de fevereiro de 1949. Aquela altura, o cliente que lhe rendera fama e respeito já havia sumido do mapa.

Há várias teorias sobre esse crime. Abaixo um vídeo com algumas delas.




Fontes:

Renato Savarese e Wilson Cocchi, Matéria reproduzida parcialmente de Revista Já, 17/11/1996






quarta-feira, 6 de agosto de 2025

CITAÇÕES: USE COMO EPÍGRAFE ESTA FRASE DE PÚBLIO TERÊNCIO AFRO

 


  “Homo sum: humani nil a me alienum puto”/ Sou humano: e nada do que é humano me é estranho”.


- Públio Terêncio Afro, em latim Publius Terentius Afer 

(Cartago, ca. 195 a.C.-185 a.C. – Lago Estínfalo, ca. 159 a.C.), dramaturgo e poeta romano.

domingo, 3 de agosto de 2025

ARTES PLÁTICAS: FUTURISMO

 FUTURISMO


Retrato do poeta Filippo Marinetti, idealizador do futurismo

O Futurismo representou um movimento literário e artístico que tinha como principal característica a valorização da tecnologia e velocidade.

Essa corrente faz parte das vanguardas artísticas europeias que despontaram no início do século XX. Influenciou a literatura, a pintura, a escultura, a música e outras vertentes das artes.

Origem do Futurismo

O Futurismo teve intensa relação com a literatura, surgindo a partir do Manifesto Futurista, idealizado pelo escritor e poeta italiano Filippo Tommaso Marinetti.

Ele publicou em 20 de fevereiro de 1909, no jornal "Le Figaro", uma nota um tanto quanto polêmica dando início ao movimento.

"Nós destruiremos os museus, bibliotecas, academias de todo tipo, lutaremos contra o moralismo, feminismo, toda cobardice oportunista ou utilitária.
Nós cantaremos as grandes multidões excitadas pelo trabalho, pelo prazer, e pelo tumulto; nós cantaremos a canção das marés de revolução, multicoloridas e polifónicas nas modernas capitais; nós cantaremos o vibrante fervor noturno de arsenais e estaleiros em chamas com violentas luas elétricas; estações de trem cobiçosas que devoram serpentes emplumadas de fumaça; fábricas pendem em nuvens por linhas tortas de suas fumaças; pontes que transpõem rios, como ginastas gigantes, lampejando no sol com um brilho de facas; navios a vapor aventureiros que fungam o horizonte; locomotivas de peito largo cujas rodas atravessam os trilhos como o casco de enormes cavalos de aço freados por tubulações; e o vôo macio de aviões cujos propulsores tagarelam no vento como faixas e parecem aplaudir como um público entusiasmado."
(trecho do Manifesto Futurista)

O movimento futurista predominou principalmente na França e na Itália, onde os artistas se identificavam com o fascismo.

Tendo diversos membros do grupo aderido ao partido fascista, ele se enfraqueceu após a Primeira Guerra Mundial, apesar de ter sido retomado no dadaísmo.

Principais características do futurismo

Podemos destacar como principais características do movimento futurista:

valorização da velocidade e dinamismo;

exaltação à tecnologia;

ligação ideológica com o fascismo;

ruptura com o passado;

utilização da publicidade e tipografias;

tendência a justificar a violência através do militarismo.

Estava evidente no Futurismo a valorização da industrialização e da tecnologia enquanto progresso técnico.

Além disso, os parâmetros se baseavam no futuro, na velocidade, na vida moderna, na violência (militarismo) e ruptura com a arte do passado.


Dinamismo de um cão na coleira (1912), de Giacomo Balla, 
destaca o movimento das patas de um cão

Outro fator conhecido é a utilização da publicidade como principal meio de comunicação. Isso, especialmente pelo enaltecimento da tipografia desse período, em textos que exploravam o lúdico, a linguagem vernácula e uso de onomatopeias.

Em suas criações, os futuristas buscavam expressar o movimento real, assinalando a velocidade exposta pelas figuras em movimento no espaço.

Assim, a pintura futurista, influenciada pelo cubismo e pelo abstracionismo, tinha a pretensão de dinamismo. Ao captar a forma plástica, a velocidade era descrita pelos objetos no espaço.

As inspirações pelas cores e efeitos de luz do pós-impressionismo, assim como nas técnicas das composições cubistas, são evidentes.

Principais Artistas e Obras

Em 1910, alguns artistas decidiram elaborar um manifesto futurista dedicado principalmente à pintura. Esse novo documento foi assinado por Umberto Boccioni, Carlo Carrà, Luigi Russolo, Giacomo Balla e Gino Severini.

Para eles, o que mais importava era a representação do movimento e a rejeição à todo tipo de imobilidade.

Veja quem foram os maiores representantes e algumas obras de destaque.

Giacomo Balla (1871-1958)

Velocidade do Automóvel (1913), de Giacomo Balla

Umberto Boccioni (1882-1916)

Carga dos Lanceiros (1915) de Umberto Boccioni

Luigi Russolo (1883-1947)

O Dinamismo de um Automóvel (1913), de Luigi Russolo

Enrico Prampolini (1894-1956)

Retrato de Marinetti (1925) de Enrico Prampolini. 
À esquerda, atente para o uso da tipografia, com letra A

Nikolay Diulgheroff (1901-1982)

Paisagem marinha (1933), de Nikolay Diulgheroff

Carlo Carrá (1881-1966)

O Cavaleiro Vermelho (1913) de Carlo Carrá

Fortunato Depero (1892-1960)

Arranha-céus e túneis (1930) de Fortunato Depero



Fonte:

Laura Aidar






Arte-educadora, fotógrafa e artista visual

quinta-feira, 31 de julho de 2025

CITAÇÕES: USE COMO EPÍGRAFE ESTE TEXTO DE ZYGMUNT BAUMAN

 


    “O valor, o mais precioso dos valores humanos, o atributo sine qua non de humanidade, é uma vida de dignidade, não a sobrevivência a qualquer custo. [...] O direito do mais forte, mais astuto, engenhoso ou ardiloso de fazer o possível para sobreviver ao mais fraco e desafortunado é uma das lições mais horripilantes do Holocausto”. 

– Zygmunt Bauman, in “Amor líquido – sobre a fragilidade dos laços humanos”, tradução de Carlos Alberto Medeiros.

segunda-feira, 28 de julho de 2025

CULINÁRIA: PANCS - PLANTAS ALIMENTÍCIAS NÃO CONVENCIONAIS

 


VOCÊ SABE O QUE SÃO PANCS? DESCUBRA AS PLANTINHAS QUE TAMBÉM SÃO ALIMENTOS E VOCÊ NÃO SABIA


As plantas alimentícias pouco convencionais têm ganhado espaço na mesa das pessoas


Plantas Alimentícias Não Convencionais: esse é o significado da sigla PANCs. Como o próprio nome sugere, são plantas que aparentemente não são comestíveis, mas que na verdade escondem um universo de possibilidades na cozinha. Então é possível incluir nesse conceito que as PANCs são plantas ou parte delas que você pode consumir, apesar de não fazerem parte dos seus hábitos. Ou seja: elas não possuem cadeia produtiva estabelecida e, por isso, não vão aparecer nos supermercados facilmente no dia a dia.

É peixe ou planta? Esta hortaliça, quando preparada, 
tem um sabor que lembra o de um peixe frito

De acordo com o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), muitas dessas plantas crescem espontaneamente em qualquer lugar, como aquele matinho ou trepadeira no quintal de casa ou em terrenos baldios. Justamente por isso, elas nem sempre são consideradas uma opção culinária.

Mas a frase “quem vê cara, não vê coração” se encaixa muito bem aqui. Isso porque as PANCs possuem essa aparência de ervas daninhas, mas guardam alto teor de nutrientes e podem ser fonte de renda para produtores, principalmente da agricultura familiar e são bons exemplos de alimento in natura. Somado aos benefícios para a saúde, essas plantas também possuem baixo impacto ambiental. Normalmente, elas possuem um crescimento espontâneo, exigem um cultivo simples, além de serem facilmente adaptáveis a diferentes ambientes. Todos esses fatores influenciam no baixo impacto ambiental. Isso sem falar que, no passado, essas plantas faziam parte da cultura e alimentação local. Sendo assim, seu consumo também é um resgate de costumes regionais. Por esse motivo, são consideradas ambiental e culturalmente responsável.



Pode não parecer, mas as PANCs escondem um universo de possibilidades na cozinha

Conhecendo algumas PANCs

Separamos 5 exemplos de plantas alimentícias não convencionais para quem deseja conhecer um pouco mais do universo das PANCs. Quem sabe você não se surpreende ao reconhecer alguma delas? Todas as informações abaixo foram retiradas do site da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa). O material completo pode ser acessado aqui .

1 – Ora-pro-nóbis


Uma das mais famosas dentre as PANCs, o nome Ora-pro-nóbis significa “rogai por nós” em latim, que em tupi-guarani significa “planta que produz frutos com muitos espinhos finos”. Conhecida como “carne verde” por seu elevado teor de proteína, ela assume uso tradicional muito significativo em algumas regiões de Minas Gerais e Goiás, especialmente nas cidades históricas coloniais.

As PANCs possuem um crescimento espontâneo e de fácil adaptação a diferentes ambientes

2 – Peixinho


A hortaliça leva este nome graças ao formato da folha quando preparada e ao sabor peculiar, que lembra um lambari frito, uma espécie de peixe. No Brasil, o peixinho é cultivado nas regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste em locais de clima ameno, pois não tolera calor excessivo.

3 – Fisális


Essa fruta tem ganhado o espaço entre os confeiteiros. Devido ao seu formato característico, a Fisális virou artigo de decoração de doces e tortas. Ela apresenta uma proteção, em forma de balão, que envolve o fruto, e que se torna seca assim que o fruto amadurece.

4 – Vinagreira

Talvez você esteja consumindo uma PANCs sem saber. 
O famoso chá de hibisco é feito da flor da vinagreira

Da flor da vinagreira é feito o famoso chá de hibisco, que possui um importante efeito diurético e amplamente consumido entre as pessoas. Já as folhas desta planta servem como ingrediente básico do principal prato da culinária maranhense: o arroz de cuxá. Por esse motivo, no Maranhão, a vinagreira ocupa um lugar de destaque na culinária local. Desde 2000, a planta virou Bem Imaterial do Patrimônio Cultural Brasileiro.

5 – Azedinha


O termo azedinha vem de seu sabor ácido, bem característico dessa espécie. Pode substituir o limão nos temperos para salada, por isso também recebe o nome popular de “salada pronta”.


As PANCs possuem essa aparência de ervas daninhas, mas guardam alto teor de nutrientes



FONTE:

Ministério da Saúde

Publicado em 28/04/2022

Atualizado em 24/05/2022

sexta-feira, 25 de julho de 2025

CITAÇÕES: USE COMO EPÍGRAFE ESTES TEXTOS DE YUVAL NOAH HARARI:

 



“A história não é uma narrativa única, mas milhares de narrativas alternativas. Sempre que escolhemos contar uma delas, escolhemos também silenciar outras.” 

– Yuval Noah Harari, in Homo Deus

“As pessoas só se sentem ligadas a eleições democráticas quando compartilham uma ligação básica com a maioria dos eleitores. Se a experiência de outros votantes me é estranha, e se eu acredito que eles não compreendem meus sentimentos e não se importam com meus interesses vitais, então, mesmo se eu perder o voto numa razão de um para cem, não tenho motivos para aceitar o veredicto. Eleições democráticas em geral funcionam somente em populações que têm alguma ligação comum anterior, tal como crenças religiosas e mitos nacionais compartilhados. Elas constituem um método de resolver desacordos entre pessoas que já concordam quanto ao básico.” 

- Yuval Noah Harari, in Homo Deus.

"Em 2000, o cantor israelense Shlomi Shavan chegou ao topo da parada de sucessos com a canção “Arik”, sobre um sujeito que está obcecado pelo ex de sua namorada, chamado Arik. Ele quer saber quem é melhor na cama — ele ou Arik? A namorada se esquiva de responder, dizendo que era diferente com cada um dos dois. O sujeito não fica satisfeito e pede: “Quero números, querida”. Bem, para esse tipo de sujeito, uma companhia chamada Bedpost vende braçadeiras biométricas que podem ser usadas durante a relação sexual. A braçadeira coleta dados como frequência cardíaca, nível de sudorese, duração do coito, duração do orgasmo e o número de calorias queimadas no ato. Os dados alimentam um computador que analisa a informação e classifica o desempenho com números precisos. Não mais falsos orgasmos, nem “Foi bom para você?”. ”

 - Yuval Noah Harari, in Homo Deus.

terça-feira, 22 de julho de 2025

SOCIEDADE: FORMAS DE TORTURA E MORTE - O LINGCHI

 LINGCHI: UM DOS MÉTODOS DE EXECUÇÃO MAIS SINISTROS JÁ CRIADOS PELO HOMEM



No que diz respeito a inventar formas de provocar e prolongar o sofrimento alheio, a humanidade pode ser incrivelmente criativa. Ao longo da História, o homem desenvolveu os mais horripilantes métodos de tortura e execução.

Vamos contar um pouco sobre o Lingchi, um tipo de punição capital que surgiu na China durante a Dinastia Tang (que durou de 618 a 907) e, pasme, se manteve em uso até o finalzinho da Qing — que se estendeu de 1644 até 1912. Isso significa que o castigo foi empregado até, bem dizer, o outro dia! Mas, e que método seria esse? Bem, a tradução do nome significa “morte por mil cortes”, então você já pode ir imaginando no que a coisa toda consistia.

Brutal


De acordo com Krissy Howard, do site All That Is Interesting, a punição — basicamente — começava com prender o castigado em um tronco e ir fatiando sua pele pouco a pouco. A ideia era aplicar a maior quantidade de cortes possível antes que a pessoa acabasse perdendo a consciência ou sucumbindo aos ferimentos.

Castigo sangrento

Segundo Krissy, geralmente os cortes começavam pelo peito, onde a pele e os músculos eram meticulosamente removidos até que as costelas ficassem praticamente expostas. Depois, o “açougueiro” prosseguia para os braços — cortando bons pedaços de carne fora — e, por último, o foco passava a ser as coxas do infeliz sendo executado.

É óbvio que a coisa toda, além de brutal e incrivelmente dolorosa, era um macabro banho de sangue, e os condenados raramente sobreviviam até que os algozes começassem a fatiar as pernas. Mas, o castigo não terminava por aí. Depois que a pessoa morria, seu corpo era decapitado e desmembrado, e seus braços e suas pernas eram colocados em um cesto. O motivo? O confucionismo reprovava esse tipo de prática.

Castigo excruciante

O Lingchi não era um castigo aplicado por qualquer motivo. Ele era imposto àqueles que cometiam os piores crimes — segundo a cultura chinesa —, como matar os próprios pais, realizar atos de traição e assassinatos em massa. No entanto, podia acontecer de pessoas condenadas por outras infrações também serem sentenciadas à “morte por mil cortes”.

Muita crueldade

De qualquer forma, não havia uma lei específica que determinasse como o Lingchi deveria ser aplicado, portanto a duração e o grau de crueldade variavam bastante. Conforme contou Krissy, existem relatos de condenados que foram executados em menos de 15 minutos, assim como de casos em que os carrascos tomaram cuidado para que o castigado permanecesse vivo pelo maior tempo possível — e registros de pessoas que suportaram várias horas de tortura e receberam mais de 3 mil cortes.

É evidente que a duração e brutalidade do castigo dependiam de fatores como a habilidade do algoz e do crime cometido. Além disso, podia acontecer de a família do acusado pagar para que ele tivesse uma morte rápida — se possível, já no primeiro corte — ou de, no caso de condenações por crimes menos graves, os próprios carrascos sentirem pena do executado.

(Morte por mil cortes de Fou Tchou-Li)

Pois, apesar de o Lingchi soar como um daqueles métodos de tortura usados na Antiguidade ou, no máximo, durante a Idade Média, essa forma de punição foi utilizada até o ano de 1905, quando ela foi finalmente banida. Inclusive existem imagens da última execução levada a cabo em Pequim (imagem acima). Ela foi aplicada a um homem chamado Fou Tchou-Li, acusado de assassinar seu mestre, um príncipe mongol. Para o azar do infeliz, esse método foi banido apenas duas semanas depois.


Fonte:

Autora: Maria Luciana Rincón