sábado, 28 de junho de 2025

CITAÇÕES: USE COMO EPÍGRAFE ESTE TEXTO DE ISAIAH BERLIN

 


      “A importância do romantismo é ter sido o maior movimento recente que transformou a vida e o pensamento do mundo ocidental. Creio ser ele a maior mudança já ocorrida na consciência do Ocidente, e todas as outras mudanças que aconteceram ao longo dos séculos 19 e 20 me parecem, em comparação, menos importantes e, de todo modo, profundamente influenciadas por ele.” 

– Isaiah Berlin, in As raízes do romantismo; tradução de Isa Maria Lando.

quarta-feira, 25 de junho de 2025

MEDICINA: HIPNAGOGIA

 

O QUE É HIPNAGOGIA?


A hipnagogia é um estado de consciência que ocorre entre a vigília e o sono. É um termo que vem do grego “hypnos”, que significa sono, e “agogos”, que significa condução. Esse estado é caracterizado por uma série de fenômenos sensoriais, como alucinações visuais, auditivas e táteis, além de uma sensação de flutuação e de estar fora do corpo. A hipnagogia é uma experiência única e fascinante, que tem despertado o interesse de cientistas, psicólogos e artistas ao longo dos anos. Neste glossário, vamos explorar mais a fundo o que é a hipnagogia e como ela pode ser compreendida e utilizada.


As características da hipnagogia



A hipnagogia é um estado de transição entre a vigília e o sono, que ocorre principalmente durante o período de sono REM (Rapid Eye Movement). Durante esse estado, é comum experimentar uma série de fenômenos sensoriais, como alucinações visuais, auditivas e táteis. Essas alucinações podem variar de pessoa para pessoa, mas geralmente são vividas como imagens vívidas e coloridas, sons estranhos e sensações táteis incomuns. Além disso, é comum sentir uma sensação de flutuação e de estar fora do corpo, como se estivesse voando ou flutuando no ar.


As causas da hipnagogia


As causas da hipnagogia ainda não são completamente compreendidas, mas existem algumas teorias que tentam explicar esse fenômeno. Uma das teorias mais aceitas é a de que a hipnagogia está relacionada à atividade do cérebro durante o sono REM. Durante esse estágio do sono, o cérebro está altamente ativo, e é possível que as alucinações e sensações da hipnagogia sejam resultado dessa atividade intensa. Outra teoria sugere que a hipnagogia está relacionada à liberação de neurotransmissores, como a dopamina, que podem causar alucinações e sensações táteis.


As aplicações da hipnagogia

Salvador Dalí-La tentacion de San Antonio-1946

A hipnagogia tem despertado o interesse de diversas áreas, como a psicologia, a neurociência e a arte. Na psicologia, a hipnagogia tem sido estudada como uma forma de compreender melhor os processos mentais e a consciência. Além disso, a hipnagogia também tem sido utilizada como uma ferramenta terapêutica, para ajudar no tratamento de distúrbios do sono e de transtornos mentais. Na neurociência, a hipnagogia tem sido estudada como uma forma de entender melhor o funcionamento do cérebro e os processos cognitivos. Já na arte, a hipnagogia tem sido explorada como uma fonte de inspiração para artistas, que buscam capturar e expressar as sensações e imagens vividas durante esse estado.


As técnicas para induzir a hipnagogia

Thomas Edison e seu jeito de buscar ideias

Existem algumas técnicas que podem ser utilizadas para induzir a hipnagogia de forma voluntária. Uma das técnicas mais comuns é a de deitar-se em uma posição confortável, fechar os olhos e relaxar o corpo. É importante estar em um ambiente tranquilo e livre de distrações. Outra técnica é a de praticar a meditação, que pode ajudar a relaxar a mente e facilitar a entrada no estado hipnagógico. Além disso, algumas pessoas relatam que a utilização de estímulos sensoriais, como luzes suaves, sons relaxantes ou aromas agradáveis, pode ajudar a induzir a hipnagogia.



Os benefícios da hipnagogia

A moda de Olga Noronha

A hipnagogia pode trazer uma série de benefícios para a mente e o corpo. Durante o estado hipnagógico, o cérebro está em um estado de relaxamento profundo, o que pode ajudar a reduzir o estresse e a ansiedade. Além disso, a hipnagogia também pode ser uma fonte de criatividade e inspiração, já que durante esse estado é comum ter acesso a imagens e ideias que não seriam acessíveis durante a vigília. A hipnagogia também pode ser uma ferramenta para o autoconhecimento, já que durante esse estado é possível ter insights e compreensões mais profundas sobre si mesmo.


Os riscos da hipnagogia

Daniel O'Connell sonhando com um confronto com Jorge IV

Embora a hipnagogia seja geralmente uma experiência segura e natural, é importante estar ciente de alguns riscos associados a esse estado. Algumas pessoas podem experimentar alucinações desagradáveis ou assustadoras durante a hipnagogia, o que pode causar desconforto e ansiedade. Além disso, a hipnagogia também pode ser um estado vulnerável, no qual é possível ter acesso a memórias traumáticas ou experiências emocionalmente intensas. Por isso, é importante estar preparado e buscar orientação profissional caso essas experiências se tornem problemáticas.


A relação entre hipnagogia e sonhos lúcidos


A hipnagogia está intimamente relacionada aos sonhos lúcidos, que são sonhos nos quais o indivíduo tem consciência de que está sonhando e pode controlar o conteúdo do sonho. Durante o estado hipnagógico, é comum ter acesso a imagens e sensações semelhantes às dos sonhos lúcidos. Além disso, a hipnagogia também pode ser um ponto de partida para a indução de sonhos lúcidos, já que é possível entrar diretamente em um estado de sonho a partir do estado hipnagógico. Por isso, a hipnagogia tem sido estudada como uma forma de facilitar a prática e o desenvolvimento dos sonhos lúcidos.


A relação entre hipnagogia e criatividade


A hipnagogia tem sido associada à criatividade e à geração de ideias inovadoras. Durante o estado hipnagógico, é comum ter acesso a imagens e ideias que não seriam acessíveis durante a vigília. Essas imagens e ideias podem ser uma fonte de inspiração para artistas, escritores, músicos e outros profissionais criativos. Além disso, a hipnagogia também pode ajudar a liberar a mente de padrões de pensamento limitantes, permitindo que novas conexões e associações sejam feitas. Por isso, muitos artistas e criativos utilizam a hipnagogia como uma ferramenta para estimular a criatividade e a inovação.


A relação entre hipnagogia e espiritualidade


A hipnagogia também tem sido associada à espiritualidade e a experiências transcendentais. Durante o estado hipnagógico, é comum ter acesso a sensações de conexão com algo maior, de transcendência e de expansão da consciência. Essas experiências podem ser interpretadas como experiências espirituais por algumas pessoas, e têm sido exploradas em práticas espirituais e religiosas ao longo dos séculos. Além disso, a hipnagogia também pode ser uma ferramenta para a exploração da espiritualidade pessoal, permitindo o acesso a insights e compreensões mais profundas sobre o eu e o universo.


A importância do estudo da hipnagogia



O estudo da hipnagogia é importante por diversas razões. Primeiramente, a hipnagogia é uma experiência comum e natural, que faz parte da vida de todas as pessoas. Compreender melhor esse estado pode ajudar a desmistificar e normalizar as experiências hipnagógicas, evitando o medo e a ansiedade associados a essas experiências. Além disso, o estudo da hipnagogia também pode trazer insights sobre os processos mentais e a consciência, ajudando a entender melhor como o cérebro funciona e como a mente cria experiências. Por fim, a hipnagogia também pode ter aplicações terapêuticas e criativas, sendo uma ferramenta valiosa para o desenvolvimento pessoal e profissional.



Fonte



Autora : Thays Mosko




Nota: ilustrações inseridas pelo autor do blog.

domingo, 22 de junho de 2025

CITAÇÕES: USE COMO EPÍGRAFE ESTE TEXTO DE NATUSUME SOSEKI

 


      “As patas de um gato parecem não existir, pois por onde passam jamais emitem ruídos incômodos. Os gatos se deslocam como se pisassem o ar ou caminhando sobre nuvens, como o som do gongo golpeando dentro d’água ou uma harpa chinesa tocada no interior de uma caverna, como se seus sentidos descobrissem a plenitude dos mais requintados sabores”. 

– Natusume Soseki, in “Eu sou um gato”; tradução de Jefferson José Teixeira.

segunda-feira, 16 de junho de 2025

MATEMÁTICA: A ARTMÉTICA É BASEADA EM AXIOMAS

 Os axiomas da aritmética

A Aritmética - pintura de Pinturicchio

(Aposento Borgia do Palácio do Vaticano - Roma)

Os seguintes axiomas são tudo o que se necessita como base da estrutura elaborada da aritmética:

1.              Para quaisquer números m e n

m + n = n + m e mn = nm

2.              Para quaisquer números m, n e k

(m + n) + k = m + (n + k) e (mn)k = m(nk)

3.              Para quaisquer números m, n e k

m(n + k) = mn + mk

4.              Existe um número 0 que possui a propriedade de quepara qualquer número n

n + 0 = n

5.              Existe o número 1 que tem a propriedade de que paraqualquer número n

n x 1 = n

6.              Para cada número n, existe outro número k tal que

n + k = 0

7.              Para quaisquer números m, n e k

se k ≠ 0 e kn = km, então m = n

A partir desses axiomas outras regras podem ser demonstradas. Por exemplo, aplicando-se rigorosamente os axiomas e presumindo-se nada mais, nós podemos provar rigorosamente a regra aparentemente óbvia de que

se m + k = n + k, então m = n

Para começar podemos declarar que

m + k = n + k

Então, pelo axioma 6, façamos l ser um número tal que k

+ l = 0, assim,

(m + k) + l = (n + k) + l

Então, pelo axioma 2,

m + (k + l) = n + (k + l)

Tendo-se em mente que k + l = 0, nós sabemos que

m + 0 = n + 0

E aplicando o axioma 4 nós podemos finalmente declarar o que nos propusemos a demonstrar:

m = n



Fonte:

O último teorema de Fermat, Simon Singh; tradução de Jorge Luiz Calife

terça-feira, 10 de junho de 2025

sábado, 7 de junho de 2025

MEIO-AMBIENTE: BICHO-PREGUIÇA

 BICHO-PREGUIÇA (BRADYPUS VARIEGATUS)


(preguica-de-coleira)

O bicho-preguiça, cientificamente conhecido como Bradypus variegatus, é um mamífero singular encontrado nas Américas Central e do Sul. Este curioso animal apresenta características físicas distintas, como um corpo coberto por uma pelagem espessa e áspera, muitas vezes colorida por algas, conferindo-lhe uma coloração esverdeada. Com garras longas e curvas adaptadas para pendurar-se nas árvores, exibe uma aparência única e facilmente reconhecível.

A preguiça (como também é chamada) é famosa pelo seu sorriso simpático que na realidade é apenas uma fisionomia do animal que não se relaciona com o seu estado emocional. Quando as preguiças são usadas para turismo com animais silvestres, os turistas podem confundir essa característica física com contentamento e estar se relacionando com um animal estressado.


Hábitos e Habitat



A preguiça é reconhecida por seus hábitos lentos e sua preferência por uma vida arborícola. Passa a maior parte de sua existência nas copas das árvores, alimentando-se principalmente de folhas, brotos e frutas.

Uma curiosidade é que as preguiças podem se mover até três vezes mais rápido quando nadam e podem prender a respiração por impressionantes 40 minutos, baixando sua frequência cardíaca para um terço de sua velocidade normal.

Outra característica curiosa é que a fisiologia da preguiça permite que ela passe 90% de sua vida pendurada de cabeça para baixo, isso é possível porque seus órgãos estão presos às costelas, o que significa que não fazem pressão sobre os pulmões. Confira essas e outras curiosidades no blog da Proteção Animal Mundial.

Seu habitat abrange desde florestas tropicais até áreas mais secas, proporcionando uma ampla distribuição geográfica nas regiões mencionadas.


Contribuição para o Meio Ambiente



Apesar de sua movimentação lenta, as preguiças desempenham um papel crucial no ecossistema. Sua dieta composta principalmente de folhas contribui para a ciclagem de nutrientes nas florestas tropicais, enquanto suas fezes auxiliam na fertilização do solo. Além disso, as preguiças podem ser consideradas um indicador da saúde do ecossistema, refletindo a disponibilidade de recursos e a estabilidade do ambiente em que vivem.


Risco de Extinção

(bicho-preguiça na rodovia BR367, Porto Seguro - foto de Priscila Gomes Ribeiro)


Apesar de suas adaptações únicas, as preguiças enfrentam desafios significativos, colocando-as em risco de extinção. A destruição do habitat devido ao desmatamento e a ameaça constante de atropelamentos em rodovias são fatores prementes. Além disso, a captura ilegal para o comércio de animais de estimação também representa uma ameaça, comprometendo ainda mais a sobrevivência desses animais tão especiais.

Embora não seja uma das espécies mais ameaçadas de extinção, a carinha fofa do bicho-preguiça o coloca, muitas vezes, em uma situação de sofrimento. No Norte do Brasil, algumas pessoas arrancam os filhotinhos da mãe e os deixam acorrentados em cativeiros, de onde são retirados para, com lacinhos na cabeça, posar para fotos nas mãos de turistas.

Essa situação, infelizmente, nos alerta que são vários os tipos de maus-tratos que um silvestre pode ser submetido em nome da atividade turística e um lembrete que o entretenimento dos humanos não deve, nunca, se sobrepor ao bem-estar animal.



Fonte:





Referências


IUCN Red List: Bradypus variegatus. Disponível em: [https://www.iucnredlist.org/species/3038/9721377]. Acesso em 05 de dezembro de 2023.
National Geographic: Sloth Facts and Information. Disponível em: [https://www.nationalgeographic.com/animals/mammals/s/three-toed-sloth/]. Acesso em 05 de dezembro de 2023.


WORLD ANIMAL PROTECTION. 10 fatos sobre preguiças: os animais mais lentos da natureza. Disponível em: [https://www.worldanimalprotection.org.br/mais-recente/blogs/10-fatos-sobre-preguicas-os-animais-mais-lentos-da-natureza/]. Acesso em 05 de dezembro de 2023.

quarta-feira, 4 de junho de 2025

CITAÇÕES: USE COMO EPÍGRAFE ESTE TEXTO DE JOHN IRVING

 


       “Os médicos que pensam que sabem tudo são os que cometem os maiores erros de amador. É assim que um bom médico deve pensar: que há sempre alguma coisa que ele não sabe que sempre pode matar alguém”. 

– John Irving, in “As regras da casa de sidra”, tradução de Pinheiro de Lemos.

domingo, 1 de junho de 2025

MÚSICA: A PAULICEIA DE JOÃO RUBINATO (ADONIRAN BARBOSA)

 


Em 6 de agosto de 1912, na cidade de Valinhos, nascia mais um dos muitos filhos do casal de imigrantes italianos Francesco "Fernando" Rubinato e Emma Ricchin: João Rubinato, que anos mais tarde seria considerado um dos maiores representantes do samba paulista, mas não com o nome de batismo e sim com o pseudônimo que ele mesmo escolheu, homenageando duas pessoas que lhe eram muito queridas: um amigo chamado ADONIRAN e o cantor e compositor carioca Luís BARBOSA. Foi assim que João Rubinato virou ADONIRAN BARBOSA (foto).


Adoniran foi compositor, ator de rádio, cinema e televisão, além de pintor e escultor. Meu primeiro contato (auditivo) com ele deu-se quando eu tinha apenas oito anos de vida. Meus pais gostavam muito de ouvir rádio e às sextas-feiras às 21 horas sintonizavam a PRB-9 Rádio Record “a maior” para ouvir “Histórias das Malocas”, programa humorístico escrito por Osvaldo Moles, onde Adoniran interpretava o personagem Charutinho, sempre às voltas com sua amada Pafunça, interpretada por Maria Amélia. No cinema nosso protagonista fez parte do elenco de “O Cangaceiro”, produção paulista da extinta Cia. Cinematográfica Vera Cruz, em cuja trilha sonora havia números musicais interpretados pelos Demônios da Garoa, conjunto musical que viria a gravar boa parte das composições de Adoniran.

João “Adoniran Barbosa” Rubinato percorreu a Paulicéia com seus sambas, celebrando ou citando vários bairros e logradouros da nossa cidade. Este texto, sem a pretensão de esgotar o assunto, relembra algumas dessas citações.

(Adoniran Barbosana na praça da Sé; foto de Pedro Martinelli, 1978)

Começando pelo Centro lembro-me da triste “Iracema”, contando a tragédia vivida por uma grande paixão, que morreu atropelada na Avenida São João. Falando em amores vem à lembrança “Apaga o fogo Mané”, onde Adoniran narra as desventuras de um homem à procura da mulher que saiu e não voltou mais, chegando a procurá-la na antiga Central de Polícia, no Pátio do Colégio.

Ainda citando a região central de nossa cidade temos “Samba no Bexiga”, satirizando os costumes da grande colônia italiana de São Paulo, da qual Adoniran era um dos integrantes.


A Zona Leste foi muito visitada por Adoniran. O conhecido “Samba do Arnesto” narra a saga de amigos que foram ao Brás a convite de um amigo – o Arnesto – e deram com as caras na porta. Muitos anos depois do estrondoso sucesso de “Saudosa Maloca” Adoniram compôs uma espécie de “resposta” e lançou “Abrigo de Vagabundos”, onde cita o Alto da Mooca. Saindo um pouco do samba, em 1968 ele compôs “Vila Esperança”, deliciosa marcha-rancho falando de um amor de Carnaval, lembrando os antigos carros alegóricos que durante muitos anos desfilaram nas ruas daquele bairro.

(Favela do Vergueiro, 1965-1968)

A Zona Sul abrigou Adoniran de 1955 a 1982, pois foi lá que ele construiu sua residência sita à Rua Coronel Francisco Júlio Cesar Alfierri, 406, Vila Inglesa, na região da Cidade Ademar. Nessa região da cidade ele ambientou “Mulher, patrão e cachaça”, música que trata de um triângulo amoroso envolvendo Violão da Silveira, Cuíca de Souza e Cavaquinho de Oliveira Penteado, personagens que habitavam a antiga Favela do Vergueiro, localizada onde hoje é a Chácara Klabin.

A Zona Norte foi lembrada em “No morro da Casa Verde”, onde o autor reverencia a boemia paulistana, fazendo menção a figuras do bairro.


Ainda na Zona Norte ele ambientou um de seus mais conhecidos sambas, que sem qualquer sombra de dúvida se tornou sua maior proeza: “Trem das Onze”, composta em 1964, faz referência ao saudoso trem da Cantareira, onde algumas vezes eu viajei quando ia visitar meus avós na Água Fria. Adoniran cita o Jaçanã, um dos muitos bairros servidos pela ferrovia paulistana. No ano seguinte (1965) a Cidade Maravilhosa, São Sebastião do Rio de Janeiro, comemorou seu 4º centenário e dentre as várias festividades a prefeitura carioca promoveu um concurso de músicas carnavalescas. No berço do samba a música mais tocada e vencedora do concurso tinha esses versos:

“...moro em Jaçanã, se eu perder esse trem, que sai agora às 11 horas, só amanhã de manhã...”.

(Foto de Pedro Martinelli, 1978)

Adoniran Barbosa morreu em 23 de novembro de 1982, aos 70 anos de idade. Estava internado no Hospital São Luís tratando um enfisema pulmonar, pois era um inveterado tabagista. Foi sepultado no Cemitério da Paz, conforme seu desejo. Deixou, além das músicas citadas nesta crônica, uma enorme coleção de pérolas musicais retratando a vida e os costumes da nossa cidade.



Fonte:

Crônica de Aristeu de Campos Filho

https://www.facebook.com/groups/vivasaopauloantiga/posts/4866536730044383/

quinta-feira, 29 de maio de 2025

CITAÇÕES: USE COMO EPÍGRAFE ESTA FRASE DE ZYGMUNT BAUMAN



“Aquele que busca a sobrevivência assassinando a humanidade de outros seres humanos sobrevive à morte de sua própria humanidade.” 

Zygmunt Bauman, in “Amor líquido – sobre a fragilidade dos laços humanos”, tradução de Carlos Alberto Medeiros,

segunda-feira, 26 de maio de 2025

CIÊNCIA: EINSTEIN E A EQUAÇÃO E=mc² - QUASE UMA TRAGÉDIA GREGA

 


Em uma revista de cinema, o entrevistador perguntou a Cameron Diaz se havia alguma coisa que ela gostaria muito de saber. “O que E=mc² realmente significa”, respondeu ela. O entrevistador riu, ela resmungou que estava falando sério e a entrevista terminou. Nós, leigos, fingimos que entendemos a equação e nem mesmo instruções em primeira mão ajudam, conta Chaim Weizmann, que fez uma longa travessia pelo Atlântico com Einstein em 1921: “Ele me explicava sua teoria todos os dias e logo tive a impressão de que ele a entendia”. Quem preparou o caminho para que Einstein chegasse ao mais brilhante insight (o segundo mais brilhante, por coincidência, é dele também) de muitos séculos, ou, talvez, descobriremos um dia, da história da humanidade?



David Bodanis, em E=mc² – Uma biografia da equação que mudou o mundo e o que ela significa, deixa de lado os foguetes, lanternas e diagramas incríveis e conta a história da equação desde seu nascimento, seus antepassados: homens e mulheres apaixonados por física, química e matemática. Guerras de egos, roubos de ideias e –uma constante– o total desprezo de acadêmicos consagrados pelas ideias originais de amadores. A história toda acaba por se tornar mais prazerosa do que tentar entender os meandros da genial mente de Albert, e o "como funciona" da famosa equação deixo para o dia em que eu verdadeiramente entendê-la.

Einstein em 1912

Einstein não era um aprendiz humilde e exemplar. Questionava a autoridade de professores, contava piadas nas aulas, isto, quando estava presente. Há aquela famosa profecia do seu professor de gramática grega do curso secundário: “O senhor nunca chegará a ser alguém na vida” (anos depois, a irmã de Albert, Maja, comenta ironicamente que ele realmente nunca foi “alguém” mesmo, pois nunca foi mestre em gramática grega). Quando a equação nasceu, Albert cumpria expediente no escritório de patentes em Berna, na Suíça, um emprego arranjado pelo amigo Marcel Grossman – as referências do gênio eram péssimas. As horas trabalhavam contra ele e, quando saía, a única biblioteca de ciências da cidade estava fechada, nem sequer podia se manter em dia com as últimas descobertas (o que foi sua grande sorte, assim como John Forbes Nash Jr., Nobel de Economia, que se manteve longe do pensamento acadêmico tanto quanto do “da moda”, sempre em busca da tal “ideia original”, fato que havia acontecido no passado com Michael Faraday). Em minutos livres, rabiscava nas folhas que guardava em seu departamento de física teórica as ideias que tinha –o “departamento de física teórica” era como ele chamava uma pequena gaveta de sua mesa, fechada a maior parte do tempo.


O Nascimento de E=mc²


Numa das longas caminhadas que Albert fazia com o amigo Michele Besso, nas quais normalmente tagarelavam sobre música e a rotina do escritório, na primavera de 1905, Besso percebeu que o amigo estava inquieto. Einstein sentia que muitas coisas em que pensara nos últimos meses estavam finalmente fazendo sentido. Estava muito perto de entender, a excitação mental era enorme naquela noite. No dia seguinte, compreendeu. E=mc² tinha chegado ao mundo.

Quem esteve por trás disso tudo antes da chegada de Einstein

Michael Faraday

Michael Faraday vivia na Londres de 1810 e trabalhava como encadernador para fugir da pobreza de filho de ferreiro que era. O emprego tinha uma vantagem, nas palavras dele: “Havia muitos livros lá, e eu os li”. Quando estava com vinte anos, um visitante da oficina ofereceu a ele ingressos para uma série de palestras na Instituição Real. Ouvindo Sir Humphry Davy falando sobre eletricidade e energias estranhas, imaginou uma vida melhor que aquela da oficina. Sem a mais remota possibilidade de entrar em Oxford ou Cambridge, pela pobreza extrema, pensou que poderia usar aquilo que sabia fazer muito bem: encadernar um livro. Redigiu por extenso as notas sobre a palestra de Davy, acrescentou desenhos de seu aparelho de demonstração, pegou seu couro, sovelas e ferramentas de entalhar e os encadernou em um livro extraordinário, que enviou a Sir Humphry Davy. Que, claro, quis conhecê-lo e contratou-o como assistente de laboratório.



Faraday fazia parte de uma seita cristã, os Sandemanistas, que acreditavam em uma relação circular divina. Assim: os seres humanos seriam sagrados e deviam obrigações uns para com os outros, eu ajudarei você e você ajudará o próximo e o próximo ajudará outro ainda, e assim por diante até que se complete o círculo. Seu conhecimento formal era limitado e enquanto os acadêmicos pensavam em linhas retas para explicar a relação entre magnetismo e eletricidade, ele via círculos rodopiando em torno dos imãs. Foi a descoberta do século, a base do motor elétrico. A unificação da Energia. Quando o fio foi arrastado circulando pelo imã, o cunhado de Faraday, George Barnard, contou que nunca pôde esquecer o olhar dele e suas palavras: “Você vê, você vê, você vê, George?”. Os diferentes tipos de energia estavam vinculados, eletricidade e magnetismo, pela mente de um filho de ferreiro de vinte e nove anos. Então, Sir Humphry Davy o acusou de roubar a ideia em denúncias públicas de plágio, que fizeram Faraday enclausurar-se e somente voltar a trabalhar publicamente depois da morte de Davy.

Antoine Laurent Lavoisier

Antoine Laurent Lavoisier era um contador. Trabalhava numa empresa de arrecadação de impostos. Durante uma ou duas horas pela manhã e apenas um dia inteiro por semana (que ele chamava de jour de bonheur, "dia de felicidade") ele trabalhava em sua ciência. Com a ajuda de sua noiva, ele desejava investigar como se comportava um pedaço de metal a queimar ou enferrujar. Queria descobrir se pesava mais ou menos do que antes. (David Bodanis pergunta antes de dizer o resultado o que você, leitor, acha? Um pedaço de ferro-velho pesará: mais; menos; o mesmo? Estamos tão preocupados com as coisas, aquele relacionamento amoroso fracassado, a velocidade de nossa internet, sapatos, o preço da gasolina ou o abdômen que esquecemos os joguinhos de ciência da infância, foi a minha conclusão ao perceber que eu não sabia). Mediram o ar perdido, o metal mutilado, e sempre, o mesmo resultado. Pesava mais. Descobriu que o oxigênio não havia sido queimado e desaparecido para sempre, havia aderido ao metal a mesma quantidade de peso que o ar havia perdido. Foi uma descoberta do mesmo nível da de Faraday, graças a seus dons contábeis, que logo também o matariam.

Jean-Paul Marat (1743-1793)

Jean-Paul Marat havia inventado um aparelho para exame por infravermelho, apresentou-o a Lavoisier, que o rejeitou e convenceu a Academia a fazer o mesmo. Achava que os padrões de calor não poderiam ser medidos da maneira como o médico estava proclamando que fazia. Marat amargou anos de miséria por culpa desta rejeição. Lavoisier continuava sua carreira, tanto na Academia quanto na arrecadação de impostos e teve a ideia de reconstruir um muro ao redor de Paris – havia existido um semelhante em tempos medievais – para que os cidadãos pagassem um pedágio, resultando numa maior arrecadação. O povo odiava o tal muro. Quando a Revolução Francesa começou, Marat fez questão de denunciar e lembrar e relembrar quem o construiu ao povo inflamado pela revolução, usando seu maravilhoso poder de oratória para isso. Vingou-se com todo o ódio que acumulou do homem que tinha a pele bonita dos saudáveis enquanto ele possuía a tez marcada pelas inúmeras doenças da pobreza. Lavoisier morreu na guilhotina em 1794.


Tragédia Grega

Marie Curie, c1920

Há tantas histórias mais: de Lise Meitner que teve o estudo da fissão nuclear roubada pelo ex-amante Otto Hahn; Ole Roemer, jovem astrônomo que não conseguiu convencer o orgulhoso mestre Cassini e a Academia de que a luz não era instantânea; Marie Curie que morre de câncer por tanto estudar a radiação; e, até mesmo Albert Einstein que teve a equação brilhante quase totalmente ignorada porque não se ajustava, na época, ao que os outros cientistas estavam fazendo.

Uma história de vaidades humanas e paixões que fez os maiores avanços científicos de nossa época. Úrsula Iguarán em Cem Anos de Solidão, repetia sempre que sentia a qualidade do tempo mudar, envelhecia e via os dias ficarem mais curtos e as crianças crescerem mais rápido. Eu envelheço e vejo que a qualidade das pessoas mudou. Como tinham paixão! Hoje, vê-se que os tais jovens brilhantes querem fazer faculdade e ser alguém. Ah, querem tanto ser alguém! Nossas capacidades contábeis ainda hão de nos matar como a Lavoisier – sem o glamour da guilhotina. Este livro deu-me mais perguntas do que respostas. Quando o terminei, Albert Einstein (que odiava o esnobismo de Princeton e os amigos ouviam-no sempre dizer: “esta vila de semideuses insignificantes em pernas de pau”) pairava acima da humanidade, com aquele olhar de indulgência com a desgraça e beleza da natureza humana que fez-me levantar os olhos do livro com um meio sorriso e pensar: “gênio, gênio...”.

Vila de semideuses insignificantes em pernas de pau.

Gênio, gênio...

Com a descoberta da lei do efeito fotoelétrico Einstein 
recebeu seu Prêmio Nobel, considerado tardio, em 1921



FONTE:

Autora: Andrea Trompczynski



Nota: as fotos não são do artigo original, mas do autor do blog.