quinta-feira, 30 de outubro de 2025

SERIAL KILLER: CHICO PICADINHO



CHICO PICADINHO: A HISTÓRIA MACABRA 
DO SERIAL KILLER BRASILEIRO


Chico Picadinho na década de 70 – Reprodução: Veja

Francisco das Chagas Costa Rocha, mais conhecido como Chico Picadinho, foi um dos serial killers mais notórios do Brasil, cujos crimes brutais deixaram São Paulo em choque nas décadas de 1960 e 1970. Sua trajetória, marcada por assassinatos violentos e um passado profundamente traumático, continua a fascinar e assustar até os dias de hoje.

Infância Traumática e Início da Violência

Nascido em 1942, em Vila Velha, Espírito Santo, Chico Picadinho viveu uma infância conturbada, cercada por abandono e abusos. Ainda jovem, foi expulso de casa após constantes brigas com a mãe, com quem mantinha uma relação repleta de agressões e humilhações. A partir de então, passou a sobreviver com pequenos trabalhos e furtos, mas também desenvolveu uma forte dependência de álcool e drogas, o que agravou seu comportamento instável.

Com uma sexualidade assumidamente bissexual, Chico revelou durante os interrogatórios psiquiátricos, após sua prisão, que não tinha preferência entre ser passivo ou ativo nas relações, mas que seu foco estava em manter sua masculinidade e obter prazer. Grande parte de sua renda era gasta em jogos de azar e na contratação de prostitutas, estabelecendo uma rotina perigosa e descontrolada.

O Primeiro Assassinato

Em 1966, com 24 anos, Chico Picadinho cometeu seu primeiro crime brutal. A vítima foi Maria das Graças Domingues, uma prostituta da região da Boca do Lixo, em São Paulo. Após matá-la, ele a estuprou e esquartejou, espalhando os restos mortais pela cidade. O crime causou grande comoção pública e deu início à sua fama macabra, que culminou no apelido “Chico Picadinho”, em referência à maneira como desmembrava suas vítimas.

Prisão e Julgamento

Chico Picadinho foi condenado por seu primeiro crime em 5 de agosto de 1966, foi sentenciado a 18 anos de prisão por homicídio qualificado, mais 2 anos e 6 meses por destruição de cadáver. A pena foi posteriormente reduzida para 14 anos e 4 meses. Durante seu tempo na prisão, estudou, trabalhou e se casou. Em 1974, obteve liberdade, com laudos excluindo a possibilidade de psicopatia.

No entanto, dois anos e cinco meses após sua soltura, em 1976, ele cometeu outro assassinato. Foi condenado a 22 anos e 6 meses de prisão, sendo diagnosticado como semi-imputável, devido à personalidade psicopática complexa. Em 1994, foi submetido a novos exames psiquiátricos e transferido para a Casa de Custódia e Tratamento de Taubaté para tratamento médico, com o Ministério Público pedindo sua interdição em regime fechado.

Em 2017, a juíza Sueli Zeraik determinou sua soltura, argumentando que Chico havia cumprido sua pena e a interdição civil excedia o limite legal. No entanto, o desembargador Ricardo Dip manteve a custódia, alegando que Chico Picadinho precisava de tratamento médico devido ao diagnóstico de personalidade sádica e psicopática. A decisão foi reafirmada em maio de 2017.

Chico, estudante de Direito na época dos crimes, é descrito como lúcido, dedicando-se à pintura. Ele mencionou em entrevistas a influência do romance Crime e Castigo, de Dostoiévski, ao cometer os crimes.


Perfil Psicológico e Motivações Perturbadoras

Avaliações psicológicas realizadas após sua prisão revelaram que Chico Picadinho sofria de transtorno de personalidade narcisista, com fortes tendências sádicas. Ele demonstrava extrema frieza ao descrever seus crimes, fornecendo detalhes chocantes sem qualquer sinal de remorso. Sua mente perturbada parecia alimentar-se da violência, refletindo traços profundos de distúrbios emocionais ligados à sua infância abusiva.

Alguns especialistas sugerem que ele possa ter sido influenciado pelo romance “Crime e Castigo”, de Fiódor Dostoiévski, uma obra que ele admirava. No livro, o protagonista, Raskólnikov, também comete um assassinato e vive em conflito com sua própria consciência, o que teria, de certa forma, inspirado Chico em seus atos macabros.

Impacto na Sociedade e o Legado Sombrio de Chico Picadinho

Os assassinatos de Chico Picadinho causaram grande impacto na sociedade brasileira, gerando debates sobre violência, segurança pública e questões de saúde mental. Seus crimes, devido à brutalidade, repercutiram na mídia e se tornaram tema de livros, filmes e peças de teatro. Chico Picadinho tornou-se um símbolo dos perigos escondidos na mente humana, lembrando a todos como traumas profundos podem se manifestar de maneira violenta e imprevisível.

Chico Picadinho - foto recente na prisão

Atualmente, Chico Picadinho segue preso na Casa de Custódia de Taubaté, em São Paulo, cumprindo pena pelos assassinatos que cometeu. Mesmo décadas após seus crimes, sua história ainda desperta interesse e repulsa, permanecendo como um dos capítulos mais sombrios da criminologia brasileira.


Fonte

Equipe True Crime BR

2 de outubro de 2024


segunda-feira, 27 de outubro de 2025

CITAÇÕES: USE COMO EPÍGRAFE ESTA FRASE DE LIMA BARRETO

 


  “De todas as coisas tristes de ver, no mundo, a mais triste é a loucura; é a mais depressora e pungente.” 

Lima Barreto, in “Triste fim de Policarpo Quaresma”. 

 Penguin – Companhia das Letras, 2011.

sexta-feira, 24 de outubro de 2025

ARTES PLÁSTICAS: FRIDA KAHLO



“NÃO POSSO FUGIR DA MINHA VIDA, NEM REGRESSAR A TEMPO AO OUTRO TEMPO.”

– FRIDA KAHLO



Magdalena Carmen Frida Kahlo y Calderon, conhecida como Frida Kahlo, nasceu no dia 6 de julho de 1907 em Coyoacan, no México.

Em 1925, aos 18, enquanto estudava medicina, sua vida mudou de forma trágica. Frida e o seu noivo Alejandro Gómez Arias estavam em um ônibus que se chocou com um trem. Ela sofreu múltiplas fraturas, fez várias cirurgias (35 ao todo) e ficou muito tempo presa em uma cama. Foi nessa época que ela começou a pintar freneticamente.

Frida sempre se autorretratou – suas angústias, suas vivências, seus medos e principalmente seu amor pelo marido, o pintor e muralista mexicano mais importante do século 20, Diego Rivera, com quem se casou em 1929, e que ajudou Frida a revelar-se como artista.

Em 1939 fez sua primeira exposição individual, na galeria de Julien Levy, em Nova York, e foi sucesso de crítica. Em seguida, seguiu para Paris. Lá conheceu Pablo Picasso, Wassily Kandinsky, Marcel Duchamp, Paul Éluard e Max Ernst. O Museu do Louvre adquiriu um de seus autorretratos. Em 1942 Frida e o marido começaram a dar aulas de arte em uma escola recém-aberta na Cidade do México. Após muitos altos e baixos, como os três abortos e a relação amorosa rodeada por casos extraconjugais dos dois, seu estado de saúde piorou. Em 1950 os médicos diagnosticaram a amputação da perna e ela entrou em depressão. Pintou suas últimas obras, como Natureza Morta (Viva a Vida).

Na madrugada de 13 de julho de 1954, Frida, com 47 anos, foi encontrada morta em seu leito. No diário, deixou as últimas palavras: “Espero alegre a minha partida – e espero não retornar nunca mais.”

As obras de Frida possuem uma estética muito próxima ao surrealismo com influência da arte folclórica indígena mexicana, cultura asteca, tradição artística europeia, marxismo e movimentos artísticos de vanguarda. Destacou-se ainda pelo uso de cores fortes e vivas.

“Única aprendizagem possível: a de si mesma, captada pelo pequeno espelho das dimensões de um retrato. Único material humano: o seu, pois não pode ir ao encontro dos outros, mas sempre cercada pela expressão que os grandes retratistas alemães e italianos dão a figura humana. Desse confronto com a própria identidade nascem as problemáticas que tocam a própria essência da arte: a ilusão, o desdobramento, a relação com a morte. Bem mais que uma autobiografia, seus autorretratos se revelam como “imagens do interior” de uma mulher que se lançou em uma busca tanto existencial quanto estética, de um ser em processo de vir a ser, de uma consciência que nasce. “

– Cátia Inês Schuh, trecho da tese “A prospecção pós-moderna da comunicação visual no imaginário de Frida Kahlo” (Tese Doutorado em Artes). Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, 2006, p. 29.

“Quem diria que as manchas vivem e ajudam a viver? Tinta, sangue, cheiro. Não sei que tinta usar, qual delas gostaria de deixar desse modo o seu vestígio. Respeito-lhes a vontade e farei tudo o que puder para escapar do meu próprio mundo.”

– Frida Kahlo, no livro “O diário de Frida Kahlo: um autorretrato íntimo”. [tradução de Mário Pontes; introdução de Frederico Moraes]. 3ª ed., Rio de Janeiro: José Olympio, 2012.

Frida Kahlo, ‘El Camion’ (1929)


Frida Kahlo, ‘Autorretrato con Collar’ (1933)

Frida Kahlo, ”Autorretrato como tehuana 

Frida Kahlo, ‘Yo y Mis Pericos'(1941)


Frida Kahlo ‘Autorretrato con chango y loro'(1942)

Frida Kahlo, ‘As Duas Fridas’ (1939)


Frida Kahlo, ‘El abrazo de amor del Universo, la Tierra, México,

 Diego, yo y el señor Xólotl’ (1949)



Obras de referência


BURRUS, Christina. Frida Kahlo: pinto a minha realidade. [tradução Eliana Aguiar]. Rio de Janeiro: Editora Objetiva, 2010.
KAHLO, Frida. O diário de Frida Kahlo: um autorretrato íntimo. [tradução de Mário Pontes; introdução de Frederico Moraes]. 3ª ed., Rio de Janeiro: José Olympio, 2012.

Fonte:






terça-feira, 21 de outubro de 2025

CITAÇÕES: USE COMO EPÍGRAFE ESTA FRASE DE MARGARET ATWOOD

 


     “Homens temem que mulheres riam deles. Mulheres temem que homens as matem.” 

Margaret Atwood, apud Alberto Manguel, in “Uma história natural da curiosidade”; tradução de Paulo Geiger.

sábado, 18 de outubro de 2025

CRIME: DANA DE TEFFÉ, NA DÉCADA DE 1960



A MORTE DA MILIONÁRIA DANA DE TEFFÉ NA DÉCADA DE 1960


Desaparecida em 1961, a socialite Dana de Teffé foi vista pela última vez entrando no carro do advogado Leopoldo Heitor de Andrade Mendes, com quem faria uma viagem do Rio de Janeiro para São Paulo. Principal suspeito de tê-la matado, ele contou três histórias diferentes


O que teria acontecido à socialite Dana de Teffé? Ela foi vista pela última vez na noite de 29 de junho de 1961, entrando no carro do advogado Leopoldo Heitor de Andrade Mendes, com quem faria uma viagem do Rio de Janeiro para São Paulo. Linda, rica e bem relacionada, tinha então 48 anos. Heitor, 38. Judia nascida Dana Edita Fitscherova na antiga Tchecoslováquia, ela fugiu para a Itália aos 15 anos, depois de perder os pais e a irmã na Segunda Guerra Mundial. Lá, tornou-se amante do tenente-coronel fascista Ettore Muti, morto em um atentado durante um passeio dos dois pelas cercanias de Roma. Logo, ela migrou para a Espanha e, em 1944, casou-se com o dentista Umberto Dias. Quatro anos depois, trocou a Espanha pelo México e conheceu seu terceiro marido, o jornalista Carlos Denegri. Em outubro de 1951, já separada dele, veio para o Brasil. Desembarcou na alta sociedade carioca, onde, em um jantar de gala, foi apresentada ao diplomata e corredor de automóveis brasileiro Manoel de Teffé, de família muito rica, por quem se apaixonou instantaneamente. Contando com Ettore Muti, que se separou da mulher para ficar com ela, era seu quarto casamento. Os dois ficaram juntos até 1961. Para cuidar da papelada do desquite, constituíram o escritório de advocacia de Oscar Stevenson. O advogado responsável pela parte de Dana na divisão de bens era Leopoldo Heitor…


Advogado do Diabo

Famoso por motivos não necessariamente dignificantes, Heitor era uma figura polêmica. Da primeira vez em que seu nome surgiu no noticiário policial, estava atrelado ao rumoroso crime da ladeira do Sacopã, no Humaitá, zona sul do Rio. No dia 6 de abril de 1952, o bancário Afrânio Arsênio de Lemos foi encontrado morto com três tiros dentro de seu Citroën preto. A polícia recolheu no local um retrato de Marina de Andrade Costa, namorada do tenente da FAB Alberto Bandeira. Várias versões foram levantadas para explicar o caso, que a essa altura havia ganhado enorme projeção na mídia. Leopoldo Heitor, que adorava um holofote, apareceu no distrito responsável pelo inquérito dizendo que um cliente seu era testemunha ocular do crime. Depois de algum suspense, trouxe para depor um suposto amigo da vítima chamado Walton Avancini. O depoente contou uma história cheia de voltas, que juntava um pouco de tudo o que já havia se especulado na mídia, e terminava por incriminar o tenente Bandeira. Graças a Avancini e a uma série de outras testemunhas de ocasião, Bandeira acabou sendo condenado a 15 anos de prisão, em um processo considerado anos mais tarde ilegítimo pelo Supremo Tribunal Federal (Bandeira já havia cumprido sete anos de prisão e deixado a cadeia). Leopoldo Heitor ganhou a alcunha de “advogado do diabo”. Em 1957, voltou às manchetes por envolvimento na falsificação de um cheque de 18 milhões de cruzeiros. Acuado, ele fugiu com a mulher para a Argentina e ficou lá até 1960, quando a sentença já havia sido revogada.

 O advogado Leopoldo Heitor de Andrade Mendes depõe num dos júris.

Por todo esse histórico, os amigos de Dana de Teffé recomendaram muita prudência quando perceberam que Leopoldo Heitor se aproximava cada vez mais dela. A atriz Zélia Hoffman contou depois do desaparecimento da amiga que “sabia das trapalhadas dele, mas a Dana sempre o defendia”. Um dia, Heitor disse à cliente que havia arrumado para ela um posto de representante para a América Latina da empresa Olivetti, de máquinas de escrever. Dana acreditava que seu dinheiro não duraria para sempre e por isso queria arranjar um emprego. Heitor explicou que a sede da empresa era em São Paulo, e a convenceu a fazer a viagem de carro. Os dois partiram do Edifício Marcilia, que existe até hoje na praia de Botafogo, às 22h daquele 29 de junho. Nunca mais encontraram nem mesmo seu corpo. Heitor apareceu dias depois, com um ferimento na perna, e contou a primeira de três versões para explicar o sumiço de sua acompanhante. Disse que assim que chegaram a São Paulo, um “senhor distinto” aproximou-se deles em um restaurante, falando outro idioma, e disse a ela que sua mãe havia sobrevivido e estava em um asilo na Tchecoslováquia. Aos prantos, Dana teria decidido embarcar imediatamente para Praga. Quando Heitor ponderou: “Mas você vai precisar de dinheiro”, ela teria escrito uma carta-procuração dando a ele poderes para vender seu apartamento e joias. O advogado ainda calculara que seria preciso “uma boa reserva para tirar a mãe do asilo”. O ferimento na perna, segundo ele, fora causado por “fogos de artifícios que amigos de meus filhos soltaram”.

Em uma segunda versão, Heitor afirmou que havia tido problemas com o carro e, ao parar para verificar o que era, foi assaltado. Depois de travar um tiroteio com o bandido, percebeu que Dana havia sido atingida. Pensou em levá-la para um hospital em Barra do Piraí, no interior fluminense, mas no caminho viu que ela já estava morta. Com receio de ser acusado de assassinato, procurou um amigo para ajudá-lo no sepultamento do cadáver. Quem era? Ele não podia dizer. Onde o corpo foi sepultado? Só o amigo sabia. Uma terceira versão, que ele sustentou até o último dos quatro julgamentos a que foi submetido entre 1963 e 1971, dava conta de que Dana havia sido sequestrada por um grupo de nazistas (mais de 15 anos depois da guerra) ou comunistas tchecos. Eram “homens altos, louros e fortes”. “Minha tese é a de sempre, que Dana foi sequestrada e levada para fora do Brasil”, disse ele, em 1999, para um programa da TV Globo. “Quem conta três verdades, não conta nenhuma”, sustentava o promotor José Ivanir Gussem.


Minha Casa, Sua Vida


Dois meses depois do sumiço de Dana, Leopoldo Heitor mudou-se com a mulher, Verinha, e os dois filhos para o apartamento dela. A promotoria o acusou de ter transformado um ponto em vírgula, ao fim da procuração assinada por Dana, e acrescentado que ele tinha direito a vender, alugar e receber todos os bens dela. Nove meses depois, o advogado já havia embolsado mais de 25 milhões de cruzeiros da vítima, ou o equivalente a mais de R$ 1 milhão. Tudo indicava que Leopoldo Heitor havia matado Dana de Teffé para ficar com o dinheiro dela. As histórias dele não se confirmavam. A Olivetti desmentiu que o cargo de representante para a América Latina estivesse vago e também que o nome de Dana tinha sido cogitado para ocupá-lo. Tampouco havia registros da saída da tcheca do Brasil, de acordo com investigações feitas no consulado, nas companhias aéreas e na polícia marítima. A promotoria questionava como Dana poderia deixar o país, se seu passaporte estava entre os documentos reunidos no processo. Segundo Heitor, sua cliente deixara o Brasil com um passaporte falso. Nessa versão, Dana havia ligado de fora e, apesar de ter pedido para não comentar o telefonema com ninguém, ele contratara um “escritório internacional” e descobrira que ela estava em Praga.

Nesse ponto, Oscar Stevenson resolveu ir à polícia para dar um depoimento. Pelo que declarou na época, ele já havia esperado tempo demais para que Heitor se entregasse. Apresentou um minucioso relatório no qual dizia ter convicção de que o réu, seu ex-amigo fraternal, havia cometido o homicídio e dado sumiço no corpo. No dia seguinte, a manchete nos jornais era “Stevenson: Quem Matou foi Heitor”. Ainda apareceram outras testemunhas, como Francisco da Silva, o Chico, que era caseiro havia mais de dez anos no sítio de Leopoldo Heitor. Ele contou que na noite do desaparecimento de Dana ouviu tiros vindos da casa do patrão e que, no dia seguinte, Heitor pediu que ele enterrasse um corpo no cemitério da igreja da região. Chico levou os investigadores ao local e de fato havia a ossada de uma mulher. Porém, descobriu-se que era negra. Heitor afirmou que Chico era desequilibrado e, quando a polícia procurou o caseiro, ele havia desaparecido.



Todos os indícios apontavam para Leopoldo Heitor de Andrade Mendes. Preso em 31 de março de 1962, sob a acusação de homicídio e ocultação de cadáver, ele fugiu em 4 de outubro do mesmo ano. Capturado dez dias depois no Mato Grosso, Heitor foi julgado em fevereiro de 1963 e condenado a 35 anos de cadeia, dos quais cumpriu oito. Em dezembro de 1964, mesmo preso, o Tribunal de Justiça do Rio anulou a sentença do juiz Ulysses Salgado, e o réu foi a novo julgamento. Embora tudo indicasse que ele havia dado sumiço no corpo, e não houvesse nenhum outro suspeito, o advogado foi absolvido em mais três julgamentos. O júri foi convocado em Rio Claro, interior de São Paulo, onde o réu tinha um sítio e era considerado por todos um advogado sempre disposto a ajudar os mais carentes. No tribunal Leopoldo Heitor assumiu sua própria defesa. O júri foi anulado porque a imprensa conseguiu entrar na sala onde jurados e o juiz decidiriam a sentença. Em outros dois julgamentos na mesma cidade, o último em 1971, Heitor foi absolvido. O promotor Gussem afirmou tempos mais tarde que “em Rio Claro, ninguém ganharia aquele júri”. Alguns jurados que nunca tinham saído da cidade disseram décadas depois que não tinham ideia de quem fosse Dana de Teffé. Um deles chegou a afirmar que “estava querendo que aquilo acabasse logo, não entendia nada do que se passava”. Por falta de provas materiais, o Supremo Tribunal de Justiça não autorizou a reabertura do processo. Em 1981 o crime prescreveu. Depois de sair da cadeia, Leopoldo Heitor ainda se casou duas vezes. Ao morrer, em 2001, com 78 anos, deixou dez filhos e um enigma que jamais será decifrado.


Fonte:

Autor: Paulo Sampaio

Da Revista J.P





quarta-feira, 15 de outubro de 2025

CITAÇÕES: USE COMO EPÍGRAFE ESTA FRASE DE ALBERTO MANGUEL






A curiosidade é um meio de declarar nossa aliança com a comunidade humana”. 

– Alberto Manguel, in “Uma história natural da curiosidade”; tradução de Paulo Geiger.

sábado, 11 de outubro de 2025

FEMININISMO: A HISTÓRIA DA BIÓLOGA MARINHA QUE INICIOU O MOVIMENTO AMBIENTALISTA GLOBAL

 

RACHEL CARSON

1907-1964

Foto da Biblioteca do Congresso dos EE.UU.

Bióloga marinha e escritora sobre natureza, Rachel Carson catalisou o movimento ambientalista global com seu livro Primavera Silenciosa , de 1962. Descrevendo os perigos dos pesticidas químicos, o livro levou à proibição nacional do DDT e de outros pesticidas e desencadeou o movimento que levou à criação da Agência de Proteção Ambiental dos EUA (EPA).



Nascida em 27 de maio de 1907 em uma fazenda em Springdale, Pensilvânia, Carson era a mais nova dos três filhos de Robert e Maria McLean Carson. Ela desenvolveu o amor pela natureza por meio da mãe, e Carson tornou-se escritora de revistas infantis aos 10 anos. Frequentou o Pennsylvania College for Women (hoje Chatham University), graduando-se com distinção em 1929. Em seguida, estudou no Instituto Oceanográfico de Woods Hole, Massachusetts, e na Universidade Johns Hopkins, onde obteve o título de mestre em zoologia em 1932. A situação financeira difícil da família a forçou a abrir mão do doutorado e a ajudar a sustentar a mãe e, mais tarde, duas sobrinhas órfãs.

Woods Hole Oceanographic Institution

Depois de superar todos os outros candidatos no concurso público, em 1936, Carson tornou-se a segunda mulher contratada pelo Departamento de Pesca dos EUA. Permaneceu lá por 15 anos, escrevendo folhetos e outros materiais para o público. Foi promovida a editora-chefe de todas as publicações do Serviço de Pesca e Vida Selvagem dos EUA.



Enquanto isso, ela escreveu vários livros populares sobre a vida aquática, entre eles Under the Sea Wind (1941) e The Sea Around Us (1951). Este último foi serializado no New Yorker e vendeu bem em todo o mundo. Ela ganhou um National Book Award, um prêmio nacional de escrita científica e uma bolsa Guggenheim, que, com as vendas do livro, permitiu que ela se mudasse para Southport Island, Maine, em 1953, para se concentrar na escrita. Em 1955, ela publicou The Edge of the Sea , outro vendedor popular. Ela também começou um relacionamento com Dorothy Freeman, uma residente de verão casada. Embora grande parte de sua correspondência tenha sido destruída pouco antes da morte de Carson, o resto foi publicado pela neta de Freeman em 1995 como Always, Rachel: The Letters of Rachel Carson and Dorothy Freeman, 1952–1964: An Intimate Portrait of a Remarkable Friendship.


Após a morte de uma sobrinha no início de 1957, Carson adotou o filho e se mudou para Silver Spring, Maryland, para cuidar da mãe idosa. Uma carta de um amigo em Duxbury, Massachusetts, sobre a perda de aves após a pulverização de pesticidas inspirou Carson a escrever Primavera Silenciosa . O livro foca principalmente nos efeitos dos pesticidas nos ecossistemas, mas quatro capítulos detalham seu impacto nos seres humanos, incluindo o câncer. Ela também acusou a indústria química de disseminar informações falsas e autoridades públicas de aceitarem as alegações da indústria sem críticas.

Sede da Sociedade Geográfica Americana em Nova York

Empresas químicas tentaram desacreditá-la como comunista ou histérica. Muitas retiraram seus anúncios do especial de TV da CBS Reports, de 3 de abril de 1963, intitulado "A Primavera Silenciosa de Rachel Carson". Mesmo assim, cerca de 15 milhões de telespectadores assistiram, e isso, somado ao Relatório do Comitê Consultivo Científico do presidente John F. Kennedy — que validou a pesquisa de Carson —, tornou os pesticidas uma questão pública de grande importância. Carson recebeu medalhas da National Audubon Society e da American Geographical Society, além de ser admitida na Academia Americana de Artes e Letras.

Gravemente doente com câncer de mama, Carson faleceu dois anos após a publicação de seu livro. Em 1980, recebeu postumamente a Medalha Presidencial da Liberdade. Suas casas são consideradas marcos históricos nacionais, e vários prêmios levam seu nome.



Obras Citadas

Baum, Rudy M., Página do editor: “Rachel Carson”, American Chemical Society, Chemical & Engineering News , 4 de junho de 2007. Acessado em 3 de fevereiro de 2015.

Ingram, Janet. "Rachel Carson." Scribner Encyclopedia of American Lives, Série Temática: Década de 1960. William L. O'Neill e Kenneth T. Jackson, orgs. Nova York: Charles Scribner's Sons, 2003. História dos EUA em Contexto . Acessado em 3 de fevereiro de 2015.

Lear, Linda. Rachel Carson: Testemunha da Natureza . Nova Iorque: Houghton Mifflin Harcourt, 2009.

Lewis, Jack. “O Nascimento da EPA”. Agência de Proteção Ambiental dos EUA. Acessado em 3 de fevereiro de 2015.

Nixon, Rob. "A presciência de Rachel Carson." The Chronicle of Higher Education 59.02 (2012). História dos EUA em Contexto . Acessado em 3 de fevereiro de 2015.

"Rachel Carson." Mulheres Cientistas Notáveis . Gale, 2000. História dos EUA em Contexto . Acessado em 3 de fevereiro de 2015. História dos EUA em Contexto . Gale, 2000. Mulheres Cientistas Notáveis. "Rachel Carson."

“Rachel Carson.” Bill Moyers Journal na PBS, 21 de setembro de 2007. Acessado em 3 de fevereiro de 2015.

“Biografia de Rachel Carson”. A Vida e o Legado de Rachel Carson. Acessado em 3 de fevereiro de 2015.

Sykes, Kathy. “Celebrando a vida e o legado de Rachel Carson”. Tudo começa com a ciência: um blog da EPA sobre questões científicas. Acessado em 3 de fevereiro de 2015.

Weatherford, Doris. História das Mulheres Americanas: De A a Z: Pessoas, Organizações, Questões e Eventos . Nova Iorque: Macmillan General Reference, 1994.

Fonte:

Debra Michals, PhD, 2015





segunda-feira, 6 de outubro de 2025

CITAÇÕES: USE COMO EPÍGRAFE ESTE TEXTO DE ENRIQUE VILLA-MATA

 


     “Não há viagem de trem em que a janela não me leve, por um momento, a recordar a história que se conta do poeta W. H. Auden, que cruzava os Alpes num trem junto com alguns amigos e lia atentamente um livro, mas seus acompanhantes não paravam de soltar exclamações de êxtase ante a majestosa paisagem; durante décimos de segundo, Auden levantou a vista do livro, olhou pela janela do vagão do trem e regressou à sua leitura dizendo: ‘Uma olhada dá e sobra’.” 

– Enrique Villa-Mata, in “Montevidéu”, 

tradução de Júlio Pimentel Filho.

sexta-feira, 3 de outubro de 2025

HISTÓRIA: O VINHO DA ILHA DA MADEIRA


DE LASTRO DE NAVIOS À IGUARIA: A INTERESSANTE SAGA DO VINHO PORTUGUÊS DA ILHA DA MADEIRA



Na época das grandes navegações, não havia caravela que partisse de Portugal que não levasse, nos porões, muitas barricas de vinho, para o consumo das tripulações. Elas, contudo, também tinham outra finalidade: servir de lastro para melhorar a precária estabilidade das naus.

Durante as longas travessias, na medida em que o vinho era consumido, as barricas vazias eram preenchidas com água do mar, a fim de manter o lastro necessário para que as caravelas não sofressem tanto nos mares mais agitados.

Mas, às vezes, algumas barricas retornavam ainda cheias das viagens. Quando isso acontecia, revelavam um vinho de sabor bem mais agradável, fruto do tempo que passaram estocadas nos abafados porões dos navios.


Gravura de Alfredo Roque Gameiro (1864-1935) 
mostra o interior de uma nau portuguesa.

A descoberta – acidental, como toda descoberta – mudaria a história do vinho português para sempre. Em particular, do vinho até então quase ordinário que era produzido numa certa ilha portuguesa: a Ilha da Madeira.

Não demorou muito para que os produtores de vinho daquela ilha atlântica, tradicional ponto de parada e abastecimento das naus portuguesas que partiam ou regressavam do oriente, a mais de 600 quilômetros da costa africana, percebessem que o calor dos trópicos, aliado às variações de temperatura, o longo confinamento nas barricas e o chacoalhar constante das naus, eram capazes de operar maravilhas no banal vinho da ilha.

Eles, então, passaram a aumentar a quantidade de barricas a bordo das naus, para que sobrasse mais vinho na volta. Em seguida, passaram a enviar carregamentos fechados de barricas apenas para “amadurecer” o vinho a bordo.

Nascia assim o “Vinho de Roda” (porque “rodava” o mundo), “Vinho de Volta” ou “Torna Viagem”, vendido a preços cada vez mais altos em Portugal, e que acabaria trazendo fama mundial ao vinho da Ilha Madeira – até hoje.


As viagens marítimas aceleravam sobremaneira o processo de envelhecimento do vinho e, graças ao calor intenso dos porões dos navios, davam certo toque de “cozimento” e oxidação ao suco extraído das uvas. Mas custavam um bocado aos comerciantes da ilha, porque eles passaram a ter que ajudar a financiar as viagens.

Foi quando eles começaram a buscar métodos alternativos que trouxessem os mesmos benefícios dos navios ao vinho da Madeira, já então famoso em toda a Europa.

A saída foi reproduzir, em terra firme, as mesmas condições das travessias, sem, obviamente, o balanço do mar.

A princípio, os tonéis foram apenas deixados sob o sol. Não deu certo. Em seguida, dentro de armazéns aquecidos por fogueiras. O resultado também não foi o mesmo. Mas apontou o caminho a seguir: as estufas.


Hoje, o legítimo e renomado vinho da ilha da Madeira passa quatro meses sendo aquecido em estufas, a temperaturas de 45 graus centígrados, e, depois, cerca de dois anos descansando, antes de ser posto à venda – quase o mesmo tempo que passava nos porões das caravelas, servindo como simples lastro para que elas não balançassem tanto.



Fonte:

Autor: Jorge de Souza

jun 5, 2019