quarta-feira, 15 de maio de 2024

ARTES PLÁSTICAS: AS ADOLESCENTES DE BALTHUS, O REI DOS GATOS

 

 
The golden fruit 1956


Quando em 1967 a Tate Galery organizou uma exposição sobre Balthus , pediram ao artista elementos para uma biografia destinada ao catálogo. A resposta do pintor chegou categórica "A melhor maneira de começar é dizer que Balthus é um pintor de quem nada se sabe. E agora vamos ver os quadros".


A lição de Guitarra (1934)

A obra mais polémica de Balthus. Foi apresentada em 1934 numa exposição da Galeria Pierre Loeb em Paris,mas numa sala à parte, um pouco afastada do percurso da galeria. Só reapareceu em público em 1977 na Galeria Pierre Matisse em Nova Iorque. O puritanismo anglo-saxão obrigou o jornalista Tom Hesse a desculpar-se por não poder reproduzi-la , devido à intensidade da sua imagem, para ilustrar o artigo que sobre esta obra escreveu na revista New York. Mais tarde ao rever a obra o jornalista declarou que a Lição de Guitarra, sustentada por um excepcional domínio pictórico, era, sem sombra de dúvida, um dos grandes clássicos do século XX mas teremos de esperar outros tempos mais tolerantes para que volte a aparecer. Em 1984, meio século depois de ter sido exposta pela primeira vez, a obra foi proibida de fazer parte da restrospectiva Balthus no Centre Georges Pompidou e no Museum of Modern Art de Nova Iorque. O organizador da exposição explicou no catálogo a ausência da Lição de Guitarra por motivos que não partilhava inteiramente mas que mostravam até que ponto, cinquenta anos depois de ser pintada, a obra ainda incomodava e perturbava. Felizmente a Lição de Guitarra acabou por reaparecer em 2001 na retrospectiva Balthus no Pallazo Grassi de Veneza.

A sala de estar (1942)

Dizia Balthus: "A melhor maneira de não cair numa segunda infância é nunca ter saido da primeira". Quando tinha catorze anos confessou a um amigo que gostava de ficar sempre criança. O artista via as adolescentes como um simbolo "A beleza da adolescência é mais interessante, encarna o futuro, o ser antes de se tornar em beleza perfeita. Uma mulher já encontrou o seu lugar no mundo, uma adolescente não. O corpo de uma mulher está já completo .O mistério desapareceu".


Teresa a sonhar(1938)

Dias Felizes (1945-46)

Nu com gato (1948-50)

A saída do banho (1957)

Quando se realizou a primeira exposição de Balthus em 1934 estava na moda o surrealismo e o abstraccionismo.Os perturbadores temas do jovem artista , de um erotismo provocador, vieram recriar a pintura , segundo alguns críticos. Segundo Marcel Duchamp um quadro que não choca não vale o esforço. Para este pintor o erotismo era uma coisa muito generalizada em todo o mundo , uma coisa que as pessoas compreendem.

Nu deitado (1945)

Nu a dormir(1980)

Jovens adolescentes sonhadoras exiladas em quartos fechados e nas posturas mais íntimas. O escritor Paul Valéry disse que o amor foi para os escritores e poetas o que o nu foi para Balthus

A saia branca (1937)

A modelo é Antoinette de Waterville, a sua primeira mulher, que recusou tirar o soutien por não querer que os seus seios estivessem expostos num museu. Balthus pintou-a com soutien mas fê-lo tão transparente que se tornou mais sugestivo.

Nu a descansar(1957)

Os mais eminentes escritores da época, de André Gide a Albert Camus debruçaram-se sobre a obra de Balthus e foram unânimes em lhe reconhecer um génio próprio.Quanto Balthus em 1948 produzia o guarda roupa e os cenários para a peça L 'État de Siège , de Camus, nunca era visto sem a companhia das suas jovens modelos que eram o tema fundamental da sua obra.É a sua obsessão pelos mundo da adolescência , feito de momentos de perturbação, de hesitação e de delírio que qualquer adolescente conheceu perante um mundo a conquistar.

Rapariga com espelho (1948)

Quando o acusavam de intenções eróticas e perversas e lhe diziam que as meninas que o tinham tornado célebre não eram apenas as companheiras de Alice no País das Maravilhas mas também Lolitas ordinárias, Balthus, zangado dizia: "Nunca pintei senão anjos, pequenos seres puros e sem idade. Aliás toda a minha pintura é religiosa. " Uma das suas modelos ,Michelina, declarou mais tarde quando já era adulta que Balthus era alguém que conseguia representar o momento da passagem importante da infância para a idade adulta.

A Janela (1933)


Rapariga com gato (1937)

O Sonho (1955)

O quarto (1952-54)

O quarto é um dos quadros mais célebres do pintor. Inspirando-se no Pesadelo de Henry Fuseli (1781) Balthus apresentou nesta obra uma das cenas mais eróticas pintadas pelo artista. O quadro representa uma daqueles adolescentes narcisistas de que ele tanto gostava e que totalmente nua, afasta as pernas para expor o sexo à carícia do sol. Um gnomo afasta a cortina para deixar passar os raios solares. Balthus, citando o seu amigo Picasso dizia que, tal como este pintor, toda a vida se inspirou em obras primas do passado para fazer diferente.

A espera(1995-2001). O último quadro de Balthus

Balthus era católico e acreditava profundamente na oração. Rezar era para ele um modo de sairmos de nós próprios. "Eu não sou Deus mas sou provavelmente uma parte dele e quando rezo tento alcançar a luz, elevar-me. Quando pinto é como uma oração". Pouco antes da sua morte quando o actor Richard Gere, adepto do budismo,o visitou no seu chalet em Rossinière na Suiça perguntou-lhe: "Quem é aquele que pinta as suas orações e tenta alcançar a luz? Balthus então com 92 anos de idade respondeu sem hesitar: "Deus, O homem não pode criar pode apenas inventar. O pintor reza àquele que cria mas eles são parecidos. Talvez o criador pinte aquele que reza. Em definitvo todo o problema consiste em saber quem cria o criador. É uma regressão sem fim. O pintor tenta sair de si mesmo e assim aproximar-se do seu criador. Quando pintamos tentamos esquecer o nosso ego e é nesse momento que sinto a luz que é Deus , e o meu espírito e as minhas mãos são apenas máquinas que escutam. Ouvimos o que temos de fazer."

Auto-retrato de Balthus

A portrait of the King of Cats painted by himself conforme ele próprio escreveu. Balthus tinha uma especial admiração pelos gatos. Os primeiros desenhos que publicou, quando tinha apenas doze anos, foram quarenta imagens destes felinos em memória do seu gato Mitsou que tinha morrido. Como disse, com um certo humor, um amigo do artista, os gatos são autodidactas não se inscrevem na escola de bela -artes. Estudam , obervam e aprendem tudo sozinhos. Balthus mostra bem que pertenceu à família dos gatos. Era um autodidacta. Os pais recusaram-se a mandá-lo para uma escola de pintura. Ele vangloriava-se disso e dizia que era gato desde a infância.

Balthus aos 25 anos de idade

Balthus com Frederico Fellini no seu chalet em Rossinière


O conde Baltasar Michel Klossoviski de Rola, conhecido como Balthus, filho de um historiador de arte e de uma pintora, nasceu em Paris a 29 de Fevereiro de 1908. Casou duas vezers e teve três filhos. Além de pintor, criou cenários, ilustrações e guarda roupa para diversas peças teatrais. Em 1961 André Malraux , ministro da cultura no Governo do General de Gaulle, nomeou Balthus para director da Academia de França em Roma. Apresentado por Jacques Chirac, Balthus recebeu em 1991 o Praemium Imperial atribuido pela Japan Art Association e em 1998 é nomeador Doutor Honoris Causa pelo Universidade de Vroclac. Faleceu na sua casa em Rossinière em 18 de Fevereiro de 2001.

Aprecio muito a obra do artista Balthus o homem que gostaria de ficar sempre criança.



Fontes: 

Balthus de Giles Lerét (adaptado)

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