quinta-feira, 31 de julho de 2025

CITAÇÕES: USE COMO EPÍGRAFE ESTE TEXTO DE ZYGMUNT BAUMAN

 


    “O valor, o mais precioso dos valores humanos, o atributo sine qua non de humanidade, é uma vida de dignidade, não a sobrevivência a qualquer custo. [...] O direito do mais forte, mais astuto, engenhoso ou ardiloso de fazer o possível para sobreviver ao mais fraco e desafortunado é uma das lições mais horripilantes do Holocausto”. 

– Zygmunt Bauman, in “Amor líquido – sobre a fragilidade dos laços humanos”, tradução de Carlos Alberto Medeiros.

segunda-feira, 28 de julho de 2025

CULINÁRIA: PANCS - PLANTAS ALIMENTÍCIAS NÃO CONVENCIONAIS

 


VOCÊ SABE O QUE SÃO PANCS? DESCUBRA AS PLANTINHAS QUE TAMBÉM SÃO ALIMENTOS E VOCÊ NÃO SABIA


As plantas alimentícias pouco convencionais têm ganhado espaço na mesa das pessoas


Plantas Alimentícias Não Convencionais: esse é o significado da sigla PANCs. Como o próprio nome sugere, são plantas que aparentemente não são comestíveis, mas que na verdade escondem um universo de possibilidades na cozinha. Então é possível incluir nesse conceito que as PANCs são plantas ou parte delas que você pode consumir, apesar de não fazerem parte dos seus hábitos. Ou seja: elas não possuem cadeia produtiva estabelecida e, por isso, não vão aparecer nos supermercados facilmente no dia a dia.

É peixe ou planta? Esta hortaliça, quando preparada, 
tem um sabor que lembra o de um peixe frito

De acordo com o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), muitas dessas plantas crescem espontaneamente em qualquer lugar, como aquele matinho ou trepadeira no quintal de casa ou em terrenos baldios. Justamente por isso, elas nem sempre são consideradas uma opção culinária.

Mas a frase “quem vê cara, não vê coração” se encaixa muito bem aqui. Isso porque as PANCs possuem essa aparência de ervas daninhas, mas guardam alto teor de nutrientes e podem ser fonte de renda para produtores, principalmente da agricultura familiar e são bons exemplos de alimento in natura. Somado aos benefícios para a saúde, essas plantas também possuem baixo impacto ambiental. Normalmente, elas possuem um crescimento espontâneo, exigem um cultivo simples, além de serem facilmente adaptáveis a diferentes ambientes. Todos esses fatores influenciam no baixo impacto ambiental. Isso sem falar que, no passado, essas plantas faziam parte da cultura e alimentação local. Sendo assim, seu consumo também é um resgate de costumes regionais. Por esse motivo, são consideradas ambiental e culturalmente responsável.



Pode não parecer, mas as PANCs escondem um universo de possibilidades na cozinha

Conhecendo algumas PANCs

Separamos 5 exemplos de plantas alimentícias não convencionais para quem deseja conhecer um pouco mais do universo das PANCs. Quem sabe você não se surpreende ao reconhecer alguma delas? Todas as informações abaixo foram retiradas do site da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa). O material completo pode ser acessado aqui .

1 – Ora-pro-nóbis


Uma das mais famosas dentre as PANCs, o nome Ora-pro-nóbis significa “rogai por nós” em latim, que em tupi-guarani significa “planta que produz frutos com muitos espinhos finos”. Conhecida como “carne verde” por seu elevado teor de proteína, ela assume uso tradicional muito significativo em algumas regiões de Minas Gerais e Goiás, especialmente nas cidades históricas coloniais.

As PANCs possuem um crescimento espontâneo e de fácil adaptação a diferentes ambientes

2 – Peixinho


A hortaliça leva este nome graças ao formato da folha quando preparada e ao sabor peculiar, que lembra um lambari frito, uma espécie de peixe. No Brasil, o peixinho é cultivado nas regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste em locais de clima ameno, pois não tolera calor excessivo.

3 – Fisális


Essa fruta tem ganhado o espaço entre os confeiteiros. Devido ao seu formato característico, a Fisális virou artigo de decoração de doces e tortas. Ela apresenta uma proteção, em forma de balão, que envolve o fruto, e que se torna seca assim que o fruto amadurece.

4 – Vinagreira

Talvez você esteja consumindo uma PANCs sem saber. 
O famoso chá de hibisco é feito da flor da vinagreira

Da flor da vinagreira é feito o famoso chá de hibisco, que possui um importante efeito diurético e amplamente consumido entre as pessoas. Já as folhas desta planta servem como ingrediente básico do principal prato da culinária maranhense: o arroz de cuxá. Por esse motivo, no Maranhão, a vinagreira ocupa um lugar de destaque na culinária local. Desde 2000, a planta virou Bem Imaterial do Patrimônio Cultural Brasileiro.

5 – Azedinha


O termo azedinha vem de seu sabor ácido, bem característico dessa espécie. Pode substituir o limão nos temperos para salada, por isso também recebe o nome popular de “salada pronta”.


As PANCs possuem essa aparência de ervas daninhas, mas guardam alto teor de nutrientes



FONTE:

Ministério da Saúde

Publicado em 28/04/2022

Atualizado em 24/05/2022

sexta-feira, 25 de julho de 2025

CITAÇÕES: USE COMO EPÍGRAFE ESTES TEXTOS DE YUVAL NOAH HARARI:

 



“A história não é uma narrativa única, mas milhares de narrativas alternativas. Sempre que escolhemos contar uma delas, escolhemos também silenciar outras.” 

– Yuval Noah Harari, in Homo Deus

“As pessoas só se sentem ligadas a eleições democráticas quando compartilham uma ligação básica com a maioria dos eleitores. Se a experiência de outros votantes me é estranha, e se eu acredito que eles não compreendem meus sentimentos e não se importam com meus interesses vitais, então, mesmo se eu perder o voto numa razão de um para cem, não tenho motivos para aceitar o veredicto. Eleições democráticas em geral funcionam somente em populações que têm alguma ligação comum anterior, tal como crenças religiosas e mitos nacionais compartilhados. Elas constituem um método de resolver desacordos entre pessoas que já concordam quanto ao básico.” 

- Yuval Noah Harari, in Homo Deus.

"Em 2000, o cantor israelense Shlomi Shavan chegou ao topo da parada de sucessos com a canção “Arik”, sobre um sujeito que está obcecado pelo ex de sua namorada, chamado Arik. Ele quer saber quem é melhor na cama — ele ou Arik? A namorada se esquiva de responder, dizendo que era diferente com cada um dos dois. O sujeito não fica satisfeito e pede: “Quero números, querida”. Bem, para esse tipo de sujeito, uma companhia chamada Bedpost vende braçadeiras biométricas que podem ser usadas durante a relação sexual. A braçadeira coleta dados como frequência cardíaca, nível de sudorese, duração do coito, duração do orgasmo e o número de calorias queimadas no ato. Os dados alimentam um computador que analisa a informação e classifica o desempenho com números precisos. Não mais falsos orgasmos, nem “Foi bom para você?”. ”

 - Yuval Noah Harari, in Homo Deus.

terça-feira, 22 de julho de 2025

SOCIEDADE: FORMAS DE TORTURA E MORTE - O LINGCHI

 LINGCHI: UM DOS MÉTODOS DE EXECUÇÃO MAIS SINISTROS JÁ CRIADOS PELO HOMEM



No que diz respeito a inventar formas de provocar e prolongar o sofrimento alheio, a humanidade pode ser incrivelmente criativa. Ao longo da História, o homem desenvolveu os mais horripilantes métodos de tortura e execução.

Vamos contar um pouco sobre o Lingchi, um tipo de punição capital que surgiu na China durante a Dinastia Tang (que durou de 618 a 907) e, pasme, se manteve em uso até o finalzinho da Qing — que se estendeu de 1644 até 1912. Isso significa que o castigo foi empregado até, bem dizer, o outro dia! Mas, e que método seria esse? Bem, a tradução do nome significa “morte por mil cortes”, então você já pode ir imaginando no que a coisa toda consistia.

Brutal


De acordo com Krissy Howard, do site All That Is Interesting, a punição — basicamente — começava com prender o castigado em um tronco e ir fatiando sua pele pouco a pouco. A ideia era aplicar a maior quantidade de cortes possível antes que a pessoa acabasse perdendo a consciência ou sucumbindo aos ferimentos.

Castigo sangrento

Segundo Krissy, geralmente os cortes começavam pelo peito, onde a pele e os músculos eram meticulosamente removidos até que as costelas ficassem praticamente expostas. Depois, o “açougueiro” prosseguia para os braços — cortando bons pedaços de carne fora — e, por último, o foco passava a ser as coxas do infeliz sendo executado.

É óbvio que a coisa toda, além de brutal e incrivelmente dolorosa, era um macabro banho de sangue, e os condenados raramente sobreviviam até que os algozes começassem a fatiar as pernas. Mas, o castigo não terminava por aí. Depois que a pessoa morria, seu corpo era decapitado e desmembrado, e seus braços e suas pernas eram colocados em um cesto. O motivo? O confucionismo reprovava esse tipo de prática.

Castigo excruciante

O Lingchi não era um castigo aplicado por qualquer motivo. Ele era imposto àqueles que cometiam os piores crimes — segundo a cultura chinesa —, como matar os próprios pais, realizar atos de traição e assassinatos em massa. No entanto, podia acontecer de pessoas condenadas por outras infrações também serem sentenciadas à “morte por mil cortes”.

Muita crueldade

De qualquer forma, não havia uma lei específica que determinasse como o Lingchi deveria ser aplicado, portanto a duração e o grau de crueldade variavam bastante. Conforme contou Krissy, existem relatos de condenados que foram executados em menos de 15 minutos, assim como de casos em que os carrascos tomaram cuidado para que o castigado permanecesse vivo pelo maior tempo possível — e registros de pessoas que suportaram várias horas de tortura e receberam mais de 3 mil cortes.

É evidente que a duração e brutalidade do castigo dependiam de fatores como a habilidade do algoz e do crime cometido. Além disso, podia acontecer de a família do acusado pagar para que ele tivesse uma morte rápida — se possível, já no primeiro corte — ou de, no caso de condenações por crimes menos graves, os próprios carrascos sentirem pena do executado.

(Morte por mil cortes de Fou Tchou-Li)

Pois, apesar de o Lingchi soar como um daqueles métodos de tortura usados na Antiguidade ou, no máximo, durante a Idade Média, essa forma de punição foi utilizada até o ano de 1905, quando ela foi finalmente banida. Inclusive existem imagens da última execução levada a cabo em Pequim (imagem acima). Ela foi aplicada a um homem chamado Fou Tchou-Li, acusado de assassinar seu mestre, um príncipe mongol. Para o azar do infeliz, esse método foi banido apenas duas semanas depois.


Fonte:

Autora: Maria Luciana Rincón





sábado, 19 de julho de 2025

CITAÇÕES: USE COMO EPÍGRAFE ESTE TEXTO DE ALEXANDRE DUMAS



"Brincamos de mentir, de mentir para nós mesmos, de ser o que não podemos ser e porque nos cansamos de ser o que não somos. Brincamos de não nos conhecermos e porque não nos conhecemos o suficiente. Fazemo-nos de heróis porque somos covardes e de santos porque somos maus. Fazemo-nos de assassinos porque estamos morrendo de vontade de matar o vizinho, fingimos que somos mentirosos de nascença. Fingimos que amamos a verdade e que a odiamos. Fingimos porque ficaríamos loucos se não fingíssemos. Fingir! Será que eu mesmo sei quando estou representando? Será que há um momento de parar?"

– Alexandre Dumas, in Kean, ou Disorder and Genius.

domingo, 13 de julho de 2025

FRUTA: PINDAÍBA

 

Pindaíba

Duguetia lanceolata


Nomes populares: Pindaúva, Pindaiva, Pindaíba, Pindauva, Perovana.
Família:Annonaceae

A pindaíba é fruta da família das Anonáceas e, portanto, é também parente dos araticuns, da pinha, do biribá, da graviola e da pimenta-de-macaco.
Com este mesmo nome - pindaíba -, são conhecidos, no Brasil, tipos bastante diferentes de plantas dessa família botânica. Além da pindaíba aqui apresentada, cujo nome científico é Duguetia lanceolata, várias outras p antas brasileiras da mesma família são popularmente denominadas como pindaíbas.



No entanto, os frutos da pindaíba vermelha, da pindaíba reta, da pindaíbado-brejo e da pindaíba d?água, por exemplo, não apresentam a forma de "pinhas", lembrando mais o formato dos frutos da pimenta-de-macaco.

Ao contrário, esta pindaíba constitui-se em fruto de forma e tamanho semelhantes aos da própria ata, pinha ou fruta-do-conde, a Anona squamosa. Seus frutos, que guardam a aparência externa característica daqueles, no entanto, não se confundem.


Também quem já viu a árvore alta e esbelta da pindaíba sabe que trata-se de espécie distinta.

A pindaíba é fruta de aparência rústica, muito bonita e especial: à medida que vai amadurecendo, sua coloração verde adquire matizes de vermelho, até ficar completamente tomada por uma cor de sangue, violácea.

Conta-se que, no interior de São Paulo, os frutos da pindaíba davam água na boca às crianças que esperavam, ansiosamente, a volta dos adultos, pais e parentes, das incursões nos matos de onde os traziam.



Isto porque quem já chupou a polpa róseo-averme lhada que envolve suas sementes conta que, muitas vezes, ela é mais saborosa do que a própria pinha comum, embora bem mais fina e pouco volumosa.

Presume-se que a origem da expressão "estar na pindaíba" esteja, talvez, ligada ao fato da polpa da fruta ser muito fina e sem substância: diz-se de uma pessoa que ela "está na pindaíba" quando ela se encontra tão sem recursos que não tem outra alternativa senão alimentar-se dos frutosda pindaíba, mesmo sabendo que esta lhe oferecerá pouco alimento.

pimenta-de-macaco, também conhecida como pindaíba

Natural das regiões Centro-Oeste, Sul e Sudeste do Brasil onde era muito comum, a pindaíba ocorre principalmente nas florestas de altitude e na mata pluvial atlântico, assim como suas parentes homônimas.
No entanto, cada vez menos frequente nessas matas, a pindaíba é, hoje, uma bela delícia vermelha que está se acabando.

pindaiba-preta

Fonte:





sexta-feira, 11 de julho de 2025

CITAÇÕES: USE COMO EPÍGRAFE ESTES TEXTOS DE MARC BLOCH

 

“A vida é muito breve, os conhecimentos a adquirir muito longos para permitir, até para o mais belo gênio, uma experiência total da humanidade”. 

 “O passado é, por definição, um dado que nada mais modificará. Mas o conhecimento do passado é uma coisa em progresso, que incessantemente se transforma e aperfeiçoa”. 

– Marc Bloch, in Apologia da História ou o Ofício do Historiador; Rio de Janeiro, Jorge Zahar Editor, 2001; tradução de André Telles.

segunda-feira, 7 de julho de 2025

AILUROFILIA - PAIXÃO POR GATOS: CHARLES BUKOWSKI

 BUKOWSKI, UM VELHO SAFADO APAIXONADO POR GATOS

“A verdade é que é sempre bom ter um bando de gatos ao meu redor” 
(Acervo: Charles Bukowski)


Nos últimos anos, vi diversas fotos do escritor estadunidense Charles Bukowski segurando gatos ou rodeado por eles enquanto trabalhava. No entanto, foi somente no início de 2016 que tive certeza do quanto o mais famoso dirty old man da história da literatura norte-americana era apaixonado por gatos.

A confirmação veio com o lançamento da obra póstuma “On Cats”, um livro de 128 páginas, publicado nos Estados Unidos pela Editora Ecco Press em dezembro de 2015, que reúne as mais profundas impressões poéticas e reflexões de Bukowski sobre gatos e o mundo dos felinos.


Uma perspectiva áspera e transversalmente bucólica e terna sobre a relação entre humanos e gatos é o que os leitores vão encontrar no livro. Para Charles Bukowski, nenhum outro animal é tão inescrutável quanto um gato com sua essência elementar e augusta. Forças únicas da natureza, emissários evasivos da beleza do amor, interpretava o último escritor maldito da literatura norte-americana.


É justo dizer que “On Cats” é uma viagem pela resistência e resiliência felina; uma obra que apresenta os gatos como combatentes, caçadores e sobreviventes divididos entre o temor e o respeito. Os felinos de Bukowski eram ferozes e exigentes, chegando a se esfregarem, ensandecidos, por suas páginas datilografadas. Não se importavam em acordá-lo roçando garras em seu rosto, e isso era mais um alento do que um quezilento. Também eram afetuosos, maviosos e muitas vezes o ajudaram a reencontrar a inspiração.

O jornalista e biógrafo britânico Howard Sounes, estudioso do trabalho do escritor estadunidense, revelou que Charles Bukowski ficou mais emotivo na velhice. “Os gatos realmente foram os únicos que conseguiram torná-lo um homem sentimental. Quando ele conseguiu um bom dinheiro, começou a levar uma vida suburbana com sua esposa Linda Lee e um monte de gatos”, confidenciou.


Segundo Bukowski, gatos são inigualáveis porque respondem somente a si mesmos, seres sui generis que não se deixam levar. Cômico e enternecedor, pungente e isento de pieguices, o livro é um retrato iluminado sobre a perspectiva do homem que considerava seus gatos como seus grandes professores nos seus últimos anos. O que também justifica porque o escritor dizia tanto que na próxima vida não queria ser nada além de um gato.

“Eu poderia dormir por 20 horas, ficar sentado e lamber minha própria bunda, esperando para ser alimentado. A verdade é que é sempre bom ter um bando de gatos ao meu redor”, repetia Bukowski à exaustão até o dia 9 de março de 1994, quando faleceu aos 73 anos, deixando um legado de seis romances, mais de 50 coleções de poemas e muitos contos e crônicas.


“Quando estiver se sentindo mal, observe os gatos. Eles farão você se sentir melhor. Eles sabem tudo sobre a vida, tal como ela é. Eles apenas sabem, são salvadores. Quanto mais gatos você tem, mais você vive. Se você tiver uma centena de gatos, acredite, você vai viver dez vezes mais do que se tivesse dez. Algum dia as pessoas vão descobrir isso e teremos um mundo com pessoas criando milhares de gatos. Elas viverão para sempre e isso será ridículo”, escreveu, sem deixar de satirizar, uma de suas características mais proeminentes.


Saiba Mais

O livro “On Cats” pode ser comprado na Amazon.



Autor: David Arioch S.A. Barcelos

25 de novembro de 2018

sexta-feira, 4 de julho de 2025

terça-feira, 1 de julho de 2025

CIDADES: SÃO PAULO - A GARÇONNIÈRE DE OSWALD DE ANDRADE

 A garçonnière de Oswald de Andrade

O escritor Oswald de Andrade

Em uma cidade de ritmo frenético e mudanças constantes como São Paulo, é corriqueiro o desaparecimento de locais marcantes de nosso passado, seja com a demolição de construções antigas ou simplesmente o desaparecimento de registros documentais. Alguns desses endereços mencionados em livros, crônicas de jornal ou mesmo em trocas de correspondência entre intelectuais parecem tão especiais que muitas vezes parecem ser fictícios

Espaços estes onde figuras de nosso cenário cultural do início do século passado, como Oswald de Andrade, Mário de Andrade, Monteiro Lobato e tantos outros reuniam-se com seus amigos para conversar, debater ideias, beber e até paquerar.

Ao menos dois dos escritores citados no parágrafo anterior tiveram em São Paulo seus “cantinhos” especiais e ambos eram dados como perdidos para sempre, mas resistem até os dias atuais. Monteiro Lobato com o seu famoso Minarete, no bairro paulistano do Belenzinho, zona leste da capital, e Oswald de Andrade com sua garçonniére na região central da cidade.

Leitores habituais de Oswald de Andrade (*1890 +1954) em algum momento já se deparam com a história da garçonniére onde ele se entregava aos prazeres da carne com uma garota chamada Daisy, natural de Cravinhos, no interior paulista, e estudante da Escola Normal. Apesar disso o espaço não era apenas dedicado à luxúria, mas também para encontros entre intelectuais da época. A única diferença é que quando estavam lá para algo mais íntimo, Oswald e Miss Cyclone, como era conhecida a estudante, deixavam uma bandeira vermelha junto à porta para não serem incomodados.

Também chamado pelo célebre escritor paulista como “covil da rua Líbero” o apartamento funcionou como ponto de encontro entre os anos de 1917 e 1918 e é considerado por estudiosos como um dos berços do modernismo brasileiro. Dado como desaparecido por décadas o apartamento foi reencontrado pelo historiador paulistano José Roberto Walker. E você pode, se quiser, ao menos passar em frente, admirar e tirar fotos desse precioso local.

Construído na alvorada do século 20, o pequeno edifício localizado no número 452 da rua Líbero Badaró é o prédio onde funcionou a lendária garçonniére de Oswald de Andrade. Trata-se de um imóvel originalmente residencial, com 9 apartamentos distribuídos em três andares. A famosa unidade não tem vista para a rua, fica no fundo e fica no último andar.

Edifício localizado no número 452 da rua Líbero Badaró 
foi entre 1917 e 1918 a famosa garçonnière de Oswald de Andrade

Pequeno e discreto o prédio provavelmente era mais badalado na época em que Oswald de Andrade o ocupou. Afinal dois de seus vizinhos, o Edifício Martinelli ainda nem estava nos planos e o primeiro arranha-céu de São Paulo, o Edifício Sampaio Moreira, só seria construído em 1924.

O prédio que abrigou a garçonniére foi projetado para ser residencial com pontos comerciais no térreo. Com o passar dos anos sofreu adaptações e passou a ser basicamente de uso comercial, sendo conhecido por abrigar diversos consultórios de médicos e dentistas, além de advogados e despachantes. De um único proprietário foi sempre bem cuidado e não sofreu deterioração, embora tenha ficado fechado por longos anos.

Tombado como patrimônio histórico de São Paulo o edifício, que jamais teve um nome, deveria de receber o nome de Miss Cyclone ou algo que remetesse a essa tão importante história da cidade. Fica a sugestão.




Autor:

Douglas Nascimento

20/05/2025

https://saopauloantiga.com.br/a-garconniere-de-oswald-de-andrade/